NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte
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Richard Zenith, <strong>na</strong> Introdução : “ Pessoa<br />
inventou o Livro do desassossego, que nunca<br />
existiu, propriamente falando, e que nunca<br />
poderá existir. O que temos aqui não é um livro<br />
mas a sua subversão ou negação, o livro em<br />
potência, o livro em ple<strong>na</strong> ruí<strong>na</strong>, o livro-sonho,<br />
o livro-desespero, o antilivro, além de qualquer<br />
literatura. O que temos nestas pági<strong>na</strong>s é o génio<br />
de Pessoa no seu auge.” É o livro virtual, digo<br />
eu. O livro que cada vez que o abrimos se faz,<br />
refaz e desfaz <strong>na</strong>s intermináveis possíveis<br />
leituras.<br />
Fer<strong>na</strong>ndo Pessoa, trecho 148 do próprio livro :<br />
“Tudo quanto o homem expõe ou exprime é<br />
uma nota à margem de um texto apagado de<br />
todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota,<br />
tiramos o sentido que havia de ser o do texto;<br />
mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos<br />
possíveis são muitos.”<br />
E as possíveis ligações, pontes,<br />
correspondências, ( links ) são estruturalmente<br />
infinitas e imprevisíveis. É o hipertexto anteinformático,<br />
premonitório, alertando-nos talvez<br />
para a possibilidade de uma credível literatura<br />
hipertextual?<br />
PENSAR é o último grande ensaio de Vergílio<br />
Ferreira publicado em 1992, antes da sua morte.<br />
São 374 pági<strong>na</strong>s contendo 677 fragmentos,<br />
orde<strong>na</strong>dos sem um critério óbvio. Trata-se de<br />
pensar sobre o pensável e o impensável, o<br />
sensível e o insensível, o escrito e o não escrito.<br />
“A arte inscreve no coração do homem o que a<br />
vida lhe revelou sem ele saber como e o filósofo<br />
transpõe a notícia ao cérebro <strong>na</strong> obsessiva e<br />
doce mania de querer ter razão.” Diz Ve rgílio<br />
Ferreira. Por isso não admira que a maior parte<br />
dos fragmentos possam ser considerados como<br />
metapoemas em prosa. Será o pensar que<br />
produz o próprio pensar e ao mesmo tempo a<br />
consciência de se percorrer um caminho que a<br />
própria consciência abre? Caminho que em<br />
fragmentos se tece e destece. Não porque “a<br />
organização num todo não seja possível, mas<br />
porque hoje a acidentalidade de tudo, a<br />
instabilidade, a circunstancialidade veloz, a<br />
negatividade voraz, recusam a aparência do<br />
definitivo, no variável e instantâneo do passar.”<br />
( Vergílio Ferreira ).<br />
Estaremos assim a juntar elementos para uma<br />
teoria da hiperliteratura ?<br />
3. Hiper - o que é hiper ?<br />
Num texto teórico de 1975 ( ainda no período<br />
revolucionário após o 25 de Abril de 1974 ) e<br />
publicado no meu livro DIALÉCTICA <strong>DA</strong>S<br />
VANGUAR<strong>DA</strong>S, propus um conceito estético de<br />
interpretação da poesia experimental portuguesa<br />
a que chamei de Hiperbarroco, como sendo “a<br />
manifestação criativo-dinâmica de um mundo<br />
em transformação, em que os valores fixos<br />
vacilam e caem, as formas se multiplicam <strong>na</strong>s<br />
suas particularidades… e os materiais se<br />
valorizam como definidores do espaço e do<br />
tempo em relações probabilísticas abertas”.<br />
Mas operar com o difícil conceito de Barroco<br />
que para a Poesia Experimental portuguesa é<br />
semi<strong>na</strong>l, implica uma dupla e difícil operação<br />
crítica:<br />
Primeiro : uma descontextualização política e<br />
histórica em relação aos séculos XVI e XVII<br />
Segundo : uma recontextualização processual e<br />
estética em relação à segunda metade do século<br />
XX<br />
De tal idéia de barroco se guardará ape<strong>na</strong>s o<br />
que for pertinente para a metodologia crítica das<br />
relações explícitas e sublimi<strong>na</strong>res entre as obras<br />
e os seus utentes e fruidores, indo até à<br />
interacção entre eles, possibilitando mesmo a<br />
transformação da própria obra pelo fruidorutente,<br />
num processo sem fim. Os conhecidos<br />
estilemas barrocos, como o excesso, a<br />
ambiguidade, o labirinto, a agudeza, o engenho<br />
e a visualidade, sofrem uma complexificação<br />
no sentido da sincronia, simultaneidade e<br />
sinestesia, e também de <strong>na</strong>tureza estocástica,<br />
casual e caótica configurando uma<br />
epistemologia deslizante e contraditória. A ideia<br />
de Hiperbarroco ( que é anterior ao Neobarroco<br />
de Omar Calabrese, 1987 ) contem assim uma<br />
suprelativação dos fatores operacio<strong>na</strong>is do texto<br />
barroco transpondo-os agora para o novo<br />
contexto da produção textual computadorizada,<br />
com toda a sua plasticidade transformativa, de<br />
fragmentação e de interelacio<strong>na</strong>mento pontual<br />
ou nodal ( linkagem ).<br />
Uma ideia que desejo propor neste artigo é que<br />
através do prefixo HIPER se manifesta uma<br />
ligação (link) entre os conceitos de “hipertexto”<br />
e de “hiperbarroco” permitindo teoricamente a<br />
transferência da estética literária e visual do<br />
barroco ( antecedente histórico de toda a poesia<br />
experimental ) para uma nova categoria literária<br />
tecnológica hipertextual, que está ainda ape<strong>na</strong>s<br />
iniciando e a que falta <strong>na</strong>turalmente um lastro<br />
teórico e estético. Isto porque em ambos os<br />
casos se trata de algo mais do que barroco e do<br />
que texto, mas em ambos os casos é de uma<br />
leitura aberta e não lin<strong>ea</strong>r que se trata. Ao<br />
mesmo tempo as relações polissémicas se<br />
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Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL