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NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte

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<strong>na</strong> construção de uma caba<strong>na</strong>, esta com a função<br />

de proteger das intempéries e as imagens com<br />

uma função de proteger do desconhecido,<br />

portanto com propriedades de <strong>na</strong>tureza<br />

mística/mágica [2].<br />

Não se trata, nesta comunicação, de rever, do<br />

ponto de vista da História da <strong>Arte</strong>, as<br />

importâncias ou as datas do aparecimento de<br />

determi<strong>na</strong>da obra ou conjunto de obras. As<br />

referências serão feitas às obras com o objectivo<br />

de esclarecer o ponto que aqui se procura<br />

acolher.<br />

A arte é <strong>na</strong> r<strong>ea</strong>lidade um produto da liberdade<br />

huma<strong>na</strong>, não vista como uma carência do<br />

instinto face à necessidade, mas uma liberdade<br />

primordial, desprovida de intenção, onde se<br />

procuram as causas e tentam prever as<br />

consequências.<br />

A <strong>IMAGEM</strong> DESCRITIVA –<br />

PERSPECTIVA HUMANISTA<br />

Ao falar de arte, do ponto de vista da sua<br />

história estamos obrigatoriamente a falar de<br />

uma arqueologia do visual. Todas as culturas<br />

visuais sempre tiveram o seu modo próprio de<br />

“deslocar” o espaço circundante, visível, para<br />

uma superfície pla<strong>na</strong> – dos hieróglifos Egípcios<br />

ás estampas Japonesas – onde o modo de<br />

representação se tornou quase uma ciência,<br />

segundo Debray, “Representar es hacer lo<br />

ausente. Por lo tanto, no es simplemente evocar<br />

sino reemplazar. Como si la imagen estuviera<br />

ahí para cubrir u<strong>na</strong> carencia, aliviar u<strong>na</strong> pe<strong>na</strong>.”<br />

[3], e é precisamente aqui no “substituir”mais<br />

do que no “evocar” que assenta a maior parte da<br />

iconografia [4] da idade média [5].<br />

Devido à grande força exercida pelo<br />

desconhecido, a religião foi o centro da<br />

produção das imagens, que se estendeu a todas<br />

as ár<strong>ea</strong>s do conhecimento. Esta grande expansão<br />

da religião, que se alargou a todas as artes, foi<br />

origi<strong>na</strong>r uma grande produção de documentos<br />

que necessitavam da imagem. A tecnologia da<br />

altura ape<strong>na</strong>s permitia o códice de pergaminho<br />

que possibilitava a ilustração – iluminura [6]. A<br />

presença de imagens nos livros litúrgicos<br />

aparece por volta do séc. VII. Este género de<br />

livros ilustra a vida de Cristo, representando as<br />

figuras dos santos e os retratos dos evangelistas.<br />

Estas imagens tinham várias funções, sendo que<br />

a mais importante era a de venerar a Deus pela<br />

sua bondade assim como estruturava a corte,<br />

segundo uma ordem litúrgica não só do ponto<br />

de vista político como social. Muitos desses<br />

livros eram bastante decoradas não só a nível de<br />

imagens, mas as próprias encader<strong>na</strong>ções por<br />

vezes aparecem em marfim ou mesmo feitas por<br />

ourives, sublinhando o facto de que a liturgia<br />

era um momento importante onde estes objectos,<br />

requintados, acabariam por remeter para a<br />

própria glória de Deus. Naturalmente que esta<br />

forma de <strong>na</strong>rrar, através da iluminura,<br />

reconduzia a imagem para um campo onde só o<br />

estritamente relevante teria lugar. As representações<br />

que expressassem as ideias com maior<br />

simplicidade e clareza do tema tratado<br />

ganhavam espaço às representações em detalhe<br />

(sendo que um dos princípios mais difíceis de<br />

atingir em todas as obras de todas as artes se<br />

encontra precisamente neste pressuposto que<br />

d<strong>ea</strong>mbula entre: a clareza e a simplicidade).<br />

No entanto, devido às evoluções operadas [7]<br />

<strong>na</strong>s mentes inquietas dos artistas, que não se<br />

contentavam unicamente com o detalhe dos<br />

elementos representados a partir da observação<br />

da <strong>na</strong>tureza – animais ou vegetais; eles<br />

começam a ficar mais interessados em perceber<br />

as leis da visão, da representação do espaço e<br />

consequente o conhecimento do corpo humano.<br />

Diz H. W. Janson (1977) que “o Re<strong>na</strong>scimento<br />

começou quando os homens se aperceberam de<br />

que já não viviam <strong>na</strong> Idade Média”[8], e o que é<br />

facto é que agora e pela primeira vez <strong>na</strong> história<br />

da humanidade o homem tem a consciência da<br />

sua própria exis tência e como tal tem<br />

discernimento suficiente para avaliar a história,<br />

situação totalmente diferente do que acontecia<br />

até então, <strong>na</strong> medida em que tudo era olhado<br />

como sendo uma continuidade [9]. Confiança e<br />

esperança eram o lema do Homem, sobretudo<br />

em Itália, do sec. XIV, pois acreditava que a<br />

arte, a ciência e a sabedoria que haviam<br />

florescido no período clássico poderia agora ser<br />

recuperado e suplantado por uma nova era. Daí<br />

o termo Re<strong>na</strong>scer, que dá todo o mote ao Re<strong>na</strong>scimento.<br />

Não obstante a cultura clássica Greco-<br />

Roma<strong>na</strong> ter tido um papel fundamental no<br />

desenvolvimento das mentalidades da época,<br />

não se pode dizer que o Re<strong>na</strong>scimento se deve<br />

exclusivamente a essas culturas, pelo contrário,<br />

segundo E. H. Gombrich (1995), “We can see<br />

cl<strong>ea</strong>rly, in fact, that by this time Do<strong>na</strong>tello, like<br />

his friend Brunelleschi, had begun a systematic<br />

study of Roman remains to help him bring about<br />

the rebirth of art. It is quite wrong, however, to<br />

imagine that this study of Greek and Roman art<br />

caused the rebirth or `Re<strong>na</strong>issance'. Almost the<br />

opposite is true. The artists round Brunelleschi<br />

longed so passio<strong>na</strong>tely for a revival of art that<br />

they turned to <strong>na</strong>ture, to science and to the<br />

remains of antiquity to r<strong>ea</strong>lize their new aims.”<br />

[10]. Na r<strong>ea</strong>lidade, as obras desenvolvidas<br />

durante o período do re<strong>na</strong>scimento acabam por<br />

reflectir de uma forma positiva todas estas<br />

intenções. Adoptando todo o humanismo da<br />

20<br />

Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL

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