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NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte

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(zunehmende Bildwerdung der Wirklichkeit), que contém «drásticos potenciais anestéticos» (Welsch<br />

1993: 15), esta opção de Nono / Cacciari (1987), para além de contrariar o vazio da experiência da escuta,<br />

corresponderia, pois, a uma recusa radical deste «mundo de imagens» que se tornou «in-significante».<br />

Uma máxima de Paul Klee a respeito da pintura, citada por Welsch (1993: 39), resume a questão: não<br />

reproduzir o visível, mas sim — neste caso, somente por meio de sons e da escuta — tor<strong>na</strong>r visível e<br />

audível. Assim, como observa Welsch (1993: 17ss.), a anestética também podia funcio<strong>na</strong>r como<br />

«salvação» da estética, no sentido de uma estética que se transformasse numa «escola da alteridade» —<br />

«bas<strong>ea</strong>da <strong>na</strong> divergência e heterogeneidade», «contra o continuum do comunicável e contra o delicioso<br />

consumo» (die schöne Konsumption) (ibid.: 39). Numa obra como Prometeo, a anestética define<br />

precisamente este momento de «fazer explodir» (aufsprengen) o «continuum do comunicável» 8 , para que<br />

a verdadeira comunicação — a estética — volte a ser possível:<br />

Pur vedendo non vedeno<br />

Pur udendo non udivano<br />

Gli uomini —<br />

Effimeri. 9<br />

Acresce que a «objectivação da subjectividade dinâmica», que marca toda a obra de Nono e engloba o<br />

papel activo dos executantes no processo criativo (um aspecto que Nono jamais negligenciou), emerge<br />

com crescente relevância desde a sua viragem para a live electronics. Uma tal viragem reconduzia -se,<br />

porém, à transformação ou ao mutamento daquilo que Nono já procurara alcançar <strong>na</strong>s suas composições<br />

anteriores com banda magnética. Na verdade, tinha desenvolvido com Marino Zuccheri, no Studio di<br />

Fonologia de Milão, «uma técnica acústica nova para a reprodução da fita magnética» que visava evitar<br />

«o estatismo da difusão sonora a partir de diferentes fontes mecânicas e a possibilidade de alcançar uma<br />

mobilidade permanente de quatro, oito ou doze fitas magnéticas». Desse modo, pretendia ir além da mera<br />

«continuação electrónica dos cori spezzati», pois que a gravação em fita magnética «deixava de ser algo<br />

de definitivo» e os intérpretes passavam a «poder mudar constantemente a sua direcção sonora,<br />

intensidade, etc.» (Nono 1970: 247). Contudo, enquanto nos anos sessenta e setenta ainda eram raras as<br />

obras que compreendiam simultan<strong>ea</strong>mente banda magnética e execução ao vivo como La fabbrica<br />

illumi<strong>na</strong>ta (1964) ou .....sofferte onde serene... (1976), <strong>na</strong>s quais todo o material sonoro resultava da<br />

pesquisa comum de compositor e executantes, já nos anos oitenta esta forma de diálogo criativo — aliás<br />

extensiva, numa dimensão essencial, aos técnicos de som — se tor<strong>na</strong> em regra. O compositor deixa, mais<br />

do que nunca, o isolamento do seu gabinete para trabalhar com técnicos e executantes no estúdio<br />

electrónico. Tanto no momento da concepção como no da execução, a tecnologia do som não visa, pois,<br />

aqui efeitos sonoros virtualmente imutáveis ou auto-gerados segundo uma lógica de autopoiesis, mas<br />

antes a intensificação da dialéctica sujeito-objecto: novas possibilidades de objectivação musical da<br />

subjectividade dinâmica (dir-se-ia, retomando Adorno). O progresso tecnológico <strong>na</strong> produção e difusão<br />

sonora é testado <strong>na</strong> sua qualidade huma<strong>na</strong> como instrumento de liberdade criativa: «invenção de novos<br />

mundos», «provocação de inovadora sapiência», por contínuas «demonstração-confrontos-análises», pelo<br />

«esplendor qualitativo de novas auroras», pela «experimentação», a «surpresa» da descoberta — magici<br />

‘pensieri’ sull’infinito del mare — assim se traduzia, por exemplo, o entusiasmo de Nono pela<br />

criatividade de Roberto Fabbriciani (flauta) no estúdio da Fundação Heinrich Strobel em Freiburg, usando<br />

o microfone «como novo instrumento de sopro» (Nono 1983a). Se Nono sempre insistira em «formas de<br />

expressão», por oposição ao «jogo formal ou divertimento como fim em si» (Nono 1960: 124s.), e num<br />

conceito de técnica que acentuava o «lado passivo» desta, por oposição ao seu pretenso papel como<br />

«motor da história social», então bem pode dizer-se que as novas tecnologias da live electronics<br />

permitiam ao compositor aprofundar ainda mais a posição singular — empenhada e crítica — que já<br />

assumira nos meios altamente «tecnicizados» da vanguarda ou da Nova Música e continuar a demarcar-se<br />

claramente da «ideologia de l’art pour l’art» (Nono 1960: 125; Pestalozza 1987: 145). Não admira, por<br />

8 É óbvia a referência implícita ao aufgesprengtes Kontinuum de Benjamin (cf. Vieira de Carvalho 1996a).<br />

9 Fragmento do texto de Prometeo, de Nono, extraído de Prometeu agrilhoado, de Ésquilo (segundo episódio, versos<br />

549-551) — cf. Nono (1983b).<br />

4<br />

Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL

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