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NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte

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elementos transportáveis, móveis), acaba por<br />

proporcio<strong>na</strong>r uma mudança no seu âmago<br />

tor<strong>na</strong>ndo-se desse modo prisioneira da<br />

aparência.<br />

Portanto, entre o séc. XV e o séc. XIX,<br />

assistimos a uma estetização da imagem,<br />

período que marca a aparição da colecção<br />

particular, protagonizada pelos Humanistas, e a<br />

aparição das colecções públicas, onde o grande<br />

público passa a usufruir da obra de arte.<br />

Esta transformação vai r<strong>ea</strong>lmente ser a<br />

primeira a ter impacto <strong>na</strong> imagem tal qual hoje a<br />

conhecemos. Pela primeira vez temos a imagem<br />

como objecto. Esta manifesta aquisição por<br />

parte da nova forma, o quadro, deve em grande<br />

medida a sua competência à transformação<br />

operada por Gutenberg, que permitiu a passagem<br />

da madeira, xilogravura, à estampa gravada<br />

nos metais e facilmente reprodutível em série<br />

(inclusive, os pintores nessa época, e com o<br />

intuito de fazerem as sua obras chegar a todo o<br />

Ocidente como modo de divulgação e<br />

estimulação de vendas, faziam gravuras dos<br />

seus próprios quadros. A gravura em metal que<br />

se usava <strong>na</strong> época – tecnicamente desig<strong>na</strong>da por<br />

gravura em talhe doce, processo de gravar em<br />

que os sulcos são feitos a buril sobre chapa<br />

metálica – acaba por ser a grande propulsora de<br />

um aspecto relevante no desenvolvimento da<br />

imagem, a ilustração. E é precisamente aqui que<br />

se desenvolvem a um ritmo mais acelerado,<br />

inclusivamente, as ciências ditas descritivas tais<br />

quais, a geometria, a botânica e a cosmografia.<br />

Estamos <strong>na</strong> presença do livro em série e o<br />

quadro não consegue combater nem a<br />

mobilidade nem o preço que este atinge, o que<br />

faz com que o livro passe então a ser um grande<br />

veículo de influência, não só de estilos como de<br />

plágios, <strong>na</strong> r<strong>ea</strong>lidade um grande meio de<br />

intercâmbio.<br />

Devemos concluir que o primeiro meio<br />

altamente responsável pela globalização visual<br />

foi sem dúvida a gravura associada à imprensa.<br />

Ora, não nos podemos esquecer que a<br />

segunda metade do séc. XVIII (que ficou<br />

conhecido pelo Século das Luzes, devido<br />

sobretudo ao aparecimento de uma corrente<br />

filosófica, o Iluminismo [16] – fez-se notar<br />

essencialmente em França, embora tendo tido a<br />

sua origem <strong>na</strong> Inglaterra e <strong>na</strong> Holanda.)<br />

caracteriza-se essencialmente pela confiança,<br />

por princípio, depositada <strong>na</strong> Razão, Liberdade e<br />

Progresso, onde o desenvolvimento das ciências<br />

se colocou como condição para alcançar a<br />

felicidade huma<strong>na</strong>. Ao assentar nestes<br />

princípios as bases do desenvolvimento, os<br />

pensadores/filósofos pensaram reformar toda a<br />

sociedade e operou-se uma profunda alteração<br />

quer <strong>na</strong> cultura quer <strong>na</strong> mentalidade da época,<br />

pois se até então estávamos debaixo de um<br />

determinismo religioso, passou-se para um<br />

individualismo ostensivo [17]. Os artistas começam,<br />

de uma forma conscienciosa, a pensar nos<br />

métodos de produção da obra e a tecer escritos<br />

com o objectivo de explicar os seus<br />

pressupostos em relação quer à composição, ao<br />

tema e à forma de encontrar o belo [18]. O caso<br />

mais notório, do ponto de vista da tentativa do<br />

encontro da razão através de um método [19],<br />

encontra-se em Inglaterra <strong>na</strong> figura de Sir<br />

Joshua Reynolds (1723-92), que foi o primeiro<br />

presidente da Royal Academy of Art – 1769<br />

(ainda hoje existe com os mesmos objectivos).<br />

No entanto, ao levantar o véu do conhecimento<br />

através do protagonismo que se empresta à<br />

instituição, está-se a pôr em causa os valores da<br />

tradição, facto que reside <strong>na</strong> atitude da perda do<br />

elo de ligação do aprendiz ao mestre, e assim a<br />

transferir o saber para a academia. O que<br />

significa que, de algum modo, se pretende fazer<br />

existir [20] uma espécie de autoridade no<br />

mundo da arte que fosse capaz de regulamentar<br />

a aprendizagem e o gosto pela arte [21]. Na<br />

verdade, esta forma de pensar arrasta consigo<br />

uma consciência social, pois com a<br />

democratização do saber, através das academias<br />

que começam a aparecer por toda a Europa, as<br />

imagens, ou seja, as artes, passam a estar ao<br />

dispor das classes menos favorecidas. Na<br />

medida em que “todos” podem dela usufruir, à<br />

mais probabilidades de se encontrar um maior<br />

número de pessoas com a intenção de se<br />

dedicarem quer à sua prática quer aos seus<br />

estudos – o que <strong>na</strong> verdade se verificou,<br />

inclusive dá-se o surgimento de coleccio<strong>na</strong>dores<br />

essencialmente <strong>na</strong> classe burguesa, o que, em<br />

certa medida vai ser até algo inconveniente para<br />

os “novos” artistas uma vez que estes burgueses<br />

acabam por, mais facilmente, adquirir as obras<br />

dos clássicos do que as dos artistas do seu<br />

tempo.<br />

REPRESENTAÇÃO<br />

APARELHA<strong>DA</strong><br />

A qualidade fotográfica que se assiste <strong>na</strong>s<br />

imagens pintadas, de que fala Peter Galassi<br />

(1981) [22], até ao neoclassicismo (e, embora de<br />

um modo diferente, até grande parte das<br />

imagens produzidas até hoje), é agora colocada<br />

de um posto de vista novo. Assim, as imagens<br />

eram o resultado de uma situação a que se<br />

“assistia”, que estava diante de nós, que era<br />

ence<strong>na</strong>da, que era t<strong>ea</strong>tral no sentido do<br />

observador físico <strong>na</strong> plateia física, e agora passa<br />

a ser fictícia. Nem observador (individuo), nem<br />

22<br />

Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL

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