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NA SENDA DA IMAGEM A Representação ea Tecnologia na Arte

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época assim como o culto do individualismo, os<br />

artistas abando<strong>na</strong>ram de algum modo as práticas<br />

usadas até então e passaram a aplicar o seu<br />

génio, quer técnico quer conceptual, partindo<br />

para novas aventuras <strong>na</strong> criação. Desenvolvendo<br />

novos cânones assim como novos temas com o<br />

fim de melhor expressar a sua arte, que<br />

consideravam o melhor caminho não só para<br />

igualar a <strong>na</strong>tureza como mesmo para a<br />

ultrapassar, superar. As imagens, consequentemente,<br />

neste período sofrem uma grande<br />

transformação formal, técnica e estética, quase<br />

em simultâneo. Através da geometria<br />

(perspectiva lin<strong>ea</strong>r, rigorosa, que assenta no<br />

plano do quadro), elas passaram a tratar o<br />

espaço, assim como a luz, de uma forma<br />

coerente e credível, fazendo com que os objectos<br />

e figuras representados sofressem uma<br />

<strong>na</strong>turalidade crescente, dando ao conjunto uma<br />

verdade quase inquestionável do ponto de vista<br />

da r<strong>ea</strong>lidade enquanto processo de<br />

visão/observação, razão pela qual Leon Battista<br />

Alberti (1404-1472) em 1435 a chamou, metaforicamente,<br />

de janela [11], pois a imagem era<br />

um plano que intersectava a pirâmide da visão<br />

(plano que organiza esquematicamente o modo<br />

de ver, onde o olho se encontra como o ponto de<br />

onde as linhas que parametrizam o campo de<br />

visão se desenvolvem, tem a sua origem). Toda<br />

a composição é centrada no olhar do espectador<br />

e como através desta representação, que é como<br />

um feixe luminoso de um farol, só que as aparências<br />

(as convenções desig<strong>na</strong>m estas<br />

aparências pelo nome de r<strong>ea</strong>lidade) [12], ao<br />

contrário do feixe do farol, vem para dentro,<br />

assim a janela que permite sair e entrar. Para<br />

complementar esta nova abordagem temos<br />

como factor importantís simo o desenvolvimento<br />

da tecnologia [13] da pintura a óleo. Esta<br />

conquista da geometria do espaço do Homem do<br />

Re<strong>na</strong>scimento é verdadeiramente implacável <strong>na</strong><br />

transformação operada <strong>na</strong> imagem. E para tal,<br />

do ponto de vista histórico, uma vez que se<br />

aponta como sendo a primeira representação,<br />

basta observarmos o fresco executado por<br />

Masaccio (1401-1428) <strong>na</strong> igreja de Santa Maria<br />

Novella, em Florença, que retrata “A Santíssima<br />

Trindade com a Nossa Senhora e S.João”<br />

executado em 1425, que, para além de esta obra<br />

ser considerada como a primeira grande<br />

evidência desta “descoberta”, é, <strong>na</strong>s palavras de<br />

H. W. Janson, reveladora da sua importância<br />

uma vez que nos faz “ver” o espaço dentro da<br />

própria representação, “O cenário, igualmente<br />

moderno, revela um perfeito domínio da nova<br />

arquitectura de Brunelleschi e da perspectiva<br />

científica. Esta sala de abóbada de berço não é<br />

um simples nicho, mas um espaço profundo<br />

onde as figuras poderiam mover-se livremente<br />

se o desejassem. E, pela primeira vez <strong>na</strong><br />

história, nos são dados todos os elementos para<br />

poder medir a profundidade de um interior<br />

picturalmente representado.” [14]. Outro marco<br />

que reflecte esta quase obsessão pelo domínio<br />

do espaço da representação pode ser encontrado<br />

em Piero della Francesca (1422-1492) que<br />

acreditava que a base da pintura deveria assentar<br />

no cumprimento das leis da perspectiva, “Num<br />

tratado rigorosamente matemático – o primeiro<br />

no género – demonstrou como ela se aplicava a<br />

corpos estereométricos, às formas<br />

arquitectónicas e à configuração huma<strong>na</strong>.<br />

Quando desenhava uma cabeça, um braço ou<br />

um drap<strong>ea</strong>do, concebia-os como variações ou<br />

composições de esferas, cilindros, cones, cubos<br />

ou pirâmides, dando ao mundo visível parte da<br />

clareza impessoal e da permanência dos corpos<br />

estereométricos.” [15]. Esta ciência – geometria<br />

descritiva; perspectiva artística – trás consigo<br />

uma noção de infinito, o que por si só é um<br />

elemento destabilizador, destruindo de facto os<br />

conceitos de universos reservados e compartimentados<br />

que regiam a representação até<br />

então. Vai fazer com que a representação dos<br />

espaços deixe de estar <strong>na</strong>s mãos do sensível e<br />

distante e passe a incorrer numa globalização de<br />

conceitos acercáveis a todos os estudantes das<br />

suas regras. Como se está a atravessar uma<br />

mudança <strong>na</strong> concepção do mundo ou da existência<br />

que coloca no seu centro o homem, “o<br />

homem é a medida de todas as coisas», é nesta<br />

frase, de Protágoras, que radica todo o pensamento<br />

do Humanismo, a perspectiva no fundo<br />

dá poderes ao seu executor, pois este organiza e<br />

conhece o espaço, o que por sua vez vai fazer<br />

com que o r<strong>ea</strong>l passe a ser algo que se começa a<br />

“perceber”. Os artistas Humanista do Re<strong>na</strong>scimento,<br />

<strong>na</strong> verdade são os responsáveis por<br />

colocar o homem no centro da ima gem –<br />

embora com grande apego à igreja, instituição<br />

empregadora, os temas logo em si começam a<br />

dar si<strong>na</strong>is de mudança, pois passa-se a<br />

interpretar o novo testamento e as figuras<br />

representadas tem todas um grande<br />

“identificação huma<strong>na</strong>”, quer <strong>na</strong>s posturas,<br />

comportamentos ou proporções.<br />

A <strong>IMAGEM</strong> OBJECTO<br />

Se até então estávamos, no que diz respeito à<br />

representatividade, perante todo um domínio<br />

protagonizado pelo ícone, com a técnica da<br />

pintura a óleo o quadro (conveniente ao<br />

desenvolvimento da colecção, note-se que as<br />

imagens deixaram, com este novo suporte, de<br />

pertencer às paredes, imóveis, para serem<br />

21<br />

Copyright © ARTECH 2004 – 1º Workshop Luso-Galaico de <strong>Arte</strong>s Digitais 12 de Julho de 2004, FC - UL

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