Espaços educativos e ensino de História - TV Brasil
Espaços educativos e ensino de História - TV Brasil
Espaços educativos e ensino de História - TV Brasil
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
3. A <strong>História</strong> como saber escolar<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização dos conceitos <strong>de</strong> saber escolar e <strong>de</strong> transposição didática no campo da<br />
<strong>História</strong> precisa ser discutida <strong>de</strong> forma a consi<strong>de</strong>rar problemas e características específicos aos<br />
processos <strong>de</strong> sua constituição, que envolvem aspectos distintos daqueles relacionados à Matemática,<br />
por exemplo. É importante avaliar possibilida<strong>de</strong>s e limites dos conceitos quando eles são<br />
transplantados do seu contexto <strong>de</strong> produção original e utilizados como instrumentos <strong>de</strong><br />
inteligibilida<strong>de</strong> em diferentes campos disciplinares 5 .<br />
Esse trabalho tem sido realizado por alguns autores franceses que pesquisam a didática da <strong>História</strong>,<br />
e que têm procurado incorporar e avaliar a potencialida<strong>de</strong> teórica das proposições <strong>de</strong> Chevallard 6 .<br />
Entre eles, Moniot (1993) faz algumas pon<strong>de</strong>rações importantes, ao discutir e contextualizar a<br />
transposição didática no processo <strong>de</strong> elaboração da <strong>História</strong> em sua versão escolar. Inicialmente, ele<br />
concorda com Chevallard sobre a anteriorida<strong>de</strong> do saber acadêmico em relação ao saber escolar, ao<br />
lembrar que, por exemplo, na França, a <strong>História</strong> dos historiadores prece<strong>de</strong> a <strong>História</strong> escolar,<br />
constituída num processo que se <strong>de</strong>senvolveu ao longo do século XIX (Furet, 1978). Mas, por outro<br />
lado, como o autor <strong>de</strong>staca, a <strong>História</strong> escolar também fez a fortuna da <strong>História</strong> universitária,<br />
havendo uma conivência entre uma e outra, <strong>de</strong> forma que até hoje uma legitima a outra. “Não há<br />
dúvida <strong>de</strong> que, no século XX, a história escolar tem características próprias, numa configuração<br />
com sua força instalada. Se, por um lado, ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> moralmente da história acadêmica, ela<br />
produz, para esta, uma reverência e uma segurança pública, pela cultura e pelos sentimentos que ela<br />
<strong>de</strong>stila: <strong>de</strong> fato, há uma troca <strong>de</strong> legitimações reais entre duas entida<strong>de</strong>s específicas” (Moniot, 1993,<br />
p. 26) 7 .<br />
No <strong>Brasil</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que um processo semelhante ocorreu. A constituição <strong>de</strong> uma <strong>História</strong> do<br />
<strong>Brasil</strong>, pautada em princípios <strong>de</strong>finidos com base em metodologia científica, se <strong>de</strong>u em meados do<br />
século XIX, no contexto <strong>de</strong> uma instituição acadêmica que era o Instituto Histórico e Geográfico<br />
<strong>Brasil</strong>eiro (Guimarães, 1988). A elaboração da <strong>História</strong> Geral do <strong>Brasil</strong> em 1854, por Francisco<br />
Adolfo <strong>de</strong> Varnhagen, constituiu a primeira versão que atendia aos princípios <strong>de</strong> uma <strong>História</strong><br />
“científica” escrita a partir <strong>de</strong> documentos e que serviu <strong>de</strong> base para a elaboração <strong>de</strong> livros<br />
didáticos, entre eles aquele intitulado <strong>Brasil</strong> em Lições, <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo, usado<br />
14