Espaços educativos e ensino de História - TV Brasil
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vezes com o atraso – algo curioso, exótico, porém <strong>de</strong> menos valor. Logo, se não problematizarmos a<br />
inserção da cultura africana neste registro, correremos o risco <strong>de</strong> não criar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nem<br />
estimular o orgulho <strong>de</strong> a ela pertencermos. Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>smistificar a idéia <strong>de</strong> folclore presente no<br />
senso comum e, também, mostrar o quão complexa e sofisticada é a nossa cultura negra brasileira.<br />
Envolve saberes, técnicas e toda uma elaboração mental para ser construída e se expressar. E, assim<br />
como nós, está em permanente mudança e não é nada óbvia.<br />
Além <strong>de</strong>stes três cuidados básicos <strong>de</strong> caráter geral, há outros dados sobre os quais <strong>de</strong>vemos refletir<br />
e estar sempre atentos:<br />
• A África é um amplo continente, em que vivem e viveram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os princípios da humanida<strong>de</strong><br />
(afinal, segundo pesquisas, foi na região on<strong>de</strong> atualmente se localiza o Continente Africano que a<br />
humanida<strong>de</strong> surgiu), grupos humanos diferentes, com línguas, costumes, tradições, crenças e<br />
maneiras <strong>de</strong> ser próprias, construídas ao longo <strong>de</strong> sua <strong>História</strong>. Referir-se a “o africano” ou “a<br />
africana”, como uma idéia no singular é um equívoco. Po<strong>de</strong>mos até utilizar estes termos quando<br />
tratarmos <strong>de</strong> processos históricos vividos por diversos nativos da África, mas sempre sabendo que<br />
não se trata <strong>de</strong> um todo homogêneo e sim <strong>de</strong> uma idéia genérica que inclui alguns indivíduos, em<br />
situações muito específicas. Por exemplo: po<strong>de</strong>mos dizer “o tráfico <strong>de</strong> escravos africanos” – ou<br />
seja, estamos nos referindo à ativida<strong>de</strong> econômica cujas mercadorias eram indivíduos nativos da<br />
África, conhecido nos seus anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio como “o infame comércio”. Nestes tipos <strong>de</strong> caso, vale<br />
dizer, <strong>de</strong> um modo geral, ‘africanos' ou ‘negros africanos'. Mas, <strong>de</strong>vemos evitar atribuir a estas<br />
pessoas qualida<strong>de</strong>s comuns, como se fossem tipos característicos.<br />
• Um dos preconceitos mais comuns, quanto aos africanos e afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, é com relação às<br />
suas práticas religiosas e um suposto caráter maligno contido nestas. Este tipo <strong>de</strong> afirmação não<br />
resiste ao confronto com nenhum dado mais consistente <strong>de</strong> pesquisa sobre as religiões africanas e<br />
sobre a maioria das religiões afro-brasileiras. Por exemplo: não há a figura do diabo nas religiões da<br />
África tradicional nem <strong>de</strong> nenhum ser ou entida<strong>de</strong> que personifique todo o Mal. As divinda<strong>de</strong>s<br />
africanas e suas <strong>de</strong>rivadas no <strong>Brasil</strong>, em geral, se encolerizam se não forem cultuadas e<br />
consi<strong>de</strong>radas, e po<strong>de</strong>m vingar-se; mas jamais agem para o mal <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos agentes<br />
humanos que a elas <strong>de</strong>mandam. O gran<strong>de</strong> adversário das “forças do Bem” não existe, não há este<br />
po<strong>de</strong>r em nenhum ente do sagrado africano, a não ser naquelas religiões influenciadas pelo<br />
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