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A inadequação do adulto<br />
Quando uma criança nasce, a alegria irrompe no lar. Ela traz consigo uma tendência<br />
natural para só transmitir amor. Quando sorri toda a gente sorri e quando chora já<br />
ninguém sabe o que fazer. Todos estão prontos a ocorrer para satisfazer a mínima<br />
necessidade que ela pareça ter. É como um milagre. Tudo lhe é provido sem que tenha<br />
que articular uma só palavra.<br />
Que se passou, entretanto? Porque é que quando crescemos, olhamos ao nosso redor<br />
e vemos que esse poder desapareceu?<br />
Aprendemos a olhar para o mundo com antagonismo e individualismo. Aprendemos o<br />
significado de maldade, culpa, limitação e morte. O amor é aquilo com que nascemos.<br />
O medo é o que aprendemos aqui. Renunciar ao medo é o objectivo principal desta<br />
viagem a que chamamos vida. Viver uma vida sem conhecer o amor é condenar-se ao<br />
sofrimento e à depressão.<br />
Muitas crianças em todo o mundo cresceram e tornaram-se adultas fisica<strong>mente</strong> mas<br />
não emocional<strong>mente</strong>. São o resultado do abandono e de todo o tipo de abusos<br />
durante a infância. A negligência no atendimento das suas necessidades de afecto,<br />
carinho e apoio impediram o desenvolvimento de uma infância saudável. São o<br />
resultado de um ambiente familiar desequilibrado.<br />
Quando uma infância não é saudavel<strong>mente</strong> desenvolvida, isto é quando não são<br />
satisfeitas as suas necessidades psicológicas essenciais existirá um desenvolvimento<br />
físico normal mas, inevitavel<strong>mente</strong>, esse ser agora adulto sentirá no seu interior uma<br />
criança que, psicologica<strong>mente</strong>, continuará ferida e abandonada. Emocional<strong>mente</strong><br />
sentir-se-á uma criança num corpo de adulto. Será uma pessoa caracteristica<strong>mente</strong><br />
agressiva e extrema<strong>mente</strong> insegura embora com um coração peno de amor que nunca<br />
foi despejado por não ter com quem o trocar. Está bloqueado. Por isso não sente<br />
alegria nem sabe brincar. Leva tudo a sério.<br />
Quando pergunto a um desses adultos como foi a sua relação com os pais, a sua<br />
expressão até ali dura, transforma-se numa expressão de surpresa e os seus olhos<br />
humedecem-se. Cai a máscara. Sentem-se envergonhados. Muitas pessoas choram.<br />
Algumas não o faziam desde crianças. Depois sentem-se melhor.<br />
Aquilo que compõe o conhecimento que temos de cada um de nós, ou seja aquilo que<br />
queremos significar quando dizemos “eu sou…” é o nosso conceito interno. Ele formase<br />
com os nossos primeiros sentimentos, crenças e memórias.<br />
É o filtro através do qual passarão as novas experiências. Por isso imagine-se como é<br />
importante uma infância saudável. Isso explica porque existem pessoas que escolhem<br />
continua<strong>mente</strong> o mesmo tipo de relação amorosa destrutiva; é também a razão pela<br />
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