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Aprende a reprimir para sobreviver. Parecem culpá-lo de tudo o que se passa na casa.<br />
Da falta de dinheiro, de não poderem ir ao cinema ou à festa que desejavam ir. É um<br />
empecilho. Os filhos dos vizinhos são sempre mais inteligentes e bem comportados do<br />
que ele. É o que lhe dizem repetida<strong>mente</strong>. Se este fosse o seu pai como poderia<br />
considerá-lo culpado?<br />
Uma criança neste ambiente acaba por considerar-se alguém horrível. Cria por isso um<br />
conceito interno que a faz envergonhar-se e preferir o isolamento. Não quer que os<br />
outros descubram o quão horrível é. Cria um falso "eu". E é esse “eu” que lhe permitirá<br />
sobreviver no tal mundo hostil que a rodeia. Cria uma fachada. Aprende que fazer má<br />
cara afasta os indesejáveis. Era assim que o seu pai fazia. Quando algo não corre<br />
como ela quer, grita ou bate. São regressões expontâneas. Foi isso que viu fazer na<br />
infância. À mínima contrariedade desiste. Não tem confiança nela própria porque não<br />
lhe foi possível incorporar essa característica no seu auto-conceito .<br />
Abandona facil<strong>mente</strong>. Provavel<strong>mente</strong> porque também alguma vez terá sido<br />
abandonado.<br />
Perante contrariedades ou confrontos engole a raiva e toma a única atitude que lhe<br />
permitiram ter quando era criança : castigar os adultos com a retirada. Nada mais<br />
podia fazer. E amua. Nunca teve a oportunidade de sentir o apoio forte e amigável do<br />
pai. Não foi apoiada no inicio da sua caminhada. Por isso todos são seus inimigos. Na<br />
idade adulta a esposa substitui a mãe que emocional<strong>mente</strong> não teve. Não tem um<br />
circulo de amigos porque tem medo de se expor. Tem medo que descubram tudo de<br />
mau que ele é. A verdade é que se ele fosse bom os pais não lhe teriam batido, nem<br />
lhe teriam dito aquelas coisas horríveis, pensa.<br />
Eles disseram-lhe, vezes sem conta, que não havia nada que ele fizesse bem. Que<br />
não estudava o suficiente. Que não era capaz e que por isso nada merecia. Ele pensa<br />
então que, se as outras pessoas souberem como ele é real<strong>mente</strong>, irão também<br />
abandoná-lo ou agredi-lo. Foi assim que aconteceu com os seus pais. E querem evitar<br />
essa dor de novo. Querem evitar mais uma desilusão. É doloroso. Preferem por isso o<br />
seu mundo privado. Assim ninguém os decepcionará. Tornam-se obsessiva<strong>mente</strong><br />
controladores. Controlam tudo porque: “se eu controlar tudo ninguém me poderá<br />
apanhar desprevenido e magoar-me”.<br />
Penso ser importante frisar esta matéria porque cada vez mais existe uma tendência<br />
na sociedade moderna a menosprezar a importância que este fenómeno tem na<br />
explicação da depressão e no aparecimento da doença física. Vivemos numa época e<br />
ado<strong>pt</strong>amos um modo de vida que é propício a negligenciar a infância dos nossos filhos<br />
que, se não tiverem a oportunidade de ter uma infância apoiada, experimentarão um<br />
sem número de conflitos em todas as áreas da sua vida adulta. Geram-se assim<br />
comportamentos compulsivos que geram alcoólicos, pesados fumadores, obsessão<br />
sexual, sucessivos divórcios, etc….<br />
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