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O nosso auto-conceito<br />
O nosso auto-conceito identifica-nos com um corpo. Esse corpo tem a capacidade de<br />
pensar, de dar origem a outros corpos e de morrer para nunca mais voltar. Viverá uma<br />
vida dura com muito sofrimento e alegrias pouco duradouras. Este é o nosso autoconceito<br />
tradicional.<br />
Nesta visão da existência, os corpos matam-se entre eles para terem o poder de mandar<br />
nos outros e de terem mais coisas. Trabalham uma vida inteira, que tem a duração desse<br />
corpo, para, em grande parte, adquirirem aquilo que não necessitam. Vestem roupas para<br />
se taparem pois têm vergonha de se mostrarem despidos. Consideram isso uma<br />
imoralidade. No entanto, pensam as coisas mais horríveis uns dos outros e matam<br />
inocentes sem disso sentirem vergonha. Divertem-se a comer e beber em excesso,<br />
acabando às vezes por adoecer em consequência. Também se divertem vendo filmes<br />
onde choram ou riem com as cenas de morte e violação feitas por outros corpos.<br />
O nosso auto-conceito cria esta realidade. Ela nasce dele. Ou seja, o mundo que vemos<br />
é criado por nós para servir este auto-conceito e depois projectamos imagens no mundo<br />
que não nos deixem duvidar de que o que vemos é verdadeiro.<br />
Quando morremos fisica<strong>mente</strong> este nosso “eu” deixa de existir. E é um paradoxo. Por um<br />
lado ele ameaça-nos diaria<strong>mente</strong> com o medo da morte e por outro é um suicida que<br />
sabe que, quando o corpo deixa de servir, a consciência desse "eu" desaparece.<br />
Cada vez que, temos nova<strong>mente</strong> consciência de ter um corpo, é como se nunca o<br />
tivéssemos tido antes. Bloqueamos a memória de anteriores experiências e voltamos a<br />
re-criar o nosso auto-conceito baseado numa forma física, limitada e mortal.<br />
Quantas vezes se irão repetir estas experiências no mundo da forma? Tantas quantas as<br />
necessárias à compreensão segura e irreversível da nossa verdadeira identidade que,<br />
nunca tendo deixado de o ser, aguarda serena<strong>mente</strong> e alheia ao caos que nos rodeia,<br />
que a reconheçamos. É o regresso a casa, donde nunca saímos. Os corpos gastam-se e<br />
trocam-se por outros. O nosso verdadeiro Ser é imutável e eterno. A sua realidade não é<br />
deste nível de consciência em que nos encontramos. Não tem pressa. Não pertence à<br />
realidade do espaço-tempo.<br />
No entanto, urge que nos lembremos de quem somos. Basta de experiências de<br />
sofrimento e infelicidade. Porquê esta punição? Porquê a morte?<br />
Porque razão repetimos esta odisseia quase interminavel<strong>mente</strong>? Que levará um Ser<br />
imortal e infinito a pensar que é mortal e limitado? Tratar-se-á de um equívoco de<br />
dimensão tão fantástica e proporcional a essa realidade?<br />
Será que esse equívoco terá levado o Ser a uma auto-amnésia que o faz pensar que não<br />
foi criado por outro Ser da mesma realidade. E que portanto é auto-criado, sendo um<br />
corpo. E será que, ao acreditar, equivocada<strong>mente</strong>, ter feito algo tão horrível a Quem o<br />
criou, temerá a destruição, como punição, e terá criado um universo físico onde se<br />
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