12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

próprias famílias de produtores. Vejamos o que nos diz Teixeira
Guerra a respeito de Vila Epitácio, no município de Brasiléia.
'Em Brasiléia existem em formação três colônias: Carmem,
Nazaré e Bela Flor, esta última conhecida por Vila Epitácio e
localizada a poucos quilômetros da cidade. (...)
Vila Epitácio é constituída por um agrupamento de casa de
lavradores, os quais têm os seus campos de cultura distantes
aproximadamente 4 quilômetros de suas residências. (...)
No que diz respeito à organização esta colônia de Brasiléia,
praticamente nada existe. E, esta situação é de tal forma confusa que,
ao se chegar à região, não se sabe se se trata de uma colônia ou de um
povoado'. (Guerra,1955:166).
Note­se a preocupação com a organização que, obviamente, diz
mais de quem está falando do que da realidade mesma. Mas é assim
que a realidade dos que não têm voz fala, enfim nos interditos, nas
entrelinhas, do ambíguo discurso daqueles que se vêem obrigados a
invocá­los para se afirmar. Logo a seguir, volta a demonstrar a
mesma ambigüidade quando fala do município de Cruzeiro do Sul
onde faz referência
'a três colônias, a saber: Rodrigues Alves, Assis Brasil e Vila
Japiim. Dessas a mais organizada é a Rodrigues Alves...'(...)
'Quanto à colônia da Vila Japiim não podemos ainda fornecer
dados de produção, em virtude da inexistência dos mesmos. Aliás,
este fato advém da circunstância de não existir uma colonização
organizada e sim um agrupamento de lavradores próximos da sede da
villa Japiim.' (Guerra, 1955:169).
Observe­se que as duas colônias autênticas, posto que
organizadas, têm nomes de autoridades federais, os que organizam.
A contradição entre o desejo de Guerra e a realidade posta por
aqueles que faziam a sua própria geografia, que organizavam seu
próprio espaço autonomamente, à revelia daqueles que queriam
organizá­los segundo uma outra racionalidade e para quem aparecem