12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

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O mais interessante nessa matéria de O Estado de São Paulo é que seu título 'Acre: 12 milhões de hectares inexplorados' indica a persistência, ainda em 1980, do interesse pelas terras do Acre. Vêse, no caso, como a imprensa contribui para conformar uma determinada geografia. No vale AcrePurus e do Abunã, a abertura da estrada que liga Rio Branco a Plácido de Castro, nos finais dos anos 1940, assim como outros varadouros que, com o passa dos anos se tornaram estradas ligando Sena Madureira a Rio Branco ou Rio Branco a XapuriBrasiléia vão ensejando, já nos anos 1970, que os seringueiros se libertem dos barracões. Vimos como em todo o estado do Acre ocorrera primeiro uma intensa mudança de proprietários, sobretudo, quando os “de baixo” ocupam as terras abandonadas pelos “de cima” e, depois, já nos anos 1970, quando os ‘de fora’ e “de cima” adquirem os títulos de propriedades dos ‘de cima’ e tentam expulsar os “de baixo”. Figura 73 – Transferência de imóveis para proprietários de procedência de fora do Acre na BR317 – 1971 a 1979 – compare com a fig. 72 e marcar a diferença – o título é igual ATENÇÃO NUMA FIGURA OS DADOS SÃO DE TODO O ESTADO E NA OUTRA SÃO POR MUNICÍPIO E ESTA É A DIFERENÇA. Quando observamos esses processos em detalhe, numa escala maior, vemos que no vale do Juruá e ao longo da BR 364, que precariamente liga Rio Branco, no vale do rio Acre, a Cruzeiro do Sul, no vale do Juruá, as terras, muito embora tivessem mudado de donos, não sofreram grandes mudanças nos sistemas de uso da terra. Não foi o que aconteceu ao longo da BR317, que liga Rio Branco a Assis Brasil, passando pelos municípios de Rio Branco, Xapuri e Brasiléia que corta exatamente a área tradicionalmente de maior produção de borracha e onde é maior a concentração de Seringueiros Autônomos, isto é, nos vales do rio Acre e do rio Abunã 39 . 39 A configuração do relevo jogou aqui um papel importante. A construção da BR364, que cortaria transversalmente o Estado, ligando Rio Branco a Cruzeiro do Sul, por exemplo, implicava cortar diferentes vales e a construção de obras de arte, como pontes, extensas e caras.
Entre os grandes grupos que adquiriram terras no Acre identificamos o Copersucar, do Sr Jorge Wolney Attala (SP), o Grupo Varig/Cruzeiro do Sul (RS) (Fazenda 5 Estrelas), o Grupo Café Cacique, o Grupo Atlântica Boa Vista, o Grupo Bordon (SP), o Grupo (do Banco) Real e a Viação Garcia (Fazenda Paranacre) todos do sul do país e que, como já salientamos, tinham suas terras sobretudo ao longo da Br 364, em direção a Cruzeiro do Sul. No entanto, serão, sobretudo, os expequenos e médios fazendeiros do sul, transformados em grandes fazendeiros no Acre e, também, e alguns grandes grupos com tradição pecuária, como o Bordon, por exemplo, que comprarão as terras ao longo da BR317 e que vão proceder a uma mudança no uso terra, derrubando a floresta com a perspectiva de produzir gado bovino para os mercados nacionais e futura exportação para o que se acreditava promissores mercados do Pacífico. Como as matas eram ocupadas, e como!, desmatar ensejaria necessariamente agudos conflitos 40 . Empate ! Já a BR317, ligando Rio Branco a Assis Brasil, tem seu traçado em cima do divisor de águas e, por isso, seus custos de construção são consideravelmente menores, embora de conseqüências ambientais mais graves, posto que propicia o desmatamento das cabeceiras dos rios. Chega a ser paradoxal ver as fazendas tendo que construir pequenos açudes para retenção de água numa área com chuvas anuais em torno de 2.000 mm. 40 Talvez aqui a idéia de fronteira, tão largamente utilizada na literatura sobre esse período da história da região amazônica, revele o seu caráter essencial que é o front de onde deriva a expressão fronteira. Afinal, as fronteiras como tais, ao se cristalizarem no espaço, escondem exatamente os conflitos que a geraram. É que com elas uma determinada hegemonia se consagra e, assim, uma determinada correlação de forças políticas é naturalizada.
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