12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

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cima', 'de fora' e 'de dentro' podiam agir sem peias 37 , até porque (4) as mais importantes lideranças políticas tradicionais, os Srs Guiomar Santos e Oscar Passos que, à sua maneira, exerciam a hegemonia políticoideológica conformando um determinado projeto, uma determinada visão de mundo legítima não se fazia mais presente; e (5) sem a mediação dessas lideranças, os velhos seringalistas passam a viver ao sabor das conveniências mais imediatas, sem nenhum projeto político em que fundar sua hegemonia, vendem suas propriedades, ou se mudam para Belém, Fortaleza, Rio de Janeiro ou Brasília deixando o Acre praticamente nas mãos dos 'paulistas'. É como se estivéssemos diante da expropriação das velhas classes dominantes do Acre, sua mais completa desterritorialização. A perda da hegemonia é clara. Os velhos seringalistas não são mais protagonistas naquele sentido que tomamos emprestado dos gregos. Lembremos, todavia, que 70,58% das terras dos estabelecimentos rurais do Acre eram, em 1970, de propriedades inferiores a 1.000 hectares e que aproximadamente 50% de todos os responsáveis pelos estabelecimentos rurais do estado eram de Ocupantes, Seringueiros Autônomos, particularmente, no vale do AcrePurus onde conflitos de outra natureza do que aquele indicado pela expressão invasão de 'paulistas' quer fazer crer. Os novos protagonistas que se apresentam no cenário acreano, 'os paulistas', já o nome o indica, vêm de outros lugares, e vão ter que lutar para afirmar sua hegemonia tendo, desde o início, que se desfazer de uma identidade que lhe atribuída e que lhe era, no mínimo, incômoda. Esses novos protagonistas apareciam, por exemplo, como representantes do Acre, como o Sr. Pedro Dotto, Presidente da Associação dos Empresários do Acre, ele mesmo natural do município de Jales, no Estado de São Paulo. 14.2 A Estrada e as Diferentes Estradas no Imaginário das Gentes Como expressão maior da geograficidade do Estado cabe destacar o papel que ele viria cumprir na organização do espaço nesses anos1970. Aqui sua lógica territorialista se torna por demais 37 Essa situação foi claramente percebida pelos setores organizados no interior do chamado movimento popular quando se vê, por exemplo, a orientação da Igreja Católica para que procurassem as autoridades federais por desconfiar das que atuavam no Estado.
evidente, posto que sua atuação terá o objetivo de delinear a ocupação desse espaço através das linhas de crédito, que são os subsídios e incentivos fiscais, e das linhas que rasgam, que marcam, materialmente a terra: as estradas. A abertura dos meios de circulação, isto é, o dinheiro (política de subsídios), e as estradas (política de transportes), dão bem a exata dimensão do Estado engendrando as condições gerais de produção que no entanto, só se consolidam quando a sociedade garante, por si mesma, a sua reprodução e a reprodução deste mesmo Estado, via geração de mais valia sob a forma de impostos. Com a crise específica pela qual passavam as classes dominantes regionais acreanas desde o final dos anos 1950 e, sobretudo, ao longo dos anos 1960, a procura de novas ligações com o bloco histórico de poder nacional se tornava imperiosa. Há, assim, uma clara convergência de interesses dos gestores territorialistas com setores dessas classes dominantes decadentes para tentar atrair investimentos para o Acre. ‘ACRE – um mundo novo, terra fértil para investimentos foi o título da exposição proferida pelo então Governador do Acre (19711975) Francisco Vanderlei Dantas por ocasião do Primeiro Seminário de Integração Nacional realizado no Rio de Janeiro entre 3 e 5 de abril de 1973. O slogan de seu governo era Produzir no Acre, Investir no Acre, exportar pelo Pacífico A estrada vinha, finalmente, superar 'a tirania das distâncias' de que nos falara Leandro Tocantins. Além de ser um componente da infraestrutura necessária para viabilizar a incorporação de novas áreas/recursos a capitais ávidos de novas frentes de acumulação, a estrada mobiliza desejos e aspirações que mergulham no mais profundo da alma das gentes. No Acre, em particular, as distâncias geográficas, nas suas diferentes escalas, são extremamente relevantes na conformação das subjetividades: não só as distâncias entre as colocações e entre essas e o barracões são grandes, mas também as distâncias do Acre dos centros de poder do país. Para superar essas distâncias as elites dominantes regionais ainda podiam se deslocar de avião, e, no Acre, em função da condição de Território Federal até 1962, muitos vôos foram mantidos por razões eminentemente políticas. As escalas de poder eram aqui,
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