12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

asiático 27 . No entanto, o Acre continua a produzir borracha, mesmo
após mais de 80 anos daquela crise. E, já foi visto, não simplesmente
em virtude do suporte político que os ex­capitalistas da borracha
passaram a obter do governo federal, quando se transformaram em
coronéis de barranco. Sabemos como a 'substituição de importações'
efetuada pelos próprios produtores diretos, aí já se podendo falar de
famílias que se autonomizavam, enfim daqueles que,
dermercadorizando­se, tornaram possível uma ocupação mais estável
daqueles espaços ensejando uma territorialização própria.
Esses fatos, parece, não têm sido suficientes para desmentir a
teoria da não­competitividade da produção dos seringueiros
autônomos. Enfim, o segredo da competitividade da borracha acreana
estava não só na sua qualidade técnica, a borracha acre­fina, de largo
uso na fabricação de utensílios mais exigentes em elasticidade,
impermeabilidade e resistência, mas também à sua qualidade
sociocultural, aquela derivada do caráter de que não é mais o
mercado que comanda as relações socioespaciais e, no entanto, mais
do que um antimercado que uma lógica maniqueísta poderia ver, é de
uma outra lógica, mais complexa, dos 'camponeses da floresta'
(Almeida, 1994), que subordina o mercado a uma lógica de
reprodução familiar­comunitária onde gênero, autonomia, modo de
vida enfim, outras formas de apropriação do espaço, do tempo e da
natureza ganham legalidade.
Já vimos que a unidade de medida que prevalecera no Acre foi
a seringueira e não o metro quadrado ou o hectare. Entre os
seringalistas, a venda de um seringal era feita pelo número de
estradas de seringa e, portanto, avaliada pelo seu potencial produtivo
em látex. Entre 1966 e 1971, por exemplo, dos vinte e dois registros
de transmissão de imóveis lavrados nos livros do Cartório de
Registro de Imóveis de Xapuri, em somente um constava a área do
imóvel 28 .
27 O argumento é tão velho quanto desqualifica a modernidade daqueles que o usam. Na verdade,
trata­se de mais um dogma que se quer auto­evidente, rigorosamente um fundamentalismo, como
o caracteriza Umberto Eco.
28 Tratava­se do Seringal Soledade, com seus 13.338 hectares, adquirido pelo Sr. Jorge Kalume,
então governador do Estado.