12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

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nossas tradições políticoculturais rurais, do que o coronelismo é, ainda hoje, uma expressão viva 22 . Essas transformações estão imbricadas, na área rural, com o papel que a agricultura cumpria no pacto político engendrado desde os anos 1930 e que inscrevia o Brasil como exportador e matérias primas agrícolas para financiar, com suas divisas, o próprio processo de industrialização. Essa industrialização visou, sobretudo até os anos 50, a constituição de um forte setor de bens de produção siderurgias, metalmecânico, energia, construção naval etc... o que, por si só, é indicativo dos sujeitos que protagonizavam esse modelo, com destaque para o estamento militar e seu projeto estratégico de industrialização para garantir a integridade territorial do país. Esse tipo de indústria não implica demanda de insumos provenientes do campo e, assim, podia ser feita sem que a estrutura do poder fundiário fosse alterada. Continuamos exportadores de cana de açúcar, café e cacau agregado à exportação do ferro e manganês, sobretudo após os Acordos de Washington, a Batalha da Borracha, que proporcionou ao Brasil a Companhia Vale do Rio Doce e a Cia Siderúrgica Nacional. Num primeiro momento esse processo de desterritorialização reterritorialização se fez sob hegemonia política e cultural de setores ligados às próprias oligarquias 23 . É sob Vargas, oriundo de São Borja (RS), filho legítimo das oligarquias da fronteira do pampa gaúcho, que a lógica do favor ganha plenitude no espaço urbano, sob a forma de populismo. Afinal, as migrações haviam trazido às cidades milhões de habitantes que não tinham tradições de relações marcadas pela lógica de direito, embora trouxessem seus próprios valores sobre a justiça/injustiça. À medida, todavia, que a desruralização/urbanização se processava de modo cada vez mais intenso, um setor agrícola voltado para o mercado interno também ganhava expressão. E, aqui, é preciso dizêlo, como já destacara Berta Becker nos anos 1960, que 'são os pobres do campo que abastecem os pobres da cidade', e extrair daí uma conclusão sociológica e política que normalmente não 22 O populismo pode se entendido como a versão urbana do coronelismo. 23 O caráter industrializante e nacionalista do período Vargas guardava uma relação como o que Castro, 1970, chamara a atenção para o significado da Região Sul do país, qual seja, sua inserção precoce no mercado interno.
acompanha aqueles que constatam esse fato: é que ele revela, também, a relevância cada vez maior desses ‘pobres do campo que abastecem os pobres da cidade’ no seio da sociedade dominante 24 . Destaquemos aqui entre ‘esses pobres do campo’, um segmento que é distinto daqueles que praticam a chamada agricultura de subsistência e que embora tenha, também, como lógica subjacente a reprodução familiar o faz em condições sociopolíticas sem dúvidas, melhores que a maioria dos posseiros do Sudeste, do Norte e do Nordeste. Tratase dos produtores familiares da ‘zona colonial’ sul do país cuja propriedade formal das suas terras e todo o significado que teve em termos da afirmação do poder nacional povoando a fronteira lhes colocava numa posição melhor situada na nossa geografia imaginária, que porta toda uma gama de preconceitos, como o de se enfatizar a (superioridade de uma) origem européia para explicar o relativo sucesso dessas famílias de agricultores. Esse é o pano de fundo que redefine o caráter dos conflitos que começam a se aguçar na área rural onde as manifestações de trabalhadores rurais são cada vez mais intensas, elas mesmas possíveis em virtude das novas relações espaciais. Daí as marchas, do que as Ligas Camponesas foram a melhor expressão até 1964 e, hoje, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST. (Medeiros, 1989 ). 13.2 Nova Espacialidade, Novos Meios, Novos Mediadores O Contexto Acreano Desde a década de 1920 e, sobretudo no período que transcorre entre 1942 e 1958 e entre este ano e 1967, já o indicamos, que os patrões seringalistas não conseguindo mais se reproduzirem por mecanismos estritamente econômicos recorreram aos suportes políticos do governo federal para se manterem, engendrando, no contexto específico do Acre, o fenômeno sociológico nacional do coronelismo (Leal, 1967). 24 É preciso destacar que o vínculo ao mercado é, historicamente, uma característica do chamado campesinato (vide Abramovay, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão (Abramovay, São Paulo, Ed, Hucitec, 1992).
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