12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

com a invenção de uma nova forma de marcar a terra, de geografar,
que é a Reserva Extrativista.
Assim, podemos agora afirmar, com segurança, que sob a
organização do espaço acreano havia uma tensão de territorialidades
expressa nas relações contraditórias dos Coronéis de Barranco
com/contra os Seringueiros Cativos ou com/contra os Seringueiros
Autônomos ou Libertos; com/contra os regatões ou os marreteiros;
com/contra os 'de fora'. Nas novas circunstâncias da década de
setenta e oitenta, os tensos e intensos conflitos que se viram
obrigados a travar, atualizariam toda uma história incorporada ­
habitus­ e materializada no habitat. As transformações socio­
espaciais porque passará o Acre implicava uma mudança radical
desse habitat.
Até os anos 1960 a terra, enquanto objeto de trabalho, não
tinha valor econômico no Acre. Não havia propriamente um mercado
de terras até porque para que tal se constitua é preciso que haja uma
demanda desta enquanto objeto de trabalho, o que significa que esse
espaço esteja incorporado ao espaço econômico capitalista,
oferecendo­se, então, múltiplas possibilidades de uso (desde que
torne possível uma determinada margem de lucro). Aqui, é
fundamental a acessibilidade.
A incorporação efetiva da Amazônia ao espaço econômico
brasileiro polarizado em torno do Centro­Sul, em particular a
Amazônia Ocidental pela sua posição geográfica, condicionava­lhes
as alternativas de inserção no mundo de mercadorias. A região
achava­se até então, de certa forma, protegida da afluência de outros
capitais que lhes viessem disputar os recursos naturais pela sua
marginalização geográfica e, conseqüentemente, pelas estreitas
margens de lucro que essa condição proporciona 26 . Deste modo, o
extrativismo da borracha se manteve no Acre graças a uma lógica não
redutível a uma dimensão estritamente econômica. Afinal, desde
1912, é lugar comum afirmar­se que a borracha do Acre não
consegue competir com a borracha racionalmente plantada do sudeste
26 Aliás, essa condição geográfica coloca a sociedade acreana numa posição privilegiada, por toda
a história acumulada, reificada e incorporada, para uma reflexão, cada vez mais necessária, sobre
as relações entre geografia, sociedade e mercado.