12 DOS SERINGUEIROS AUTÔNOMOS - Biblioteca da Floresta

É que parcelas importantes de recursos financeiros estavam
sendo mediadas pelo Estado para a agricultura e a pecuária,
atividades que têm a terra como pressuposto e, por essas lógicas do
campo das representações, como o jurídico, era caução para os
projetos subsidiados pela SUDAM e pelo BASA, por exemplo.
Mais do que adquirir terras era um bom negócio adquirir um título de
propriedade, fosse para produzir ou não, posto que, assim, tornava­se
possível obter recursos para outras finalidades. Assim a terra de
pressuposto das atividades agropecuárias não passou, em muitos
casos, de mero pressuposto lógico 29 . Podia, até mesmo, significar a
manutenção do seringal como unidade produtiva, não pelo que
produzia de borracha, mas como condição para se ganhar dinheiro,
sobretudo após a crise dos preços do petróleo que ensejou uma nova
política específica para a borracha, o Probor. Veja­se
'O condomínio Tarauacá, do Grupo Agapito Lemos, que possui
mais de 300 mil hectares de terra no município de Tarauacá,
descobriu um novo 'mapa da mina' quando a SUDAM passou a
reconhecer o fracasso de sua política de incentivos para a
implantação de fazendas agropecuárias na região do Juruá. Animado
com os vultosos financiamentos do primeiro e do segundo PROBOR
o grupo passou também a explorar o extrativismo da borracha em 65
seringais, entre os que Agapito Lemos adquiriu ou simplesmente
arrendou. A partir de 1978 o grupo passou a ser duplamente
favorecido pelos financiamentos retirados na agência da
SUDHEVEA, tanto para custeio anula da safra de borracha, como
para reabertura de novas colocações e estradas de seringa. Na safra
do ano passado (1979, de acordo com os financiamentos retirados na
agência do Banco da Amazônia (BASA) de Tarauacá, a produção
deveria ter sido de 300 toneladas, mas não conseguiram reunir nem
150 mil quilos de Borracha. Em Tarauacá o povo pergunta: E o que
Condomínio Tarauacá faz com o dinheiro dos financiamentos do
PROBOR? Logo se descobriu que da mesma forma como os
‘paulistas’ fizeram com a maioria dos financiamentos
agropecuários da SUDAM, o dinheiro da SUDHEVEA foi
vergonhosamente desviado para atividades mais lucrativas na matriz
29 Devemos afastar aqui qualquer sentimento de condenaçào moral a essas práticas posto que
numa sociedade onde a racionalidade é a lógica da acumulação, onde a busca do ouro é a
referência a contradição entre o material e o simbólico chega às raias do absurdo. As noções
reserva de valor e especulação, muito usadas na literartura sobre esse período, tanto sobre o Acre
como para o agro brasileiro como um todo, só muito empobrecidamente dá conta do fenômeno.