11.05.2013 Views

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O procedimento adotado por mim durante as entrevistas foi o de deixar os informantes o mais<br />

à vontade possível. Antes de mais na<strong>da</strong>, explicava o objetivo do trabalho, <strong>em</strong> quê exatamente eu<br />

estava interessa<strong>da</strong> e pedia que ele começasse contando como viera parar na Eletrosul, <strong>em</strong> Florianópolis.<br />

A partir <strong>da</strong>í, procurava interferir minimamente nos depoimentos, apenas tentando orientá-los para a<br />

t<strong>em</strong>ática que me interessava, <strong>da</strong>s relações conjugais e familiares, quando achava que estavam se<br />

desviando muito. Mesmo isso me abstive de fazer, <strong>em</strong> muitos momentos, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as entrevistas,<br />

optando por colher o que o entrevistado estava oferecendo.<br />

Diferente <strong>da</strong> história de vi<strong>da</strong>, onde o pesquisado fala livr<strong>em</strong>ente sobre seu passado, suas expe-<br />

riências, o depoimento implica <strong>em</strong> que haja um interesse específico do pesquisador a orientar os<br />

encontros. Queiroz explica que,<br />

“Ao colher um depoimento, o colóquio é dirigido diretamente pelo pesquisador; pode<br />

fazê-lo com maior ou menor sutileza, mas na ver<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> nas mãos o fio <strong>da</strong> mea<strong>da</strong> e conduz a<br />

entrevista. Da ‘vi<strong>da</strong>’ de seu informante só lhe interessam os acontecimentos que venham se<br />

inserir diretamente no trabalho, e a escolha é unicamente utiliza<strong>da</strong> com esse critério.” (Queiroz,<br />

1988: 21)<br />

Embora esta pesquisa tivesse um interesse específico, o roteiro que utilizei foi relativamente<br />

“frouxo” e cont<strong>em</strong>plou, entre outros, os seguintes pontos: caracterização sócio-econômica <strong>da</strong>s famí-<br />

lias; o contexto <strong>em</strong> que ocorreu a aposentadoria; a significação do trabalho; a percepção <strong>da</strong> relação<br />

conjugal, tendo por marco a aposentadoria (antes/depois); os significados de masculino/f<strong>em</strong>inino e<br />

as atribuições de gênero 6 . Por “frouxo” estou designando um roteiro que permitiu ao entrevistado<br />

falar sobre assuntos não diretamente ligados ao t<strong>em</strong>a específico <strong>da</strong> pesquisa, mas que poderiam se<br />

revelar úteis. Deixá-lo falar sobre sua infância, por ex<strong>em</strong>plo, poderia render boas informações a res-<br />

peito de sua visão sobre as representações de gênero na sua família de orig<strong>em</strong>, papéis masculinos e<br />

f<strong>em</strong>ininos, etc., questões fun<strong>da</strong>mentais para a melhor compreensão do universo dos sujeitos.<br />

Acredito que, dessa forma, estive trabalhando nos limites entre história de vi<strong>da</strong> e depoimento.<br />

Ressalto, entretanto, que as falas traduz<strong>em</strong> as representações que os sujeitos faz<strong>em</strong> nesse momento<br />

sobre suas histórias e, por isto, estão marca<strong>da</strong>s por suas experiências atuais.<br />

Ain<strong>da</strong> que os informantes tenham sido s<strong>em</strong>pre atenciosos, a situação de entrevista <strong>em</strong> si é<br />

s<strong>em</strong>pre muito tensa para mim. Sinto-me numa posição ambígua. Por um lado, preciso <strong>da</strong> informação,<br />

do depoimento. Por outro, não quero constranger de forma nenhuma o entrevistado. Muito menos se<br />

o ponto que estou procurando enfocar é doloroso ou difícil de verbalizar para ele.<br />

Da Matta (1978: 28, grifado no original) explica que “vestir a capa de etnólogo é aprender a realizar<br />

uma dupla tarefa que pode ser grosseiramente conti<strong>da</strong> nas seguintes fórmulas: a) transformar o exótico <strong>em</strong> familiar<br />

e/ou b) transformar o familiar <strong>em</strong> exótico”. No primeiro caso, ele se refere à busca, pelo etnólogo, <strong>da</strong><br />

6 Para os sujeitos entrevistados.<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!