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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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ealizam, conforme vários autores têm apontado, mais na relação com os filhos, que nas relações<br />

entre <strong>casa</strong>is. Tanto que as mu<strong>da</strong>nças na situação funcional/econômica dos homens fragilizam a estes<br />

nas relações familiares e, nas representações <strong>da</strong>s mulheres, tornam-nas mais poderosas mostrando<br />

como são mais fortes e a<strong>da</strong>ptáveis.<br />

Os discursos dos entrevistados, homens e mulheres, circulam sobre a concepção imaginária de<br />

uma masculini<strong>da</strong>de heg<strong>em</strong>ônica, que desestabiliza muitos dos sujeitos homens colocados na situa-<br />

ção de inativos. Não pod<strong>em</strong>os esquecer que a psicologia como l<strong>em</strong>bra Freud <strong>em</strong> artigo de 1933,<br />

relaciona masculini<strong>da</strong>de com ativi<strong>da</strong>de e f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de com passivi<strong>da</strong>de. O que se torna, então, este<br />

inativo, não ativo, no imaginário próprio, familiar e coletivo?<br />

O longo trajeto pela história <strong>da</strong>s relações de trabalho na <strong>em</strong>presa, <strong>em</strong>bora possa ter sido tedi-<br />

oso, teve um motivo que considero justo. Serviu para d<strong>em</strong>onstrar que, ain<strong>da</strong> que a curiosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

pesquisadora tivesse sido instiga<strong>da</strong> pelas queixas <strong>da</strong>s mulheres, estas não marcaram o início <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des pelas quais estes homens passaram. As queixas <strong>da</strong>s mulheres apenas informaram quan-<br />

do a perturbação atingiu o espaço sob sua jurisdição, o doméstico, culturalmente definido como<br />

f<strong>em</strong>inino. Os depoimentos dos homens mostraram, entretanto, que o início de suas tribulações, <strong>da</strong>ta-<br />

vam de quase dez anos antes. Penso que o momento <strong>da</strong>s queixas marcou o encontro, no espaço<br />

doméstico, entre uma mulher segura de sua posição de dona de <strong>casa</strong> (e ciosa de mantê-la) e um<br />

hom<strong>em</strong> cujo status estivera centrado no trabalho e no ganho que este lhe proporcionava e que,<br />

aposentado, inativo, <strong>vira</strong> desaparecer este valor.<br />

Sobre as queixas, gostaria de tecer alguns comentários. Como já disse anteriormente, esta pes-<br />

quisa surgiu a partir de queixas de mulheres. Um dos objetivos desta pesquisa, era descobrir como os<br />

homens estavam reagindo à aposentadoria e às queixas <strong>da</strong>s mulheres. Não procurei descobrir quais<br />

eram as queixas dos homens porque há um entendimento de senso comum de que as queixas são<br />

“coisa de mulher”. O que inclusive, já me foi reiterado <strong>em</strong> várias ocasiões, por homens e mulheres.<br />

- Mas será isso mesmo? Queixas, histerismos, são exclusivos <strong>da</strong>s mulheres?<br />

Na sua concepção de organização e constituição do psiquismo, Freud 25 utiliza, conforme o<br />

faziam seus cont<strong>em</strong>porâneos, a terminologia patológica para diferenciar as estruturas constituí<strong>da</strong>s<br />

nas vivências relacionais de ca<strong>da</strong> sujeito. Na estrutura neurótica, o autor distingue a histeria e a<br />

neurose obsessiva, ligando a primeira à passivi<strong>da</strong>de, enquanto a segun<strong>da</strong> seria marca<strong>da</strong> pela ativi<strong>da</strong>-<br />

de. Assim, a histeria estaria do lado <strong>da</strong> f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de e a neurose obsessiva, seria mais própria do<br />

masculino. No entanto, o autor concebe que masculini<strong>da</strong>de e f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de estão desliga<strong>da</strong>s dos sexos<br />

biológicos, encontrando-se, <strong>em</strong> níveis variados, nos homens e nas mulheres. Desta forma, tanto as<br />

25 Cf. Freud (1896) “Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa” Cap. I e Cap. II, cf. também “Estudo sobre a<br />

histeria” (1895), escrito <strong>em</strong> colaboração com Dr. J. Breuer. Nesta época, Freud ain<strong>da</strong> postulava a teoria do trauma de infância<br />

substituí<strong>da</strong> posteriormente, <strong>em</strong> seus textos, pela teoria <strong>da</strong> sedução - cf. “Uma criança é espanca<strong>da</strong>” (1919).<br />

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