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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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Nessa referência a Freud, que dialoga com os discursos disciplinares de sua época, utilizando<br />

seus conceitos, à medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que os relativiza e complexifica, pod<strong>em</strong>os perceber a longa tradição que<br />

liga masculini<strong>da</strong>de à ativi<strong>da</strong>de e f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de à passivi<strong>da</strong>de.<br />

Daniel Welzer-Lang <strong>em</strong> recente s<strong>em</strong>inário 21 na <strong>UFSC</strong>, reiterou que a masculini<strong>da</strong>de, a virili<strong>da</strong>-<br />

de, d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>m de um hom<strong>em</strong> uma considerável energia no sentido de sufocar qualquer “f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>-<br />

de” que possa eventualmente <strong>em</strong>ergir de si.<br />

Visto que na cultura ocidental a passivi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> é um atributo preconizado para o f<strong>em</strong>inino,<br />

e a ativi<strong>da</strong>de para o masculino, revela-se mais um motivo poderoso para a necessi<strong>da</strong>de de uma saí<strong>da</strong><br />

“honra<strong>da</strong>.”<br />

Uma “capitulação honrosa” é uma derrota que não parece derrota. Uma derrota na qual é possível<br />

tentar salvar um pouco <strong>da</strong> auto-estima, já abala<strong>da</strong> anteriormente, do golpe que a sensação de fracas-<br />

so advin<strong>da</strong> de uma d<strong>em</strong>issão inflige a qualquer um. Golpe que terá conseqüências mais profun<strong>da</strong>s<br />

ain<strong>da</strong> se o d<strong>em</strong>itido for hom<strong>em</strong>, visto ser o trabalho, segundo Nolasco (1995), constitutivo <strong>da</strong> iden-<br />

ti<strong>da</strong>de masculina.<br />

A “guerra fratrici<strong>da</strong>” , por sua vez, refere-se ao fato de que os relacionamentos profissionais<br />

construídos ao longo dos últimos quinze anos, sucumbiram às pressões externas. O primeiro golpe já<br />

havia sido <strong>da</strong>do pela greve que dividiu os funcionários <strong>em</strong> grevistas e não grevistas, e o golpe fatal foi<br />

<strong>da</strong>do pelo plano de d<strong>em</strong>issão voluntária, que instalou uma espécie de luta pela sobrevivência, ou<br />

melhor, pela permanência na <strong>em</strong>presa, como ver<strong>em</strong>os mais adiante .<br />

Schirato faz duras críticas ao Plano de D<strong>em</strong>issão Voluntária ao afirmar que ele<br />

“...não existe. É uma mentira. Quando uma <strong>em</strong>presa abre um programa com esse nome,<br />

ela já decidiu quantos vão ser d<strong>em</strong>itidos, e qu<strong>em</strong> são eles. O funcionário que consta <strong>da</strong> lista t<strong>em</strong><br />

apenas duas opções: ou assina a d<strong>em</strong>issão voluntariamente, para receber os benefícios propostos,<br />

ou é d<strong>em</strong>itido s<strong>em</strong> ganhar na<strong>da</strong> <strong>em</strong> troca. “ (Schirato, Revista Veja, 14 de abril, 1999,<br />

pág. 11-12)<br />

Ain<strong>da</strong> que haja uma lista pronta, existe a possibili<strong>da</strong>de de que funcionários que não estejam<br />

nela, adiram ao plano de acordo com sua conveniência. Em vista disso, começaram a surgir atitudes<br />

por parte de alguns <strong>em</strong>pregados no sentido de pressionar colegas para que aderiss<strong>em</strong> ao plano, numa<br />

lógica pre<strong>da</strong>tória que pode ser descrita como “quantos mais eu conseguir convencer a sair, mais<br />

chances eu tenho de permanecer”.<br />

Ex<strong>em</strong>plifico com o caso de uma entrevista<strong>da</strong> que ouviu de seu marido que o ambiente no seu<br />

setor estava ficando insustentável.<br />

Nessa época, a separação <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa <strong>em</strong> duas para que uma fosse vendi<strong>da</strong>, já havia sido<br />

efetiva<strong>da</strong>. Uma <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas manteve-se estatal e seus <strong>em</strong>pregados continuaram a gozar de estabili-<br />

21 S<strong>em</strong>inário Bissexuali<strong>da</strong>de e Violência Masculina contra a Mulher, <strong>UFSC</strong>, dez<strong>em</strong>bro, 2000.<br />

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