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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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Por tudo o que foi dito, pela forte positivi<strong>da</strong>de que foi coloca<strong>da</strong> na ativi<strong>da</strong>de nas falas, penso<br />

que a situação de aposentado ou inativo colocou alguns sujeitos quase numa condição de estigmatizados.<br />

As mulheres não os quer<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>casa</strong>, os filhos “perd<strong>em</strong> o respeito”, vão-se os amigos, o poder<br />

econômico, a saúde...<br />

Penso também que, aquilo que chamei de “desconforto animado” poderia estar ligado à percepção,<br />

pelo sujeito, de sua condição de aposentado/d<strong>em</strong>issionário/inativo, como inferioriza<strong>da</strong>. Se a<br />

ativi<strong>da</strong>de é vista como um mvalor <strong>da</strong> masculini<strong>da</strong>de, a inativi<strong>da</strong>de, estado associado ao des<strong>em</strong>prego<br />

ou aposentadoria, certamente será estigmatizante para o sujeito. Um sujeito estigmatizado, no sentido<br />

usado por Goffman, é um sujeito que “...t<strong>em</strong> um atributo que o torna diferente dos outros que se encontram<br />

numa categoria <strong>em</strong> que pudesse ser incluído...” (Goffman, 1963: 12). O que nos leva a perceber que no<br />

imaginário masculino, um sujeito <strong>em</strong> i<strong>da</strong>de considera<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> produtiva não deveria ter o status de<br />

inativo...<br />

Mas é no imaginário masculino ou social? Dois motivos me levam a crer que esta questão<br />

transcende a esfera do masculino. Primeiro, visto que a mulher que não trabalha n<strong>em</strong> ao menos <strong>em</strong><br />

sua própria <strong>casa</strong>, também recebe seu quinhão de gozações (como, por ex<strong>em</strong>plo, sendo apeli<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pejorativamente de dondoca), a ativi<strong>da</strong>de me parece estar qualifica<strong>da</strong> como um valor não só <strong>da</strong><br />

masculini<strong>da</strong>de ou f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de, mas <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de <strong>em</strong> geral. Segundo, o fato de que alguns<br />

depoimentos de mulheres deixaram b<strong>em</strong> claro seu descontentamento com a situação de relativa inativi<strong>da</strong>de<br />

de seus parceiros. Digo relativa porque mesmo o hom<strong>em</strong> que após a aposentadoria preencheu<br />

todo o seu t<strong>em</strong>po com ativi<strong>da</strong>des acadêmicas, de cunho social e políticas, foi duramente criticado<br />

por sua mulher por não estar exercendo nenhuma ativi<strong>da</strong>de r<strong>em</strong>unera<strong>da</strong>.<br />

Goffman aponta três tipos de estigma: as deformi<strong>da</strong>des físicas, as culpas de caráter individual,<br />

e as marcas tribais, de raça ou religião. Os inativos estariam situados no segundo tipo, <strong>da</strong>s culpas de<br />

caráter individual. O autor afirma que estas culpas pod<strong>em</strong> ser<br />

“...percebi<strong>da</strong>s como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígi<strong>da</strong>s, desonesti<strong>da</strong>de,<br />

sendo essas inferi<strong>da</strong>s a partir de relatos conhecidos de, por ex<strong>em</strong>plo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo,<br />

homossexualismo, des<strong>em</strong>prego, tentativas de suícido e comportamento político radical.” (Goffman, 1963: 14)<br />

É certo que o des<strong>em</strong>prego do qual Goffman está falando se refere mais a uma incapaci<strong>da</strong>de do<br />

sujeito se manter <strong>em</strong>pregado, e não a alguém que teve uma ocupação estável durante 25 ou 30 anos<br />

e depois aposentou-se, ou aderiu a um plano de d<strong>em</strong>issão voluntária. Porém, a associação que Goffman<br />

diz ser possível entre des<strong>em</strong>prego e vontade fraca, pode <strong>da</strong>r uma idéia do peso sovial que pode ser<br />

para esses homens, não estar <strong>em</strong>pregado.<br />

Outro ponto abor<strong>da</strong>do por ele é do encontro entre os normais23 e os estigmatizados, a chama-<br />

<strong>da</strong> “situação social”. Para ele, este se caracteriza como um momento de tensão e insegurança, onde<br />

23 Goffman usa esse termo para referir-se aos sujeitos que não estão submetidos a uma marca estigmatizante <strong>em</strong> relação a outro<br />

ou outros que estão.<br />

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