Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
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Disposta e ele preguiçoso...<br />
“Eu sou muito de não levar o probl<strong>em</strong>a para frente, para dividir. Isso talvez me desgaste um<br />
pouco, me dê uma dor de estômago, mas eu tenho muito jogo de cintura para resolver as coisas, né? (...)<br />
Ele essa s<strong>em</strong>ana recebeu um telefon<strong>em</strong>a de um cliente que comprou um software e queimou o computador<br />
e ele perdeu o programa. Eu estou brigando com ele porque ele tentou montar de novo, pegar os<br />
pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong>s coisas, que está tudo espalhado, e falou: ‘Eu não tenho saco para fazer isso.’ Eu falei:<br />
‘Gente, eu não acredito que você vai fazer isso com o cara. Primeiro, porque você está com a oportuni<strong>da</strong>de<br />
de vender um outro, né? Porque o cara não está te pedindo para você man<strong>da</strong>r um para ele de<br />
graça, ele está querendo te comprar outro. Segundo, que o cara usa o seu programa, usa d<strong>em</strong>ais.’ E aí,<br />
o que acontece? Ele tá s<strong>em</strong> saco!” (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />
A<strong>da</strong>ptável e ele rígido...<br />
“E isso aí, eu acho que to<strong>da</strong> essa rebordosa de 94 para cá, me deu essa... vamos dizer assim,<br />
essa cancha de saber levar a coisa. (...) ele não t<strong>em</strong> jogo de cintura...” (Entrevista - Esposa de<br />
aposentado)<br />
Responsável, sofredora e ele dependente...<br />
“Mas, olha, coita<strong>da</strong> <strong>da</strong> mulher, ela sofre. E o pior que ela falou: ‘Eu não posso largar dele<br />
porque ele não t<strong>em</strong> n<strong>em</strong> família para ficar com ele. Vou botar aonde? Num hospital psiquiátrico e<br />
esquecer lá?’ Ela sofre horrores.” (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />
Como vimos, a aposentadoria, além de trazer probl<strong>em</strong>as relacionados à auto-imag<strong>em</strong> masculi-<br />
na frente a outros homens, também trouxe dificul<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à sua imag<strong>em</strong> frente às mulhe-<br />
res, principalmente àquela com a qual o hom<strong>em</strong> convive.<br />
4.3.6 Inativi<strong>da</strong>de – uma questão além do trabalho...<br />
Todos os aspectos abor<strong>da</strong>dos até agora contribuíram na construção de uma imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> situa-<br />
ção pela qual passaram esses sujeitos, necessária para que o objetivo <strong>da</strong> pesquisa, compreender as<br />
interrelações entre a aposentadoria e as relações conjugais, fosse atingido.<br />
Entretanto, para mim, nenhum deles se mostrou mais revelador do que as representações sobre<br />
a ativi<strong>da</strong>de e a inativi<strong>da</strong>de que aparec<strong>em</strong> nas falas dos entrevistados. Nelas pod<strong>em</strong>os encontrar pon-<br />
tos no<strong>da</strong>is <strong>da</strong> questão.<br />
De acordo com os relatos, a ativi<strong>da</strong>de é “fun<strong>da</strong>mental” e pode ser vista, até mesmo como<br />
salvaguar<strong>da</strong> contra males do corpo e, principalmente, do espírito.<br />
“No ano passado ele desenvolveu um trabalho (...) foi muito bom, porque aí voltou, ele começou,<br />
melhorou a auto-estima, porque ele achava que ele não servia mais para engenharia, que... que ele<br />
estava, vamos dizer... sucateado, né? (...)porque na reali<strong>da</strong>de... você vê como é que são as coisas: ele<br />
estava louco para voltar para a engenharia... é... voltar para um trabalho... um trabalho.” (Entrevista<br />
- Esposa de aposentado)<br />
“Eu acho que uma <strong>da</strong>s coisas que foi ótima foi o (nome) ter deixado uma ativi<strong>da</strong>de e ter<br />
sonhado uma outra, porque ele tinha uma coisa para fazer. Porque deve ser terrível você viver uma<br />
situação, uma modificação dessas e a pessoa ain<strong>da</strong> adoecer.” (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />
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