11.05.2013 Views

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

apenas apertando botões de uma máquina, s<strong>em</strong> a menor noção de qualquer um dos processos, feitura<br />

do pão, construção <strong>da</strong> máquina ou criação do programa que ela executa, ele, na reali<strong>da</strong>de, não se<br />

especializa <strong>em</strong> na<strong>da</strong> ou não sabe na<strong>da</strong>. De acordo com Sennett “o trabalho não é mais legível para eles no<br />

sentido de entender o que estão fazendo.” (Id<strong>em</strong>: 80) Nesta mesma pa<strong>da</strong>ria, há uma outra <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> que<br />

diz poder trabalhar <strong>em</strong> muitos lugares, como “pa<strong>da</strong>ria, sapataria, gráfica, é só dizer, eu tenho as qualifica-<br />

ções” (Id<strong>em</strong>: 83). Sua afirmativa se baseia na convicção de que as “qualificações necessárias” não vão<br />

além de “apertar botões.” Para Sennett, a “especialização flexível serve à alta tecnologia; graças ao computa-<br />

dor, é fácil reprogramar e configurar máquinas industriais.” (Id<strong>em</strong>: 60).<br />

O autor enfatiza que outra habili<strong>da</strong>de necessária ao trabalhador atual é a capaci<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r<br />

com a fragmentação, nas chama<strong>da</strong>s “ilhas de produção”, partes integrantes dos arquipélagos de produ-<br />

ção. Os arquipélagos de produção se caracterizam por organizar<strong>em</strong>-se de forma matricial, onde as<br />

ilhas são forma<strong>da</strong>s para a execução de tarefas específicas. Fin<strong>da</strong>s as tarefas, dissolv<strong>em</strong>-se as ilhas e as<br />

competências (pessoais ou grupais), aglutina<strong>da</strong>s especificamente para aquelas tarefas, separam-se e<br />

se reagrupam <strong>em</strong> novas ilhas para execução <strong>da</strong>s tarefas seguintes. Essa forma de organização é váli<strong>da</strong><br />

tanto para o trabalho dentro <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas quanto para os prestadores de serviços.<br />

Sennett afirma que “capaci<strong>da</strong>de de desprender-se do próprio passado, confiança para aceitar a fragmenta-<br />

ção: esses são dois traços que aparec<strong>em</strong> (...) entre pessoas realmente à vontade no novo capitalismo.” (Sennett,<br />

2000: 73)<br />

Diante <strong>da</strong> perspectiva de uns poucos se manter<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregados e muitos ser<strong>em</strong> excluídos, co-<br />

meçam a surgir algumas propostas de novas mu<strong>da</strong>nças na concepção de trabalho. Propostas como a<br />

de Domenico di Masi que afirma ser “preciso introduzir o teletrabalho e a s<strong>em</strong>ana brevíssima. Desse modo,<br />

modifica-se não só a organização do trabalho, mas também a <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (Masi, 2000: 166), no sentido de<br />

diminuir a carga de ca<strong>da</strong> trabalhador para garantir uma parcela do trabalho para todos, já que é do<br />

trabalho que extrai a subsistência.<br />

Surg<strong>em</strong> também propostas como a de Enguita, (s/d apud Carmo, 1992) 18 , afirmando que “o<br />

trabalho não será nunca o reino <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, de forma que se torna necessário falar de uma cultura do ócio e do<br />

t<strong>em</strong>po livre” , no sentido de educar os ci<strong>da</strong>dãos para que o ócio não seja visto como sinônimo de<br />

inativi<strong>da</strong>de ou improdutivi<strong>da</strong>de, mas como possibili<strong>da</strong>de de exercício <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, de estudo, de<br />

lazer, de prazer e de criação.<br />

“No processo produtivo, <strong>em</strong> que o ser humano transforma e é transformado, o trabalho,<br />

como ação humaniza<strong>da</strong>, impõe assimilações <strong>em</strong> aspectos fisiológicos, morais, sociais e econômicos.<br />

É el<strong>em</strong>ento chave na formação <strong>da</strong>s coletivi<strong>da</strong>des e, portanto, dos valores que tais coletivi<strong>da</strong>des<br />

difund<strong>em</strong>.” (Zanelli e Silva, 1996: 21-22)<br />

18 <strong>Maria</strong>no F. Enguita, “Tecnologia e socie<strong>da</strong>de: A ideologia <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de técnica, a organização do trabalho...” In Tomaz T.<br />

<strong>da</strong> Silva (Org.) Trabalho, educação e prática social. Porto Alegre: Artes Médicas, s/d.<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!