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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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“É difícil você tirar o filho do colégio particular para botar para o público. É difícil você ter que<br />

ir na escola negociar o pagamento que você não fez... t<strong>em</strong> três meses que você não faz, né? Porque a<br />

escola é uma <strong>em</strong>presa, ela não quer saber. Ele não diz para você: se a senhora não pode manter o filho<br />

aqui, a senhora tira. Ele não diz isso, mas ele olha na sua cara, escuta e fala: ‘Eu não posso fazer<br />

na<strong>da</strong>. ...a senhora vai <strong>da</strong>r um cheque para três meses?’ Ele bota lá o juro de três meses e te cobra. E<br />

tudo isso... é difícil para caramba. É muito difícil. E eu passei por várias situações assim, e eu é que<br />

tinha que ir porque o (nome) não iria. “ (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />

Já um dos entrevistados manifestou sua vergonha por ter que assumir diante do filho sua inca-<br />

paci<strong>da</strong>de de fazer face a uma despesa que ele próprio considerava muito pequena.<br />

“Outro dia, meu filho, saiu do banho... lá <strong>em</strong> <strong>casa</strong> e me falou: ‘Pai, t<strong>em</strong> que consertar esse<br />

chuveiro. A água não esquenta, tá muito frio.´ Eu não tenho dinheiro pra man<strong>da</strong>r consertar! Deve<br />

custar o que? N<strong>em</strong> c<strong>em</strong> reais. E eu não tenho. E como é que você fala pro seu filho: ‘Eu não tenho<br />

dinheiro para consertar um chuveiro?’ E é um chuveiro elétrico, comum.” (Entrevista - <strong>Hom<strong>em</strong></strong><br />

aposentado)<br />

As dificul<strong>da</strong>des econômicas impuseram muitas mu<strong>da</strong>nças radicais nos modos de vi<strong>da</strong> dessas<br />

famílias. Entretanto, estas mu<strong>da</strong>nças foram percebi<strong>da</strong>s no relato de uma <strong>da</strong>s entrevista<strong>da</strong>s, como<br />

sendo fator de amadurecimento, de aprendizado. Suas falas mostram que ela encarou essas mu<strong>da</strong>nças<br />

como avanços <strong>em</strong> direção ao modo de vi<strong>da</strong> americano ou europeu, fazendo inclusive uma expectati-<br />

va de que esta mu<strong>da</strong>nça atinja a todos, quando diz que “o Brasil caminha para isso.”<br />

“Tiv<strong>em</strong>os que cortar um monte de mordomias (...) é dramático porque você tirar, é difícil, mas<br />

depois também mostrou que era supérfluo.” (...) Isso amadureceu bastante, todo mundo, né? (...) Só<br />

que isso, é... eu não sei te dizer se é ruim ou se é bom (risos). Mas eu estou para te dizer que não é ruim.<br />

Isso ensina a gente a viver de outra maneira. Por que eu antes, eu comprava uma geladeira <strong>em</strong> cinco<br />

vezes por que eu sabia que eu (...) tinha o dinheiro durante os cinco meses para pagar. Que todo dia<br />

15, dia 30 entrava dinheiro. Hoje não, hoje eu espero os cinco meses para poder comprar ela à vista.<br />

Entendeu? Então é diferente, A gente aprende a viver... diferente, né? Então é... são coisas assim<br />

que... amadurec<strong>em</strong>, é uma outra maneira de viver. O europeu vive assim, o americano vive assim, é que<br />

a gente não têm o hábito de viver assim. Mas não é ruim.” (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />

“Fazer o seu... é difícil, sabe? É muito difícil. Por que a gente não sabe fazer isso. Eu ain<strong>da</strong><br />

não sei fazer, sabe? Nós aqui <strong>em</strong> <strong>casa</strong> ain<strong>da</strong> não sab<strong>em</strong>os fazer isso. Eu acho tão interessante quando<br />

alguém me conta que... por ex<strong>em</strong>plo, as meninas voltaram do intercâmbio, as amigas (americanas)<br />

vão para a universi<strong>da</strong>de, elas têm uma poupança desde que nasceram, os pais faz<strong>em</strong> uma poupança<br />

para pagar a universi<strong>da</strong>de. Imagina! Eu acho que a gente não ia ter essa tolerância de ficar vinte anos<br />

guar<strong>da</strong>ndo sei lá quantos dólares, quantos reais por mês para o filho ir para universi<strong>da</strong>de... a gente<br />

não sabe fazer isso. E... então eu acho que caminha para isso. Sabe? Só que a gente tá... a duras<br />

penas... aprendendo, né? (...)O pessoal de fora, eles têm essa coisa do trabalho, não importa... qualquer<br />

trabalho é trabalho, sabe? Então, eu acho que o Brasil vai caminhar para isso por que a<br />

mentali<strong>da</strong>de dos filhos <strong>da</strong> gente... eles ain<strong>da</strong> não têm corag<strong>em</strong>. Mas se todos os amigos fizess<strong>em</strong> eles<br />

iam também. Sabe essa coisa assim? “ (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />

Assim ela conclui,<br />

“Porque, uma coisa eu aprendi: se você ganha três, você vive com três. Se você ganha dez, que<br />

ótimo você vive com dez. Mas, se você ganha mil, você t<strong>em</strong> que aprender a viver com mil.(...) Então, a<br />

gente aprende, não precisa de muita coisa. Então, com isso, também consegue equilibrar mais as<br />

finanças. Não é?” (Entrevista - Esposa de aposentado)<br />

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