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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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Enjoado...<br />

Inerte...<br />

Egoísta...<br />

Culpado...<br />

“ Ah, pelo amor de Deus! Um sujeito de cinquenta, sessenta anos, advogado, podia estar<br />

trabalhando até de graça, lá no Fórum, na polícia ali. T<strong>em</strong> os processos dos presos, t<strong>em</strong> tanta coisa...<br />

que v. pode fazer. Que abre a sua cabeça. Mas, não minha filha, é desse jeito. Não faz absolutamente<br />

na<strong>da</strong>. Agora, aju<strong>da</strong> <strong>em</strong> <strong>casa</strong> a mulher e tudo. Mas deve ter um papo enjoado, sabe? Só lê o jornal no<br />

domingo. Para não gastar muito, não assina o jornal de segun<strong>da</strong> a segun<strong>da</strong>, então só compra o Diário<br />

de domingo. Então, n<strong>em</strong> as notícias do que está acontecendo, ele não sabe. Só vê de televisão. Se ain<strong>da</strong><br />

gostasse de leitura...” (Entrevista – Esposa de aposentado)<br />

“Um advogado, um hom<strong>em</strong> que trabalhou trinta e tantos anos no direito <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa. Era <strong>da</strong><br />

Eletrosul. Não faz absolutamente na<strong>da</strong>! Na<strong>da</strong>!” (Entrevista – Esposa de aposentado)<br />

“...também lógico se você é inútil, (...) se você, - oh não, agora vou gozar a minha aposentadoria,<br />

então eu vou ficar <strong>em</strong> <strong>casa</strong> vendo duzentos milhões de filme, é uma posição meio egoísta.” (Entrevista<br />

- <strong>Hom<strong>em</strong></strong> aposentado)<br />

“A pessoa... aposenta<strong>da</strong> dentro de <strong>casa</strong>... ele começou a se sentir culpado, né?” (Entrevista –<br />

Esposa de aposentado)<br />

Doido...<br />

“Porque corta aquele ritmo, né? Então eles ficam doidos.” (Entrevista – Esposa de aposentado)<br />

A maioria destas falas, apontou para o que Zanelli e Silva já haviam observado sobre como os<br />

outros perceb<strong>em</strong> a disponibili<strong>da</strong>de de t<strong>em</strong>po de qu<strong>em</strong> está aposentado. Segundo eles, o t<strong>em</strong>po de que<br />

dispõe um aposentado “de imediato é ligado ao ócio, ao ‘não fazer’, ao ‘deixar a vi<strong>da</strong> correr’. O sentimento que<br />

é contraposto ao direito de aproveitar o t<strong>em</strong>po, é o <strong>da</strong> inutili<strong>da</strong>de.” (Zanelli e Silva, 1996: 27)<br />

As falas também apontam claramente para a inativi<strong>da</strong>de como causadora de doenças. Algumas<br />

revelam medo de doenças ou a certeza que o aposentado está sujeito a elas.<br />

situação.<br />

“Estão aproveitando, mas eu acho que estão adoecendo. É, adoecendo. Eu acho que a pessoa...<br />

ele está feliz porque não t<strong>em</strong> aquela rotina de oito horas por dia dentro de um escritório, aquela coisa.<br />

Mas ele também, se não t<strong>em</strong> na<strong>da</strong> para fazer, aí dói aqui, dói ali. Eu encontrei um <strong>casa</strong>l há poucos<br />

dias. Achei ele péssimo, está até s<strong>em</strong> cor. Não disse para ele que está doente, mas, assim... a cabeça<br />

branqueou de vez.” (Entrevista – Esposa de aposentado)<br />

“O meu maior medo de tudo isso era do R. ficar doente, entrar <strong>em</strong> depressão... Aquele hom<strong>em</strong><br />

que não queria mais na<strong>da</strong>, aquela pessoa que não sai do quarto, aquela pessoa agressiva (...) então eu<br />

tenho muito medo que ele viesse a adoecer... “ (Entrevista – Esposa de aposentado)<br />

Os relatos também revelam que alguns dos sujeitos. enfrentaram uma face mais dramática <strong>da</strong><br />

“Dos que eu conheço, um era alcoólatra, e voltou a beber. Tá um inferno. Tinha parado, e<br />

voltou a beber depois que aposentou. E...quer voltar a trabalhar, mas ninguém chama. Porque ele<br />

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