11.05.2013 Views

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mas se, ao contrário, o eixo <strong>em</strong> torno do qual construíram sua identi<strong>da</strong>de foi o trabalho, os probl<strong>em</strong>as<br />

serão inevitáveis.<br />

Zanelli e Silva, no entanto, afirmam que<br />

“o rompimento <strong>da</strong>s relações de trabalho t<strong>em</strong> impacto indiscutível, ain<strong>da</strong> que varie de<br />

pessoa para pessoa no contexto global <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A aposentadoria implica b<strong>em</strong> mais que um<br />

simples término de carreira. A interrupção <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des pratica<strong>da</strong>s durante muitos anos, o<br />

rompimento dos vínculos e troca de hábitos cotidianos representam imposições de mu<strong>da</strong>nça no<br />

mundo pessoal e social.” (Zanelli e Silva, 1996: 28)<br />

Com efeito, após a concretização <strong>da</strong> aposentadoria, muitas mu<strong>da</strong>nças se impuseram nas vi<strong>da</strong>s<br />

dos sujeitos entrevistados. Os relatos nos permit<strong>em</strong> entrever como se traduziu essa experiência para<br />

eles, <strong>em</strong> aspectos distintos de suas vi<strong>da</strong>s.<br />

Um dos impactos do rompimento <strong>da</strong>s relações de trabalho fica ex<strong>em</strong>plificado <strong>em</strong> um aconteci-<br />

mento que me foi relatado pelas assistentes sociais <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa, a revolta que causou nos recém<br />

aposentados o fato de ter<strong>em</strong> que se utilizar de um crachá de visitante para ingressar<strong>em</strong> no prédio.<br />

Este episódio indica a dificul<strong>da</strong>de na aceitação <strong>da</strong> desvinculação com a <strong>em</strong>presa, por parte de ex-<br />

<strong>em</strong>pregados. A pressão cria<strong>da</strong> pela manifestação desses aposentados como grupo, redundou na insti-<br />

tuição de um crachá específico para os aposentados.<br />

Schirato afirma que uma <strong>da</strong>s conseqüências do modelo de administração onde a <strong>em</strong>presa cui<strong>da</strong><br />

de tudo é a “cultura do crachá”. Segundo ela, isto ocorre quando, além do vínculo <strong>em</strong>pregatício, há um<br />

vínculo <strong>em</strong>ocional ligando a <strong>em</strong>presa e o <strong>em</strong>pregado, levando com que este perca sua identi<strong>da</strong>de<br />

social e passe a se identificar com ela. Para a autora “...<strong>em</strong>presa como grande mãe gera filhos dependentes,<br />

trabalhadores inseguros e s<strong>em</strong> vi<strong>da</strong> pessoal.” (Schirato, Revista Veja, 14 de abril, 1999, pág. 13)<br />

As palavras de um dos informantes pod<strong>em</strong> ilustrar um pouco do que fala Schirato. Elas ex-<br />

põ<strong>em</strong> a sua (dele) identificação com a profissão que exercia antes de ingressar na <strong>em</strong>presa e as<br />

dificul<strong>da</strong>des nesse aspecto, depois de contratado.<br />

“Aqui na Eletrosul eu me senti meio perdido no começo, porque puxa vi<strong>da</strong>, lá como professor,<br />

não ganhava grandes coisas não, mas eu sabia o que eu era, independente do que eu ia <strong>da</strong>r, o que eu<br />

não ia <strong>da</strong>r, se os alunos iam gostar, se os alunos iam me xingar, então eu era mais ou menos eu<br />

dominava o que eu ia fazer. Aqui eu era uma pecinha numa imensa engrenag<strong>em</strong> sabe, que eu não<br />

sabia qual era a utili<strong>da</strong>de que eu tinha nesse negócio. (...) porque o pessoal dizia assim, ‘esse aqui é<br />

um servente de pedreiro, o cara n<strong>em</strong> sabe o que está construindo (...) mistura a massa aí, levanta essa<br />

parede aqui.’ (...) Aí perguntam - ‘o que você tá fazendo é uma ponte, é um grupo escolar ou uma<br />

<strong>casa</strong>?’ O cara n<strong>em</strong> sabe, n<strong>em</strong> se interessa. Mas eu era um imbecil com diploma. O cara dizia assim<br />

‘calcula o vertedor de (...)’ eu calculava. ‘Agora o de (....)’, eu calculava também. Mas eu não me<br />

interessava se a obra era boa para o Brasil ou se não era, se era superfatura<strong>da</strong> se não era, se era uma<br />

sacanag<strong>em</strong> que ia beneficiar (...) então eu estou dizendo que imbecil com diploma t<strong>em</strong> muito. Eu era<br />

um.” (Entrevista - <strong>Hom<strong>em</strong></strong> aposentado)<br />

No aspecto econômico, a aposentadoria revelou-se como o início de um período de muitas<br />

dificul<strong>da</strong>des financeiras. O primeiro impacto sentido foi a que<strong>da</strong> no padrão de vi<strong>da</strong>. Para os aposen-<br />

62

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!