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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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Essas atitudes me induziram a pensar que devo tomar certos cui<strong>da</strong>dos porque, parece, não é<br />

to<strong>da</strong> a fala que está autoriza<strong>da</strong> a ser divulga<strong>da</strong>. Penso que a autorização formal <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos informan-<br />

tes poderia estar vincula<strong>da</strong> apenas ao que está gravado, associado à entrevista <strong>em</strong> si. Os outros<br />

momentos, antes e depois <strong>da</strong> gravação, pod<strong>em</strong> não ter se caracterizado para eles como parte <strong>da</strong><br />

entrevista propriamente dita.<br />

Não tive dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong> obter entrevistas, pelo menos não por parte dos sujeitos contatados,<br />

mas ain<strong>da</strong> persiste a diferença na expressão de sentimentos. Embora nesta pesquisa eu tenha perce-<br />

bido uma mu<strong>da</strong>nça na atitude dos entrevistados, <strong>em</strong> relação à experiência de pesquisa que realizei<br />

anteriormente, notei que a explicitação de sentimentos e <strong>em</strong>oções para os informantes do sexo mas-<br />

culino, na maior parte <strong>da</strong>s vezes, está liga<strong>da</strong> às questões do mundo do trabalho. A expressão de<br />

sentimentos e <strong>em</strong>oções associa<strong>da</strong>s a questões liga<strong>da</strong>s à família e aos relacionamentos <strong>em</strong> depoimen-<br />

tos desse tipo, continua a ser mais própria <strong>da</strong>s mulheres.<br />

Sobre isso, gostaria de contar umas histórias. Quando fiz minha primeira pesquisa de campo, os<br />

sujeitos que iria entrevistar eram todos homens. Esperei ansiosa respostas à minha solicitação de<br />

entrevista por quase dois meses e recebi apenas três manifestações. Morria de inveja de uma colega<br />

que fazia sua pesquisa exclusivamente com mulheres e que comparecia aos encontros de orientação<br />

levando fitas cassete rechea<strong>da</strong>s de entrevistas com suas informantes. Eu, que ia aos encontros ape-<br />

nas para comunicar que ninguém havia respondido minhas cartas, perguntava-me por que falar de si<br />

era tão difícil para os homens. Concluí que o assunto que eu estava abor<strong>da</strong>ndo era comprometedor<br />

para eles e por isso não queriam se expor.<br />

T<strong>em</strong>pos depois, cedendo novamente à curiosi<strong>da</strong>de sobre o universo masculino, comecei a <strong>em</strong>-<br />

preender esta pesquisa. Desta vez, por força <strong>da</strong>s circunstâncias, entrevisto algumas mulheres tam-<br />

bém e com elas consigo mais informações... sobre os próprios homens.<br />

Ao assistir a apresentação de um trabalho sobre masculini<strong>da</strong>de <strong>em</strong> um congresso, qual não foi<br />

minha surpresa quando o autor começou seu relato dizendo: “Foram entrevista<strong>da</strong>s vinte mulheres...”<br />

Mulheres?, pensei. Mas por que entrevistamos mulheres para saber dos homens? Perguntei ao pes-<br />

quisador porque havia entrevistado mulheres e não homens e ele me respondeu que elas <strong>da</strong>vam<br />

melhores entrevistas, falavam mais. Os homens não eram muito acessíveis. Percebi, então, que essa<br />

era uma questão que atravessava outros trabalhos.<br />

As mulheres seriam mais acessíveis? Dispostas? É o que parece, pelo menos quando o assunto<br />

envolve <strong>em</strong>oções e sentimentos. No entanto, gostaria de fazer algumas observações a esse respeito.<br />

Em primeiro lugar, durante as entrevistas grava<strong>da</strong>s com os homens, não creio que tenha havido<br />

propriamente uma “ausência” <strong>da</strong> expressão de sentimentos e <strong>em</strong>oções. Ela estava lá, sim, só que<br />

quase que exclusivamente volta<strong>da</strong> ao relacionamento deles com a <strong>em</strong>presa e seus dirigentes. Em<br />

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