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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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nado projeto, ele disse categoricamente que não o fariam porque ele não tinha dinheiro para tal. Ela<br />

disse que fariam sim, porque ela estava pagando. E assim foi feito, porém, ela me disse que ele<br />

confessou não ter gostado de usufruir um benefício pago com dinheiro ganho por ela, sentindo-se um<br />

aproveitador.<br />

Aproveitei outra caminha<strong>da</strong> para entregar um objeto que pertencia a uma amiga, <strong>em</strong> sua <strong>casa</strong>.<br />

Colocando nossos assuntos <strong>em</strong> dia, ela me perguntou como an<strong>da</strong>vam meus projetos acadêmicos.<br />

Quando falei <strong>da</strong> pesquisa, ela contou que não tivera nenhum probl<strong>em</strong>a com seu marido após a apo-<br />

sentadoria deste. Fiquei curiosíssima. Ali estava um depoimento destoante dos outros que já havia<br />

recebido. Ela continuou falando e logo surgiu sua explicação para o fato de não ter<strong>em</strong> havido proble-<br />

mas no relacionamento. Quando seu marido se aposentou, tratou de não ficar <strong>em</strong> <strong>casa</strong> parado. Fez<br />

vestibular novamente e partiu para outra carreira que, segundo ela, era um sonho dele. Ain<strong>da</strong> de<br />

acordo com ela, eles não tiveram probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> <strong>casa</strong>, não só <strong>em</strong> função desse projeto do marido,<br />

como do imediato engajamento dele. Assim que parou com uma ativi<strong>da</strong>de começou a outra. Em<br />

outra ocasião, recebi um depoimento s<strong>em</strong>elhante, <strong>em</strong> que a mulher afirmou que seu marido não<br />

tivera nenhum probl<strong>em</strong>a com a aposentadoria por estar envolvido <strong>em</strong> um projeto pessoal, entretanto,<br />

num outro encontro me disse que ele estava prestando um serviço t<strong>em</strong>porário e que isto estava<br />

sendo “muito bom para a sua auto-estima.”<br />

Embora as caminha<strong>da</strong>s tenham se mostrado muito “eficazes”, s<strong>em</strong> sombra de dúvi<strong>da</strong> o super-<br />

mercado foi imbatível como campo de possibili<strong>da</strong>des. Não sei porque. Talvez o confronto com o<br />

aumento nos preços, sei lá. Coincident<strong>em</strong>ente, foi no supermercado que recebi o maior número de<br />

depoimentos de homens.<br />

Antes de continuar, farei um parêntese para contar um fato que para mim foi bastante curioso.<br />

A princípio, eu não <strong>da</strong>va importância a ele, porém sua presença constante indicou que era merecedor<br />

de mais atenção. Como já disse, os depoimentos foram <strong>da</strong>dos <strong>em</strong> sua maioria <strong>em</strong> encontros ocasio-<br />

nais. Pois b<strong>em</strong>, a primeira pergunta que me era feita logo após as já consagra<strong>da</strong>s fórmulas de cortesia<br />

- “Como vai? Tudo b<strong>em</strong>?” – era - “Seu marido aposentou?” Dado que foi feita indiscrimina<strong>da</strong>mente, por<br />

homens e mulheres, e observei ter sido feita não só para mim, mas para <strong>em</strong>pregados ou ex-<strong>em</strong>prega-<br />

dos também, comecei a pensar <strong>em</strong> qual seria sua importância, para aparecer com tanta regulari<strong>da</strong>de.<br />

Em pouco t<strong>em</strong>po, descartei a mera curiosi<strong>da</strong>de. A ansie<strong>da</strong>de que a acompanhava algumas vezes me<br />

autorizou a fazê-lo. Com o t<strong>em</strong>po, passei a me preparar para ela, o que me permitiu observar com<br />

mais cui<strong>da</strong>do a atitude de qu<strong>em</strong> a fazia. Foi a partir dessa observação que formulei a hipótese de que<br />

a pergunta poderia ter a ver com uma espécie de “definição de posições entre interlocutores”. Defi-<br />

ni<strong>da</strong>s as posições, aposentado ou ativo 10 , o discurso poderia ser adequado à ocasião. É uma hipótese<br />

10 Categorias êmicas.<br />

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