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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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<strong>em</strong> que eles ain<strong>da</strong> estão sob o impacto dessa constatação, a <strong>em</strong>presa oferece um Plano de D<strong>em</strong>issão<br />

Voluntária (PDV).<br />

A interpretação de que essa ação visava atingir os sujeitos <strong>em</strong>ocionalmente, está explícita na<br />

afirmação de um <strong>em</strong>pregado quando diz que “se o sujeito não está muito b<strong>em</strong> de cabeça (seguro de si), adere<br />

mesmo (ao PDV).” (Depoimento - <strong>Hom<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong>pregado)<br />

O efeito <strong>da</strong>s ações práticas, portanto, foi além de simplesmente alterar a forma de organizar o<br />

trabalho e a <strong>em</strong>presa, atingindo <strong>em</strong> cheio a imag<strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> um fazia de si.<br />

Em segui<strong>da</strong> a esse período de grande pressão interna, a <strong>em</strong>presa ofereceu um PDV, que, segun-<br />

do um informante, é uma forma de “capitulação honrosa” (Depoimento - <strong>Hom<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong>pregado).<br />

Ao agregar a palavra honrosa ao termo capitulação, a intenção é claramente colocar honra<br />

onde não havia antes. Com efeito, Pitt-Rivers (1992) informa que desonroso não é ser derrotado,<br />

desonroso é não lutar. Mas contra o que é possível lutar nessa situação? Contra a d<strong>em</strong>issão não é, já<br />

que não há opção, é sair ou sair. Ao optar pela d<strong>em</strong>issão voluntária, o <strong>em</strong>pregado adquire compensa-<br />

ções econômicas, consequent<strong>em</strong>ente, esta configura-se então como a escolha lógica e razoável. Se<br />

esta é a escolha lógica e razoável, e lógica e razão são tidos como atributos do masculino <strong>em</strong> nossa<br />

cultura, por que a d<strong>em</strong>issão voluntária não é percebi<strong>da</strong> por eles como “a escolha lógica, razoável e<br />

financeiramente compensadora” e sim como uma “capitulação honrosa”? A meu ver, o uso <strong>da</strong> ex-<br />

pressão “capitulação honrosa” significou que agir de acordo com a razão e a lógica, para eles não foi<br />

suficiente para <strong>da</strong>r conta dessa questão satisfatoriamente.<br />

Segundo Pitt-Rivers (1992: 9)”os componentes <strong>da</strong> honra variam de acordo com a classe social (...) grupos<br />

sociais e entre profissões, comuni<strong>da</strong>des ou regiões”. A “capitulação honrosa” nesse caso, poderia estar liga<strong>da</strong><br />

ao fator profissional, por ex<strong>em</strong>plo. Os sujeitos aos quais me refiro eram profissionais reconheci<strong>da</strong>-<br />

mente competentes, com funções de responsabili<strong>da</strong>de, e que, senão to<strong>da</strong>, a maior parte de suas<br />

carreiras foi dedica<strong>da</strong> ao serviço público, o que lhes garantia estabili<strong>da</strong>de no <strong>em</strong>prego. Nessas condi-<br />

ções, as únicas d<strong>em</strong>issões ocorriam por justa causa (agressões, desonesti<strong>da</strong>des), visto que até um<br />

funcionário especialmente incompetente, poderia ser transferido para outro lugar ou função. Ser<br />

d<strong>em</strong>itido então, se traduzia como uma mancha no caráter do sujeito. Nesses novos t<strong>em</strong>pos de d<strong>em</strong>is-<br />

sões <strong>em</strong> massa, os sujeitos para os quais essa lógica é operante, ain<strong>da</strong> que cientes de que a razão dos<br />

cortes se apoie <strong>em</strong> diretrizes econômicas, pod<strong>em</strong> experimentar a d<strong>em</strong>issão como uma mancha na sua<br />

folha funcional, e portanto, uma desonra.<br />

Penso que existe ain<strong>da</strong> um outro componente atuando nesse desligamento do mundo do traba-<br />

lho. Um fator que estaria ligado aos significantes <strong>da</strong> fala, os quais d<strong>em</strong>arcam a diferença entre ser<br />

d<strong>em</strong>itido e se d<strong>em</strong>itir. Qu<strong>em</strong> é d<strong>em</strong>itido, sofre <strong>em</strong> si uma ação de outr<strong>em</strong> e é portanto, um el<strong>em</strong>ento<br />

passivo. Qu<strong>em</strong> se d<strong>em</strong>ite é o agente de uma ação e, nesse caso, é ativo. Sofrer uma ação, ser passivo<br />

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