Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mulheres pod<strong>em</strong> apresentar comportamentos obsessivos, compulsivos, quanto os homens pod<strong>em</strong> se<br />
manifestar através de queixas histéricas.<br />
No decorrer do trabalho, notei, com alguma surpresa, que os homens estavam manifestando<br />
seus sentimentos, suas <strong>em</strong>oções quando falavam <strong>em</strong> sua relação com a <strong>em</strong>presa, e mais ain<strong>da</strong>, com a<br />
mesma desenvoltura que as mulheres o faz<strong>em</strong>, <strong>em</strong> relação à família e aos maridos.<br />
Este fato configurou-se para mim, num primeiro momento, apenas como uma observação<br />
interessante. Somente mais tarde, analisando as falas, comecei a perceber indicadores de que a rela-<br />
ção de alguns dos homens com a <strong>em</strong>presa parecia ter certas nuances de uma relação de afetivi<strong>da</strong>de.<br />
Como, por ex<strong>em</strong>plo, aquela preocupação <strong>em</strong> defender e proteger a <strong>em</strong>presa, manifesta<strong>da</strong>s por dois sujei-<br />
tos e já menciona<strong>da</strong>s anteriormente. Eu estava ain<strong>da</strong> r<strong>em</strong>oendo estas observações, tentando encon-<br />
trar seu nexo, quando, numa conversa eventual com um hom<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong> ligado à <strong>em</strong>presa, este me<br />
pergunta a queima-roupa: “Em algum desses livros que você leu para fazer seu trabalho, já viu alguém falar <strong>da</strong><br />
s<strong>em</strong>elhança entre o relacionamento dos <strong>em</strong>pregados com a <strong>em</strong>presa e o de marido e mulher?”<br />
Aí estava! O que eu an<strong>da</strong>va elocubrando me foi praticamente lançado ao rosto. Meu informan-<br />
te inesperado me contou que já ou<strong>vira</strong> outros <strong>em</strong>pregados fazendo queixas <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa, utilizando-se<br />
para isto, de expressões que, na sua opinião, eram s<strong>em</strong>elhantes às usa<strong>da</strong>s pelas mulheres se queixando<br />
dos maridos. Mais ain<strong>da</strong>, queixas clássicas, aquelas que bat<strong>em</strong> várias vezes na mesma tecla.<br />
As queixas se referiam ao fato <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa d<strong>em</strong>onstrar pouco interesse na permanência de seu<br />
quadro funcional e, <strong>em</strong> algumas ocasiões como já vimos, até mesmo incentivá-los a sair. Ele disse já<br />
ter ouvido frases como “A é? Comeu a carne, agora vai ter que roer o osso!”, que, no seu entender, é típica<br />
de mulher cujo marido quer deixá-la. Também descreveu a imag<strong>em</strong> que faz <strong>da</strong> situação dos <strong>em</strong>prega-<br />
dos <strong>em</strong> relação à <strong>em</strong>presa.<br />
“Eles (os <strong>em</strong>pregados) ficam lá agarrados na perna dela (a <strong>em</strong>presa). Ela chacoalha,<br />
chuta, faz tudo para eles ir<strong>em</strong> <strong>em</strong>bora e eles lá agarrados.” (Depoimento - <strong>Hom<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong>pregado)<br />
Voltei aos depoimentos, agora procurando observar mais atentamente, e encontrei algumas<br />
falas que apontam para o que meu informante inesperado colocou tão claramente: falas de homens<br />
<strong>em</strong> relação à desvinculação <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa guar<strong>da</strong>m s<strong>em</strong>elhanças com falas de mulheres <strong>em</strong> relação à<br />
separação de seus maridos. Os sentimentos de desvalorização, abandono e traição, tão comuns nas<br />
separações de <strong>casa</strong>is, estão todos presentes.<br />
“...a minha história na Eletrosul é uma coisa <strong>da</strong> qual eu me orgulho e me orgulho muito. Sabe,<br />
eu tenho assim, pelo meu trabalho, pela minha carreira dentro <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa um orgulho muito grande.<br />
Eu tenho admiração. (...) a Eletrosul me deu a oportuni<strong>da</strong>de de eu ter coisas que no Rio de Janeiro e<br />
<strong>em</strong> outras <strong>em</strong>presas eu talvez não tivesse tido. Sabe, a Eletrosul me deu cursos, a Eletrosul me treinou<br />
para eu ser um executivo... depois ela jogou tudo isso fora. Sabe, depois ela jogou tudo isso fora.”<br />
(Entrevista - <strong>Hom<strong>em</strong></strong> aposentado)<br />
79