Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
é, no imaginário masculino, uma aproximação ao f<strong>em</strong>inino, <strong>em</strong> suma, algo a ser evitado com to<strong>da</strong> a<br />
energia.<br />
No início <strong>da</strong> Conferência XXXIII sobre F<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de (1933 [1932]), Freud reitera as concep-<br />
ções que havia sist<strong>em</strong>atizado <strong>em</strong> 1931 sobre a Sexuali<strong>da</strong>de F<strong>em</strong>inina, marcando a importância <strong>da</strong>s<br />
diferenças entre meninos e meninas desde os t<strong>em</strong>pos pré-edípicos e, principalmente, no momento<br />
fálico <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de infantil. Neste texto, <strong>em</strong> que também responde publicações de<br />
várias/os autoras/es do círculo psicanalítico ao texto de 1931, Freud faz uma interessante reflexão<br />
sobre o que é f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de e masculini<strong>da</strong>de, procurando rastrear seus significados nas ciências anatômica<br />
e psicológica. Ele começa destacando características que, <strong>em</strong> última análise, definiriam para estas<br />
ciências a diferenciação masculino/f<strong>em</strong>inino (os produtos sexuais, os órgãos que serv<strong>em</strong> às funções<br />
sexuais, no caso <strong>da</strong> anatomia e ativi<strong>da</strong>de/passivi<strong>da</strong>de no caso <strong>da</strong> psicologia). Em segui<strong>da</strong>, argumenta<br />
como estas caraterísticas estão sujeitas a muitas variações, como são instáveis, marca<strong>da</strong>s pela<br />
bissexuali<strong>da</strong>de, tanto <strong>em</strong> relação à anatomia quanto ‘a psicologia.<br />
20)<br />
“os senhores, contudo, não poderão senão ter dúvi<strong>da</strong>s quanto à importância decisiva<br />
desses el<strong>em</strong>entos e dev<strong>em</strong> concluir que aquilo que constitui a masculini<strong>da</strong>de ou a f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de é<br />
uma característica desconheci<strong>da</strong> que foge ao alcance <strong>da</strong> anatomia.” (Freud, 1933[1932]: 17)<br />
Referindo-se à psicologia<br />
“Até mesmo na esfera <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sexual humana, os senhores logo verão com é inadequado<br />
fazer o comportamento masculino coincidir com ativi<strong>da</strong>de e o f<strong>em</strong>inino, com passivi<strong>da</strong>de. Uma<br />
mãe é ativa para com seu filho, <strong>em</strong> todos os sentidos (...) As mulheres pod<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrar grande<br />
ativi<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> diversos sentidos; os homens não consegu<strong>em</strong> viver <strong>em</strong> companhia dos de sua<br />
própria espécie, a menos que desenvolvam uma grande dose de a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de passiva.” (Id<strong>em</strong>:<br />
18-19)<br />
Assim, o autor conclui, “também a psicologia é incapaz de solucionar o enigma <strong>da</strong> f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de.” (Id<strong>em</strong>:<br />
Continuando, Freud afirma que à psicanálise não importa “descrever o que é a mulher” mas sim<br />
in<strong>da</strong>gar “como a mulher se desenvolve desde a criança dota<strong>da</strong> de disposição bissexual” (Id<strong>em</strong>: 20)<br />
Nas páginas seguintes, marcando a diferenciação entre meninas e meninos, o autor ressalta a<br />
importância, na experiência edipiana, do complexo de castração, vivenciado de maneira diferentes<br />
por ambos, e os caminhos diversificados que se apresentam para as meninas, <strong>em</strong> direção à f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>-<br />
de: a substituição, como objeto de amor, <strong>da</strong> mãe pelo pai; a identificação com a mãe, no momento<br />
mesmo <strong>em</strong> que dela se afasta com ciúme e hostili<strong>da</strong>de.<br />
Com as ressalvas que faz, o autor utiliza, no entanto, os atributos de passivi<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>de,<br />
para diferenciar f<strong>em</strong>inino e masculino. Mas utiliza para reforçar o que já vinha marcando desde textos<br />
b<strong>em</strong> anteriores: que masculini<strong>da</strong>de (ativi<strong>da</strong>de) e f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de (passivi<strong>da</strong>de) são atributos tanto de<br />
homens como de mulheres, estão desligados do sexo biológico.<br />
56