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Homem em casa vira Maria.pmd - Repositório Institucional da UFSC ...

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d<strong>em</strong>issão voluntária. Dizia não saber o que fazer. De acordo com ela, seu marido ficou deslumbrado<br />

com a possibili<strong>da</strong>de de receber de uma vez uma considerável quantia de dinheiro, referente ao acordo<br />

de d<strong>em</strong>issão. Seu grande medo estava relacionado ao fato de que ele, ao se ver com aquele dinheiro<br />

nas mãos, despreocupou-se com o futuro e ao invés de investir numa poupança para garantir os dias<br />

de des<strong>em</strong>prego, começou a gastar desenfrea<strong>da</strong>mente. Ela trabalhava num negócio próprio, mas mui-<br />

to pequeno para suprir as despesas <strong>da</strong> família. Disse não haver conseguido aceitar a decisão que o<br />

marido, segundo ela, tomou s<strong>em</strong> consultá-la e pediu o divórcio. Naquela ocasião <strong>em</strong> que nos encon-<br />

tramos o divórcio já havia sido homologado, porém ela não tivera ain<strong>da</strong> corag<strong>em</strong> de contar para os<br />

filhos. Continuavam todos morando na mesma <strong>casa</strong> e ela disse não saber mais o que fazer <strong>em</strong> relação<br />

ao marido. Disse que já o havia man<strong>da</strong>do <strong>em</strong>bora várias vezes mas ele acabava s<strong>em</strong>pre voltando:<br />

“Toca a campainha, eu vou atender e tá ele lá com a malinha dele.”<br />

Um dos primeiros e mais ve<strong>em</strong>entes depoimentos que recebi foi diante de minha <strong>casa</strong>. Era<br />

domingo e eu trabalhava no jardim quando um vizinho de bairro passou e perguntou secamente: “Seu<br />

marido pediu d<strong>em</strong>issão?” 11 Quando eu disse que não, ele falou, rispi<strong>da</strong>mente, que se ele quisesse se<br />

d<strong>em</strong>itir, eu não deveria deixar. Devo confessar que eu não estava muito disponível para depoimentos<br />

naquele momento. Talvez por isso, e pelo fato de que o seu tom de voz não me agra<strong>da</strong>ra, eu tenha<br />

respondido provocativamente “Essa é uma decisão que ele é qu<strong>em</strong> deve tomar.” exatamente o que<br />

ele não queria ouvir.<br />

Minha resposta desencadeou uma reação explosiva. Por mais de uma hora ele falou enfatica-<br />

mente sobre o episódio de sua d<strong>em</strong>issão, sobre o fato de ter sido enganado pelos colegas e pela<br />

gerência <strong>da</strong> <strong>em</strong>presa e sobre a “omissão de sua mulher” na hora de decidir pela d<strong>em</strong>issão. Contava<br />

vários acontecimentos que envolveram o episódio e voltava à tecla que eu não deveria deixar que<br />

meu marido se d<strong>em</strong>itisse. E eu, ca<strong>da</strong> vez mais incomo<strong>da</strong><strong>da</strong>, fincava pé na posição de neutrali<strong>da</strong>de.<br />

Por fim, ele disse que a culpa<strong>da</strong> pelas dificul<strong>da</strong>des que sua família estava passando, era a sua mulher.<br />

Afinal, quando ele disse que ia se d<strong>em</strong>itir, ela respondeu que ele fizesse o que achasse melhor. Segun-<br />

do ele, ela “ao invés de me dizer: ‘Não. Você não vai se d<strong>em</strong>itir.’ ficou cheia de coisa... ‘Ah não sei, você que<br />

sabe’...”. E, por isso, agora ele estava <strong>em</strong> péssima situação. Portanto, concluía, “as mulheres são as<br />

culpa<strong>da</strong>s pelos probl<strong>em</strong>as dos homens porque deixam eles fazer<strong>em</strong> besteiras!” Aí estava o porquê de to<strong>da</strong> a sua<br />

bronca comigo naquele momento. O alvo não era eu, mas a atitude de sua mulher. Interessante é o<br />

fato de que sua mulher, que também me deu depoimento, ter contado que insistira para que ele não<br />

se d<strong>em</strong>itisse. Contradições...<br />

11 Nessa época, duas situações estavam ocorrendo na <strong>em</strong>presa: havia começado a deterioração do ambiente de trabalho e estava<br />

entrando <strong>em</strong> vigor um dos primeiros planos de d<strong>em</strong>issão voluntária. Havia muito burburinho e especulações para saber qu<strong>em</strong><br />

ia aderir ou não.<br />

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