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Quan<strong>do</strong> em digressão em duo com a sua mulher, a cantora holandesa Fleurine, vemos<br />
facilmente Mehldau a navegar pelas melodias magistrais <strong>do</strong>s grandes cria<strong>do</strong>res<br />
brasileiros. A gravação <strong>do</strong> recente San Francisco de Fleurine foi a primeira ocasião<br />
para a colaboração <strong>do</strong> duo com Chico Pinheiro. O álbum foi dedica<strong>do</strong> à música de três<br />
compositores de nome Francisco: Chico Buarque, Francis Hime e o próprio Chico<br />
Pinheiro. Também naturalmente surge a voz de Luciana Alves, colabora<strong>do</strong>ra de longa<br />
data <strong>do</strong> guitarrista brasileiro. É desta troca de influências e <strong>do</strong> culto das cumplicidades<br />
artísticas que nos fala Chico Pinheiro, em entrevista à Casa da Música.<br />
Luciana Alves é uma cantora que colabora consigo desde há muito, como<br />
intérprete privilegiada das suas composições. Quais são os factores que<br />
motivam este entendimento musical tão completo?<br />
Conheci a Luciana em 2000, por ocasião de um concurso nacional para compositores<br />
e instrumentistas. Precisava de uma intérprete que defendesse as minhas canções.<br />
Liguei então para um amigo guitarrista, perguntan<strong>do</strong> sobre alguém que pudesse<br />
cantar comigo. Ele foi enfático – “Chame Luciana Alves, cantora bem jovem e<br />
maravilhosa. Acho-a ideal”. Quan<strong>do</strong> ela chegou para o ensaio, apresentámo-nos<br />
rapidamente, e logo no momento em que começou a cantar fiquei arrebata<strong>do</strong> com<br />
tamanha precisão, maturidade e, sobretu<strong>do</strong>, com o profun<strong>do</strong> sentimento no seu canto.<br />
Desde então seguimos trabalhan<strong>do</strong> juntos, e devo dizer que é um grande prazer e uma<br />
felicidade tê-la por perto, Lu é uma intérprete especial.<br />
Nesta ocasião dividem o palco com Brad Mehldau e Fleurine, igualmente<br />
um compositor/instrumentista e uma cantora com grande cumplicidade<br />
artística. Para além <strong>do</strong> interesse antigo de Fleurine pela música popular<br />
brasileira, que outras pontes permitem a fluência <strong>do</strong>s diálogos entre to<strong>do</strong>s<br />
os músicos?<br />
Não é de hoje que o jazz e a música brasileira conversam com fluência, com grande<br />
afinidade. São escolas de raízes e ingredientes comuns (África, Europa) que se<br />
desenvolveram em locais distintos, América <strong>do</strong> Norte e Sul... É mais ou menos como<br />
se uma família tivesse <strong>do</strong>is filhos, e esses irmãos fossem leva<strong>do</strong>s para longe de casa,<br />
separa<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> pequenos. Quan<strong>do</strong> se reencontraram, mais especificamente com a<br />
bossa nova <strong>do</strong>s anos 60, foi uma grande festa, uma empatia imediata.<br />
Em relação à fluência <strong>do</strong>s diálogos, à ponte unifica<strong>do</strong>ra, creio que essa vem justamente<br />
<strong>do</strong> facto destes músicos específicos virem de raízes e histórias diferentes, mas terem<br />
um carinho e respeito especial pela música <strong>do</strong> “outro”. Neste caso: eu, Luciana e Edu<br />
pelo jazz; Fleurine, Brad e Doug pela música brasileira.<br />
Como surgiu a colaboração com Fleurine e Mehldau no disco San<br />
Francisco?<br />
Em 2000, Fleurine e Brad vieram ao Brasil e fui ao show convida<strong>do</strong> por amigos. Fiquei<br />
imediatamente encanta<strong>do</strong> com a música <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is, com o trabalho <strong>do</strong> duo. Eles têm<br />
uma afinidade muito grande entre eles, é bonito de se ver. Anos depois, encontrei o<br />
Brad no Brasil e ofereci-lhe o meu segun<strong>do</strong> álbum Chico Pinheiro, dizen<strong>do</strong>-lhe que<br />
talvez Fleurine gostasse <strong>do</strong> CD, pois sabia que gostava de música brasileira. Alguns<br />
dias depois eles escreveram-me e tu<strong>do</strong> nasceu assim, de forma casual.<br />
Tem si<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> como a nova estrela guia da música brasileira por<br />
nomes tão importantes como Edu Lobo, Moacir Santos ou Tárik de Souza.<br />
Em que papel se sente confortável no contexto da MPB e <strong>do</strong> jazz<br />
brasileiro? Para onde ambiciona levar a sua música?<br />
Considero-me sobretu<strong>do</strong> um instrumentista apaixona<strong>do</strong> por canções, pela palavra.<br />
Amo música e todas as suas formas de expressão; seja o contexto de música<br />
instrumental improvisada (que a<strong>do</strong>ro), a canção letrada, a música orquestral, clássica,<br />
6/6/<strong>09</strong> 12