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Björk e Matthew Herbert renderam-se à sonoridade <strong>do</strong> projecto de<br />
Mawangu Mingiedi<br />
KONONO Nº1: TRANSE MADE IN CONGO<br />
O projecto Konono N°1 foi funda<strong>do</strong> há 25 anos por Mawangu Mingiedi, um virtuoso<br />
<strong>do</strong> likembe (aka sanza ou piano de polegar), que quan<strong>do</strong> chegou a Kinshasa (capital <strong>do</strong><br />
Congo), vin<strong>do</strong> de Bazombo – que fica na fronteira com Angola –, quis continuar a<br />
fazer a música de transe, em homenagem aos seus antepassa<strong>do</strong>s, e em nome <strong>do</strong>s<br />
muitos emigrantes que chegavam à metrópole. Pouco tempo depois, os subúrbios<br />
pobres de Kinshasa transformaram-se num palco privilegia<strong>do</strong> para as bandas que, sem<br />
quaisquer condições, fizeram com que a música da rua se sujeitasse a mutações<br />
incríveis transforman<strong>do</strong>-a, acidentalmente, em algo semelhante ao punk, à electrónica<br />
e à música de dança.<br />
A necessidade de amplificar os likembes para se fazerem ouvir pelas ruas e a falta de<br />
dinheiro para comprar material importa<strong>do</strong> levou-os a improvisar crian<strong>do</strong><br />
artesanalmente amplifica<strong>do</strong>res, recorren<strong>do</strong> a materiais inutiliza<strong>do</strong>s como baterias e<br />
imans de carros de sucata ou ainda materiais de construção. E porque sem microfones<br />
não se conseguiam fazer ouvir, os vocalistas passaram a transmitir a sua mensagem<br />
através de megafones recupera<strong>do</strong>s da Era Colonial. A verdade é que as experiências<br />
electrónicas funcionaram e os Konono N°1 fizeram-se ouvir pelas ruas rui<strong>do</strong>sas de<br />
Kinshasa.<br />
O resulta<strong>do</strong> é surpreendente. Uma sonoridade inquestionavelmente africana, no ritmo<br />
e nas texturas, mas muito próxima da electrónica Ocidental. Algo muito tradicional<br />
que nos remonta às experiências de John Cale, entre o punk e a música de dança.<br />
Não se chama a esta música transe sem motivo. Quan<strong>do</strong> ouvida com o volume alto,<br />
como se pretende, é capaz de nos transportar para outra esfera. Quatro anos depois de<br />
se ter estrea<strong>do</strong> em Portugal, o projecto da República Democrática <strong>do</strong> Congo regressa e<br />
espera-se que, ao contrário <strong>do</strong> que aconteceu no ano passa<strong>do</strong>, não tenha problemas<br />
com os vistos de autorização para sair <strong>do</strong> Congo.<br />
Na bagagem Mawangu Mingiedi (likembe), Makonda Mbuta (likembe), Mawangu<br />
Makuntima (likembe), Waku Menga (voz), Antoine N<strong>do</strong>mbele (baixo), N<strong>do</strong>fusu<br />
Mbiyavanga (percussão), Vincent Visi (guizos) e Mrs. Pauline Mbuka Nsiala (voz)<br />
trazem uma cultura, uma sonoridade que os tem distingui<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> da world<br />
music graças ao sistema de amplificação que usam há 30 anos e que lhes valeu o<br />
conceitua<strong>do</strong> prémio da BBC, em 2006, na categoria de Novos Talentos.<br />
O trabalho que têm vin<strong>do</strong> a desenvolver e o alcance da sua música fez com que<br />
Matthew Herbert e John McEntire (Tortoise) se oferecessem para remisturar temas<br />
<strong>do</strong>s Konono N°1 que foram os primeiros a editar na nova série intitulada<br />
Congrotonics, da editora belga Crammed, em 2003. Um projecto pensa<strong>do</strong> para<br />
electrizar a música tradicional de Kinshasa, grava<strong>do</strong> e produzi<strong>do</strong> por Vincent Kenis<br />
(Zap Mama, Taraf de Haï<strong>do</strong>uks & Koçani Orkestar), grande conhece<strong>do</strong>r da música <strong>do</strong><br />
Congo. “Quan<strong>do</strong> os ouvi numa rádio francesa, em 1980, soou-me ao equivalente <strong>do</strong><br />
punk em África. Demorei 10 anos a ir a Kinshasa procurá-los e outros 10 a encontrálos.<br />
E dei com eles, 20 anos depois, exactamente iguais. Nenhum equipamento tinha<br />
si<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>”, contou. Grava<strong>do</strong> num portátil no quarto de hotel de Vincent Kenis,<br />
Congotronics vendeu 15 mil exemplares em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, o que para um disco tão<br />
exótico é bastante positivo.<br />
Dois volumes depois na série Congotronics (em que o segun<strong>do</strong> incluía outros grupos<br />
congoleses como Kasai Allstars), os Konono N°1 foram convida<strong>do</strong>s a participar no<br />
single de apresentação <strong>do</strong> álbum Volta (2007) de Björk, Earth Intruders. Seguiu-se a<br />
edição de um registo ao vivo verdadeiramente hipnótico chama<strong>do</strong> Live At Colour Café,<br />
e mais uma tour mundial.<br />
Não se chama a esta música transe sem motivo. Quan<strong>do</strong> ouvida com o volume alto,<br />
como se pretende, é capaz de nos transportar para outra esfera.<br />
6/6/<strong>09</strong> 28