Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
maldita na história, na sua essência; e maldito hoje por ser um espectáculo que<br />
introduz novos instrumentos além da viola, da guitarra portuguesa e <strong>do</strong> baixo. Nos<br />
espectáculos apercebi-me de que as pessoas aderiram e até os próprios puristas, que<br />
no início se assustaram quan<strong>do</strong> viram uma bateria no palco, a<strong>do</strong>raram e disseram que<br />
aquilo era mais fa<strong>do</strong> que outra coisa qualquer. Claro! Eu sou fadista e os músicos base<br />
<strong>do</strong> projecto também o são, portanto a essência <strong>do</strong> fa<strong>do</strong> esta lá. Ser fadista é conseguir<br />
transmitir os sentimentos que se tem. E ter a capacidade de contar histórias. Acontece<br />
no fa<strong>do</strong> e em qualquer música portuária urbana.<br />
O ciclo Uma Casa Portuguesa homenageia Amália Rodrigues, 10 anos após<br />
o seu desaparecimento. Já pensou como vai recordá-la no seu concerto?<br />
Prefiro não desvendar tu<strong>do</strong> o que vai acontecer, mas obviamente que vamos falar e<br />
cantar coisas da Amália.<br />
O que significa Amália Rodrigues para si?<br />
Bastante. Costumo dizer que a Amália significa para o fa<strong>do</strong> aquilo que o Ástor<br />
Piazzolla pode representar para o tango. Ela trouxe uma série de influências e novos<br />
compositores para o fa<strong>do</strong>. Tinha uma forma diferente de cantar que fez o fa<strong>do</strong> evoluir<br />
muito. Além disto, representou o nosso país no mun<strong>do</strong> e onde quer que se fale de fa<strong>do</strong>,<br />
o nome de Amália é uma referência.<br />
O Hélder tem a HM Música onde agencia e edita outros projectos.<br />
Também compõe, interpreta e descobre novos talentos. Como tem<br />
acompanha<strong>do</strong> a evolução <strong>do</strong> fa<strong>do</strong> nos últimos anos?<br />
Os jovens estão a ter um papel muito importante no desenvolvimento <strong>do</strong> fa<strong>do</strong>, porque<br />
arriscam digressões pelo mun<strong>do</strong> para divulgar esta música. Conquistam as pessoas e<br />
levam-nas a querer ouvir mais, trazem-nas cá e elas acabam por descobrir no “ghetto”<br />
os mais antigos. Mais antigos hoje, mas que no tempo deles fizeram exactamente o que<br />
estes jovens estão a fazer agora. É cíclico. No entanto, ainda há coisas que faltam fazer.<br />
Por exemplo, o tango é uma música que se devolveu pelo mun<strong>do</strong> fora graças aos<br />
grupos e artistas que, nos seus espectáculos, faziam questão de divulgar aquela<br />
cultura. E acho que o fa<strong>do</strong> precisa disso. Os músicos quan<strong>do</strong> vão em digressão fora <strong>do</strong><br />
país têm de divulgar o fa<strong>do</strong>. Nos meus espectáculos falo <strong>do</strong> fa<strong>do</strong>, conto a sua história,<br />
faço tributos aos fadistas e aos guitarristas e digo que o fa<strong>do</strong> não é só canta<strong>do</strong> por<br />
mulheres, também há homens. O que nem toda a gente sabe. Este é o meu projecto,<br />
em nome próprio, divulgar o fa<strong>do</strong>…. Este fa<strong>do</strong> que trago, como o nome <strong>do</strong> disco. O<br />
fa<strong>do</strong> é de to<strong>do</strong>s, não é de ninguém.<br />
Qual a sua percepção da Casa da Música, onde já actuou e assistiu a<br />
espectáculos?<br />
O público <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> é bastante rigoroso e não se deixa enganar com facilidade, o que é<br />
interessantíssimo. Para quem faz as coisas com verdade é agradável sentir isso. Tenho<br />
visto bastantes concertos de fa<strong>do</strong> na Casa da Música, alguns deles produzi<strong>do</strong>s por mim<br />
e o público é fantástico.<br />
Neste espectáculo convi<strong>do</strong> as pessoas para viagem imaginária. Começo por onde, no<br />
meu ponto de vista, pode ter nasci<strong>do</strong> o fa<strong>do</strong>, recuperan<strong>do</strong> os fa<strong>do</strong>s tradicionais; por<br />
onde pode ter passa<strong>do</strong>, com os fa<strong>do</strong>s canções; e até onde pode ir, com os novos fa<strong>do</strong>s.<br />
E é neste momento <strong>do</strong> disco que introduzo os novos instrumentos, como a percussão<br />
e o acordeão.<br />
Devíamos prestar mais atenção aos novos compositores, apesar de muitos pensarem<br />
que é mais seguro recuperar temas conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> grande público. Os temas antigos<br />
já foram muito canta<strong>do</strong>s e há que dar oportunidade aos novos autores.<br />
6/6/<strong>09</strong> 57