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pop; a minha afeição por todas é grande. Depois, com o tempo a gente acaba por se<br />
aprofundar nos “códigos” musicais to<strong>do</strong>s, e na teoria. Mas acho que o mais importante<br />
é a “magia inicial”, a génese de tu<strong>do</strong> aquilo que faz alguém tornar-se músico<br />
profissional. Creio que o que qualquer músico ambiciona na verdade é poder<br />
continuar essa magia, que por vezes nasce logo da primeira vez que se pega um violão<br />
nas mãos, um piano, um contrabaixo, bem pequenino... Enfim, seja lá para onde a<br />
música me levar, estarei feliz com esse sentimento lúdico e inexplicável junto de mim.<br />
No início da sua carreira chegou a tocar com figuras como Chico César,<br />
Rosa Passos e César Camargo Mariano. O que o levou a procurar<br />
aprofundar os estu<strong>do</strong>s de jazz no Berklee College of Music e quais foram<br />
as maiores vantagens que daí retirou?<br />
Sempre a<strong>do</strong>rei tocar com outros artistas, sobretu<strong>do</strong> cantores. A gente passa a ter uma<br />
visão de música diferente tocan<strong>do</strong> com os outros e aprende a enxergar a música um<br />
pouco sob a lente deles. Mas depois de um tempo senti a necessidade de expandir<br />
meus horizontes, decidi então partir para a Berklee. O facto é que durante a minha<br />
estadia em Boston nunca me senti tão brasileiro. Lá aprendi bastante sobre a<br />
riquíssima cultura americana, sobre o jazz de que tanto gosto, sobre muitas outras<br />
culturas e nacionalidades com colegas com quem convivi vin<strong>do</strong>s de to<strong>do</strong>s os cantos,<br />
mas sobretu<strong>do</strong> descobri o que era ser brasileiro e músico em um contexto maior. Essa<br />
aprendizagem e as saudades de casa fizeram-me olhar para as minhas raízes como<br />
nunca o havia feito, de forma determinante.<br />
Brad Mehldau tem si<strong>do</strong> um inova<strong>do</strong>r na introdução de novos standards da<br />
música pop contemporânea na linguagem <strong>do</strong> jazz. No seu caso, há uma<br />
identificação assumida com a MPB e a aplicação recorrente da voz e <strong>do</strong><br />
formato canção, manten<strong>do</strong> uma linguagem permanentemente actualizada<br />
com o jazz contemporâneo. Faz bem ao jazz esta procura das ligações com<br />
a cultura popular <strong>do</strong> nosso tempo?<br />
Acho muito interessante essa procura, as “intersecções” que dela surgem. O jazz<br />
sempre teve os ouvi<strong>do</strong>s abertos para outros estilos. Dizzy Gillespie flertou com a<br />
música caribenha na sua United Nation Orchestra, John McLaughlin com a música<br />
indiana; Miles Davis, Weather Report e outros aproximaram-se <strong>do</strong> rock. Stan Getz,<br />
Gerry Mulligan e Sinatra da música brasileira de João Gilberto, Jobim e companhia.<br />
Pat Metheny e Wayne Shorter prosearam com Minas Gerais, com o Clube da Esquina<br />
de Milton, Toninho Horta e Lô Borges, que beberam <strong>do</strong>s Beatles. Brad, por sua vez,<br />
sen<strong>do</strong> um artista inquieto, sensível e extremamente inteligente, encontra belas<br />
melodias ainda que estejam escondidas, para que daquele ponto de partida as<br />
reinvente a seu mo<strong>do</strong>.<br />
O jazz surgiu assim, como uma mistura de ingredientes e temperos.... é de sua<br />
natureza fundir elementos díspares e criar algo novo.<br />
Esta será a sua estreia em Portugal, mas sei que o jazz português não lhe é<br />
completamente estranho. A playlist <strong>do</strong> seu blog já incluiu um <strong>do</strong>s álbuns<br />
de Maria João e Mário Laginha – Chorinho Feliz. Não lhe parece que a<br />
troca de experiências entre os músicos de jazz portugueses e brasileiros<br />
ainda é um território por explorar?<br />
Certamente. As nossas histórias estão profundamente entrelaçadas, falamos a mesma<br />
língua, temos essa visão da vida bem apaixonada, lírica, e um sentimento inerente que<br />
nos une. Parece-me que o intercâmbio musical entre os <strong>do</strong>is países seja também algo<br />
natural e crescente. O disco Chorinho Feliz de Mário Laginha e Maria João ilustra bem<br />
como pode ser tão bonita e amorosa essa troca de experiências.<br />
O ano <strong>do</strong> Brasil na Casa da Música já nos trouxe várias tendências <strong>do</strong> jazz<br />
brasileiro, <strong>do</strong> lendário João Donato ao free jazz de Ivo Perelman. Do la<strong>do</strong><br />
6/6/<strong>09</strong> 13