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Perceber a importância que tem para eles, uma vez que pertencem a uma geração<br />
bastante mais agitada e mobiliza<strong>do</strong>ra que a minha, uma geração que lutou pela<br />
liberdade de expressão, que permitiu que hoje eu e tantos outros nos sentíssemos<br />
libertos para criar sem tabus, sem censura. Não nos esqueçamos de Júlio Pomar ou<br />
Hélia Correia também. Neste disco falta o Fausto que não pode assinar nenhum tema<br />
por estar em pré-produção <strong>do</strong> seu próximo trabalho, para grande pena minha!<br />
Autores com provas dadas em outras áreas musicais, que não o fa<strong>do</strong>. É<br />
cada vez maior a sua abertura a outras músicas.<br />
Não houve qualquer intenção de me afastar <strong>do</strong> fa<strong>do</strong>. A ideia inicial era que<br />
compusessem fa<strong>do</strong>, como já o fizeram antes, mas a verdade é que não aconteceu na<br />
maioria <strong>do</strong>s casos. Os autores consideraram que a minha expressão se poderia<br />
declinar também em outras cambiantes musicais e se, no “arrumar” <strong>do</strong> trabalho, isso<br />
me criou algumas dificuldades, certo é que o resulta<strong>do</strong> é uma aproximação bastante<br />
fiel à forma como eu me olho. A<strong>do</strong>ro cantar fa<strong>do</strong>, a expressão está impressa, aliás, na<br />
forma como eu abor<strong>do</strong> os temas. Mas também a<strong>do</strong>ro fugir-lhe, escapar <strong>do</strong>s cânones<br />
instituí<strong>do</strong>s. Essa é a minha marca e os autores convida<strong>do</strong>s entenderam-no<br />
perfeitamente, apesar de lhes ter pedi<strong>do</strong> que se cingissem a um género. Além disso,<br />
podemos sempre olhar para o disco como um to<strong>do</strong> onde se encerra a expressão da<br />
música e literatura portuguesas.<br />
Elegeu os autores e encomen<strong>do</strong>u-lhes as canções? Como reagiram quan<strong>do</strong><br />
os contactou?<br />
Apesar da expressão encomenda não soar bem, será, provavelmente, a mais adequada.<br />
Fiz alguns telefonemas para os músicos que admiro e cujas carreiras sigo desde muito<br />
ce<strong>do</strong>. Foi o caminho lógico a percorrer, depois de 10 discos e 12 anos de estrada.<br />
Dificilmente lhes fugiria porque eles influenciam a minha música, determinam o meu<br />
gosto e entusiasmo pela música portuguesa. Algum dia teria de os convidar e pensei:<br />
Porque não agora? Além disso, há pessoas com quem convivo de perto, como o Júlio<br />
Pomar, com quem partilho opiniões e serões de conversa à volta <strong>do</strong>s livros e da<br />
amizade. Naturalmente trocámos “piropos” na linhagem <strong>do</strong> fa<strong>do</strong>, eu muito séria e<br />
grave no tema e ele que brilha no alto da idade e satiriza de forma entre o pueril e o<br />
jocoso a expressão <strong>do</strong> Velho Fa<strong>do</strong>. Ainda o Mário Laginha, o Vitorino ou o João Paulo<br />
Esteves da Silva, autores com quem já tive o prazer de partilhar palcos e músicas, ou<br />
ainda Vasco Graça Moura e o Manuel Alegre. O Vasco propôs-me o Tango logo depois<br />
de eu ter termina<strong>do</strong> o Ulisses, onde ele assina o poema Cristal e ficou assim até agora,<br />
bem guarda<strong>do</strong>.<br />
Para além <strong>do</strong>s autores convida<strong>do</strong>s, faz um dueto com Jorge Palma. Foi a<br />
primeira vez que partilhou uma canção com um artista pop-rock?<br />
Já tinha feito uma parceria com um grupo holandês chama<strong>do</strong> Blof, há uns anos, e<br />
cheguei a incluir o tema num <strong>do</strong>s meus discos edita<strong>do</strong>s lá, o Corpo Ilumina<strong>do</strong>. Quanto<br />
ao dueto com o Jorge Palma foi muito bom! É um homem profundamente talentoso e<br />
por quem tenho uma enorme e declarada admiração.<br />
Ao longo de 12 anos de carreira, e já 10 álbuns edita<strong>do</strong>s, nunca se assumiu<br />
como fadista. Talvez por ter feito o percurso de fora para dentro, e pela<br />
Europa ser considerada uma cantora de world music.<br />
Muito me honra o carimbo de fadista, mas não sei se o mereço. Canto outras coisas,<br />
tenho dentro de mim outros universos e não me dedico devotamente ao género. Vou<br />
timidamente à procura de saber mais, mas não ambiciono sê-lo. E é isso que sou no<br />
fa<strong>do</strong>. Não quero criar trincheiras dentro <strong>do</strong> que faço. A minha música cresce comigo e<br />
vai aonde eu for, sem perder a noção <strong>do</strong> meu lugar e sem nunca perder o fa<strong>do</strong> de vista!<br />
6/6/<strong>09</strong> 53