SOCIEDADE BROTERIANA - Biblioteca Digital de Botânica ...
SOCIEDADE BROTERIANA - Biblioteca Digital de Botânica ...
SOCIEDADE BROTERIANA - Biblioteca Digital de Botânica ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
fazer um tão gran<strong>de</strong> esforço, que surge a inveja a procurar inuti¬<br />
lizá-lo.<br />
Tudo concorre para o infelicitar, inclusivamente a impecuniosi-<br />
da<strong>de</strong> pois, para o bom <strong>de</strong>sempenho da sua missão, .havia <strong>de</strong>sfalcado<br />
o seu património.<br />
Até então resistiu galhardamente à adversida<strong>de</strong>, e trabalhava<br />
incessantemente no aperfeiçoar da sua obra « <strong>de</strong> sorte que se po<strong>de</strong><br />
dizer da sua não interrompida aplicação: Nidla dies sine linea » (1)<br />
A luta contra « êsses génios escuros, que fazendo mui pouco não<br />
querem que os outros exercitem a sua aplicação», esse incessante<br />
reagir contra esta perniciosa casta, que ainda boje tanto abunda,<br />
lançou-o numa profunda melancolia para que o predispunha, sem<br />
dúvida, o esgotamento físico causado pela sua heróica exploração.<br />
Costa e Sá, seu contemporâneo e consócio na Aca<strong>de</strong>mia Real<br />
diz: «a melancholia,que, nos últimos tempos da sua vida, se apo<strong>de</strong>rou<br />
da alma do Sr. Dr. Alexandre, e que originada por algumas causas<br />
que não são para referir aqui, o fez cahir em hum <strong>de</strong>sgosto e aban¬<br />
dono, que progressivamente se foi augmentando. »<br />
Essas causas, que o biógrafo académico não quiz referir, são as<br />
apontadas por Barbosa du Bocage nos termos seguintes (2):<br />
« A tradição porém refere que o Dr. Alexandre encontrara, ao<br />
regressar ao Reino, os exemplares que coligira à custa <strong>de</strong> tantas<br />
fadigas e remetera com o maior <strong>de</strong>svelo para o Gabinete dá Ajuda,<br />
<strong>de</strong>teriorados na maior parte e confundidos todos, perdidos ou tro¬<br />
cados os números das etiquetas que traziam. Acrescenta ainda a<br />
tradição que não fora isto efeito do acaso ou do <strong>de</strong>sleixo, mas obra<br />
premeditada da mais ruim malda<strong>de</strong>, planeada e levada à execução<br />
por um empregado do Gabinete da Ajuda, a quem o ciúme dos<br />
talentos do nosso gran<strong>de</strong> naturalista, e porventura a esperança do<br />
o <strong>de</strong>sgostar prontamente <strong>de</strong> uma posição no Museu que ambicionava<br />
para si, inspirara essa torpíssima acção. Consola-nos ao menos, se<br />
a tradição não mente, a certeza <strong>de</strong> que o autor <strong>de</strong> tamanha infâmia<br />
não era português. »<br />
Não era com efeito português o homem que com a mais requin-<br />
(1) Costa e Sá, loa. cit. O exame dos manuscritos, anotados pela sita mão e<br />
gradualmente ampliados, confirma absolutamente esta afirmação.<br />
(2) J. V. Barbosa du Bocage — Instruções Praticas sobre o modo <strong>de</strong> colligir, pre<br />
parar e remetter produtos zoológicos para o Museu <strong>de</strong> Lisboa. Lisboa, 1862,