Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 107<br />
< 1528 – Gonçalo Barreto, nobre português, por motivos que se<br />
ignoram, foi meter-se solitário <strong>na</strong> ilha de Capri. Aí terá vivido muitos anos<br />
«fazendo vida penitente, solitaria, e cont<strong>em</strong>plativa». De qualquer modo, cerca<br />
da Cartuxa da ilha, «sub cava rupe mari proxima, et <strong>em</strong>inenti , ad quam e domo<br />
angusta, et declivi via descenditur, penitentia causa se abdidit an 1528...». Em<br />
Set<strong>em</strong>bro, porém, desse mesmo ano entrou como leigo nesse mosteiro cartuxo<br />
onde tomou o nome de Félix e, por vontade própria, veio a morrer, depois de<br />
1548, no hospital dos incuráveis de Nápoles.<br />
J. Cardoso, Agiologio Lusitano, I, 535-536, 540 80 .<br />
IV – Os apontamentos que acabamos de elencar pod<strong>em</strong>, <strong>na</strong> sua longa<br />
duração e <strong>na</strong> sua aparente uniformidade, permitir perceber, como <strong>em</strong> síntese, um<br />
pouco melhor o como se foi realizando a atracção pelo ermo de feição<br />
a<strong>na</strong>corética ao longo dos t<strong>em</strong>pos modernos. E, antes de mais, convirá notar que,<br />
seguramente, estes poucos casos conhecidos – e, além dos que discutimos,<br />
algum ainda haverá de que possa questio<strong>na</strong>r-se a pertinência no elenco –<br />
representarão um número mais elevado de uma rede que, ao longo dos séculos,<br />
representou o que, com uma expressão muito feliz, já se designou, sob o<br />
fascínio de um célebre quadro de El Greco – Alegoría de la orden de los<br />
camaldules (1597) 81 –, por a «colonización ideal del territorio» 82 . Uma<br />
«colonização» que, como já apontamos, haverá que contar melhor com recurso a<br />
outro tipo de documentação. E se essa atracção pela «solidão nua» é uma<br />
constante, também é interessante notar como, apesar das dificuldades levantadas<br />
pelas leis eclesiásticas post-tridenti<strong>na</strong>s 83 , do a<strong>na</strong>coretismo se passou, muitas<br />
80<br />
Alain SAINT-SAËNS, Valets de Dieur, suppôts du Diable..., ed. cit., 13 (nota 62), 134 (notas<br />
144, 149) refere o nome de mais três portugueses que andavam por Espanha <strong>em</strong> «ábito de<br />
ermitaños», celebrando até um deles missa s<strong>em</strong> ser sacerdote, casos que, obviamente, não entram<br />
nos contornos destas notas.<br />
81<br />
Alain SAINT- SÄENS, La nostalgie du désert, ed. cit., 314 apresenta esse quadro de El Greco<br />
como uma contribuição a favor da introdução dos camaldulenses <strong>em</strong> Espanha, encomendado pelos<br />
condes de Arcos e de Añover – cujos escudos heráldicos se vê<strong>em</strong> <strong>na</strong> base do quadro – que apoiavam<br />
essa introdução, pelo que seria interessante levar, algum dia, mais longe a análise do contexto de<br />
este esforço juntamente com as «razões» que escreveu e publicou, no mesmo ano do quadro do<br />
célebre pintor, Fr. Juan de CASTAÑIZA, O.S.B. – o primeiro editor <strong>em</strong> Espanha das Insinuationes<br />
divi<strong>na</strong>e pietatis (Madrid, ex offici<strong>na</strong> Licenciati Varez a Castro, 1599) de Santa Gertudes de Helfta –<br />
<strong>em</strong> Historia de S. Romualdo, Padre y fundador de la Orden Camaldulense, que es u<strong>na</strong> idea y forma<br />
perfecta de la vida solitaria, Madrid, Por el Licenciado Castro, 1597, obra dedicada a Filipe II.<br />
82<br />
Fer<strong>na</strong>ndo R. DE LA FLOR, Flores del yermo. Soledad, renuncia sexual y pobreza en los<br />
ermitaños áureos in Barroco..., ed. cit., 135.<br />
83<br />
Como <strong>em</strong> muitos outros aspectos, o «discipli<strong>na</strong>mento» post-tridentino também se fez sentir<br />
através de leis como a Constituição Lubricum vitae (17.11. 1568) de Pio V, mas, apesar de<br />
conhermos alguns casos <strong>em</strong> que foi realmente aplicada, não sab<strong>em</strong>os da real extensão da sua<br />
aplicação, o que, pelo que nos parece, seria interessante estudar melhor. Por outro lado, não há<br />
porque esquecer que, como l<strong>em</strong>bra E. SASTRE SANTOS, La vida er<strong>em</strong>ítica diocesa<strong>na</strong> forma de