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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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138 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

santidade» de Bartolomeu da Costa, pois «ainda <strong>em</strong> vida fallavão nella os mais<br />

rusticos lavradores destes lugares». 260 Não nos interess<strong>em</strong> aqui os louvores que<br />

o Teólogo tece da vida solitaria – <strong>em</strong> que, como <strong>em</strong> outros desses louvores pode<br />

haver ecos do Diálogo da Vida Solitária de Heitor Pinto à mistura com outros<br />

que também poderiam derivar de Menosprecio de corte y labanza de Aldea de<br />

Fr. Antonio de Guevara, se uns e outros não for<strong>em</strong> heranças de velhos fundos de<br />

«de cont<strong>em</strong>ptu mundi» –, mas apont<strong>em</strong>os que o Ermitão aí vive meditando,<br />

passeando-se pelo lugar e, algumas vezes, pedindo esmola «pelos cazais», como<br />

o fará no dia seguinte para poder dar de comer ao seu hóspede 261 que aí,<br />

podendo rezar missa <strong>na</strong> ermida, passará algum t<strong>em</strong>po a contar a vida do<br />

Tesoureiro mor da sé de Lisboa como ex<strong>em</strong>plo de um santo que o pôde ser no<br />

meio da inquietação da cidade 262 nos t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que <strong>Portugal</strong> já não «florecia<br />

<strong>na</strong> sua idade de ouro, quando a reformação dos costumes era conhecida, e<br />

venerada de todos os reinos estrangeiros, quando o brio, e esforço era t<strong>em</strong>ido, e<br />

respeitado das mais barbaras, e r<strong>em</strong>otas <strong>na</strong>çoens», mas, sim, «já <strong>na</strong> idade de<br />

ferro, quando a virtude se esfriava...» 263 . Para o objectivo destas notas parece<br />

mais importante sublinhar que o Teólogo, depois de ter discorrido sobre a<br />

quietação e rigor do deserto <strong>em</strong> oposição à inquietação do mundo, confessa não<br />

saber «qual gabe primeiro, se a eleição da vida se a do lugar, porque a vida<br />

[er<strong>em</strong>ítica] he a mais perfeita, e o lugar [o] mais accommodado para ella, que eu<br />

vi» 264 , constatações importantes, porque, logo depois, sab<strong>em</strong>os que um<br />

peregrino vindo da Terra Santa <strong>na</strong>rrara ao Ermitão, com muitas circunstâncias<br />

infelizmente omitidas, «que <strong>em</strong> hum deserto achara hum velho de oitenta annos,<br />

de vida muy perfeita, o qual avia sessenta, que vivia <strong>na</strong>quelle lugar,<br />

sostentando-se somente das amendoas de duas amendoeiras que estavão junto<br />

de hüa cova, <strong>em</strong> que de noite ia repouzar, e com todo este rigor, e aspereza do<br />

vestido, e discipli<strong>na</strong>s, que <strong>na</strong> cor de seu rosto b<strong>em</strong> se enchergava, vivera trinta<br />

260 Antonio Carvalho PARADA, Dialogos sobre a vida, e morte... de Bartholameo da Costa, ed.<br />

cit., 10v.<br />

261 Antonio Carvalho PARADA, Dialogos sobre a vida, e morte... de Bartholameo da Costa, ed.<br />

cit., 5v.<br />

262 Antonio Carvalho PARADA, Dialogos sobre a vida, e morte... de Bartholameo da Costa, ed.<br />

cit., 15v.<br />

263 Antonio Carvalho PARADA, Dialogos sobre a vida, e morte... de Bartholameo da Costa, ed.<br />

cit., 16r-16v <strong>em</strong> que aponta ainda, entre «os varios sucessos, que assi <strong>na</strong> paz, como <strong>na</strong> guerra<br />

infelixmente começarão a acontecer, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que Dom Sebastião queria começar a encher o<br />

mundo com as speranças verdes, e nunca maduras de hum novo Imperio, a que se seguiu o lastimoso<br />

caso de sua perdição, entrando o miseravel reino <strong>em</strong> novas desventuras, que nunca nelle acabarão,<br />

faltando en alguns a fé, <strong>em</strong> muitos as virtudes, e <strong>em</strong> quasi todos o antigo culto do divino, e honra<br />

militar, quando os vicios mais authorizados, e respeitados se fortalec<strong>em</strong>, ainda <strong>em</strong> aquelles, que<br />

mais os deviam estranhar...».<br />

264 Antonio Carvalho PARADA, Dialogos sobre a vida, e morte... de Bartholameo da Costa, ed.<br />

cit., 4r.

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