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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 117<br />

quando Deus lhes falou 128 ... Os ex<strong>em</strong>plos confirmam imediatamente que o<br />

deserto para o er<strong>em</strong>ita cristão – como a «quintã» ou o «casal» para imperadores<br />

e heróis romanos ou gregos 129 – é o oposto ao mundo – «segregação das gentes»<br />

– e insinuam que esse deserto, <strong>na</strong> sua extr<strong>em</strong>a radicalidade, é, antes de mais,<br />

uma solidão vivida <strong>em</strong> montanhas..., covas..., lapas..., concavidades da terra 130 ...<br />

e, como Santo Onofre..., Santo Antão ou mesmo S. Jerónimo – de qu<strong>em</strong>, depois<br />

de recordar uma passag<strong>em</strong> da carta ad Heliodorum, se cita um longo e célebre<br />

passo da epístola ad Eustochium 131 –, <strong>em</strong> «asperos e medonhos desertos...»,<br />

«ermos, nova região por onde nunca andara gente, cheia de espantos e terríveis<br />

t<strong>em</strong>ores...» onde «não havia ribeiras deleitosas, n<strong>em</strong> arvores sombrias, mas<br />

grandes penedos,mais tristes e melancolizados que alegres e graciosos ao<br />

parecer da vista» 132 . Aí, «comunicando» com Isaías, com Jer<strong>em</strong>ias, com S. João,<br />

S. Paulo ou com o próprio Christo» quando lê «pelos livros dos santos que o<br />

ensi<strong>na</strong>m e desenga<strong>na</strong>m» 133 ou «conversando com os anjos» 134 – de novo o<br />

tradicio<strong>na</strong>l t<strong>em</strong>a monástico da vida solitária como vida angélica –, no meio<br />

desses profundos silêncios, o silêncio do er<strong>em</strong>ita – «o silencio he o trayo dos<br />

solitários» 135 – permite-lhe «falar com Deos» 136 , ouvindo a voz do próprio Deus<br />

128<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 6, I, 348-349.<br />

129<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 1, I, 307; 4, I,<br />

327, 328; Franco CARDINI – Massimo MIGLIO, Nostalgia del Paradiso. Il giardino medievale,<br />

Bari, 2002, 146, 149, permite, através de algumas miniaturas que ilustram algum códice<br />

quatrocentista dos Dictarum et factorum m<strong>em</strong>orabilium libri IX de Valério Máximo, supreender as<br />

actividades rústicas da vida cont<strong>em</strong>plativa desses grandes que renunciaram, definitiva ou<br />

t<strong>em</strong>porariamente, ao poder, às honras e à vida activa <strong>na</strong>s cidades; com outro fôlego e objectivos,<br />

Danièle DUPORT, Le jardin et la <strong>na</strong>ture. Ordre et variété dans la littérature de la Re<strong>na</strong>issance,<br />

Genève, 2002, 193-224 fornece a compreensão do mesmo t<strong>em</strong>a para o Re<strong>na</strong>scimento;.<br />

130<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 6, I, 349.<br />

131<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 7, I, 354-355.<br />

132<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 7, I, 353-354.<br />

133<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 7, I, 357. Parece<br />

interessante notar que esta deverá ser a única referência explícita à leitura <strong>em</strong> todo o quadro do<br />

er<strong>em</strong>itismo da Imag<strong>em</strong> – o que é muito pouco como valorização de uma ocupação tradicio<strong>na</strong>lmente<br />

recomendada aos solitários cristãos – a começar pelo próprio S. Jerónimo (Epístola ad Rusticum, por<br />

ex<strong>em</strong>plo) – e praticada por filósofos, capitães, imperadores, romanos ou gregos, que da vida da<br />

cidade se retiraram para suas vilas e quintãs, como se aponta, tantas vezes, ao longo do diálogo que<br />

a<strong>na</strong>lisamos. Isto, <strong>na</strong>turalmente, s<strong>em</strong> falar do próprio autor da Imag<strong>em</strong>... que er<strong>em</strong>ita se considerava.<br />

No entanto, convirá ter presente que, como acentuava Santo Agostinho, De doctri<strong>na</strong> christia<strong>na</strong>, I,39,<br />

43 in Obras... (Edición bilingüe), Madrid, 1969, 94, «homo itaque fide, spe et charitate subnixus,<br />

eaque inconcusse retinens, non indiget Scripturis nisi ad alios intruendos. Itaque multi per haec tria<br />

etiam in solitudine sine codicibus vivunt». Interessante seria também estudar a iconografia do<br />

er<strong>em</strong>ita desde esta perspectiva.<br />

134<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 7, I, 355.<br />

135 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 6, I, 351.<br />

136 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 8, I, 365.

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