Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 113<br />
conhecimento dos enganos e vaidades do mundo» 101 –, mas também pelos seus<br />
moradores, anos que aí levavam e origens 102 e pela organização da sua vida 103 e<br />
ainda pela arquitectura interior de cada ermida que t<strong>em</strong> «oratorio, refectorio,<br />
camara, studo, Cister<strong>na</strong>, Iardim, e algüas, Igreja e oratorio particular, com<br />
pateos e entradas, que faz muito mor admiração, tudo mui b<strong>em</strong> lavrado de pedra<br />
e cal ou de ladrilho, com boós retavolos, boas vidraças e boós forros, <strong>em</strong> muita<br />
perfeiçam e limpeza» 104 . E nesses «jardins... plantam algüas arvores, e criam<br />
hervas, que lhes ajudam a sostentar a vida er<strong>em</strong>itica, s<strong>em</strong> ocio perjudicial à suas<br />
almas» 105 . São notas que, fazendo-nos recordar as ermidas de Camaldoli,<br />
traduz<strong>em</strong>, nos seus detalhes, a surpresa de qu<strong>em</strong> imagi<strong>na</strong>va, induzido pela<br />
perspectiva do íngr<strong>em</strong>e caminho, e, talvez, marcado por uma visão<br />
«flossantoresca» do er<strong>em</strong>ita e da sua ermida, encontrar «ermidas tam peque<strong>na</strong>s<br />
que <strong>na</strong>m [seriam] capazes de mais que hum pequeno oratorio <strong>em</strong> que caibam<br />
duas ou tres pessoas» 106 . Mas este aspecto amplo e limpo e de qualidade (« mui<br />
b<strong>em</strong>... boós...boós..., boós..») e aprazível das ermidas – a sua admiração por<br />
estes aspectos traduz-se ainda no seu interesse pelos cálculos dos custos de as<br />
erguer 107 – é proporcio<strong>na</strong>l, contrariamente também ao que se imagi<strong>na</strong>ria pela<br />
lição hagiográfica dos Onofres, dos Antões, dos Cirilos e pela realidade da<br />
<strong>em</strong>inência da localização das construções, ao aspecto real da paisag<strong>em</strong> da serra,<br />
pois, «...<strong>na</strong>m ê por<strong>em</strong> esta serra triste e carregada, mas antes com toda a sua<br />
aspereza que <strong>na</strong>m acabo de dizer, t<strong>em</strong> antre huns rochedos e outros, muita<br />
verdura de arvores bravias que a faz<strong>em</strong> mui deleitosa e aprazivel...» 108 . E este<br />
aprazível não é ape<strong>na</strong>s um tom geral da serra, mas concretiza-se ainda ao longo<br />
das escadas que vão subindo a montanha, já que «algüas d’estas scadas estam<br />
cubertas de arvores que faz<strong>em</strong> sombra ao modo de parreiras, muito proveitosas<br />
no veram aos peregrinos, contra a calma, al<strong>em</strong> de dar muita graça aos lugares<br />
101<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 117r.<br />
102<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 120v: Gaspar Barreiros não visitou a última, a<br />
de S. Jerónimo, «por star muito longe, e [lhe] faltar t<strong>em</strong>po», pelo que <strong>na</strong>da diz sobre o seu er<strong>em</strong>ita.<br />
103<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 121r: «Outra ermida â que se chama sancta A<strong>na</strong>,<br />
á qual <strong>na</strong>m ê contada <strong>em</strong> ó numero d’aquellas que se habitam por ser parrochia das outras, onde os<br />
ermitães vam ouvir missa aos domingos e festas, excepto Natal, Paschoa, e Pentecoste, que sam<br />
obrigados a ir ao mosteiro. E nesta ermida faz<strong>em</strong> capitulo cada mês. Em todas estas ermidas ahi<br />
provimento para celebrar quando quiser<strong>em</strong>, para ó qual tocam hüa campainha, e os mais proximos<br />
ouvindoa, vam ouvir missa...».<br />
104<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 121r.<br />
105<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 120r.<br />
106<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 121r.<br />
107<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 121r: «Dixeram me que se <strong>na</strong>m fazia hüa ermida<br />
d’estas s<strong>em</strong> despesa de mais de mil e quinhentos cruzados, por a dificuldade de levar as achegas da<br />
obra a lugares tam altos e tam trabalhosos de sobir, e que á de Sanct. Hieronymo que sta no mais<br />
alto da serra, custou iij. mil. e . D. ducados».<br />
108<br />
Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 107v.