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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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136 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

d<strong>em</strong>onstrativas ter Gregorio López «venido a braços espiritualmente con èl»,<br />

pela violência dessa luta, pois, alguma vez «le rebentó la sangre por los oydos y<br />

<strong>na</strong>rizes», o que, comenta o biógrafo, «muestra bien lo duro de la pelea, y supone<br />

en otros continuos vencimiento del D<strong>em</strong>onio» 251 . O segundo justificado, de<br />

acordo com o biógrafo que assim o defendia das acusações de instabilidade, por<br />

«el deseo que Gregorio Lopez tenia de no ser conocido, y el cuidado grande con<br />

que andava de encubrir su espiritu, y virtudes heroycas», não passava de uma<br />

«imitaçion de los Ermitaños antiguos, que t<strong>em</strong>iendo ser conocidos, y<br />

reverenciados de los hombres, andavan continuamente en peregri<strong>na</strong>ciones» 252 .<br />

Independent<strong>em</strong>ente da justeza dos traços da biografia exterior e interior de<br />

Gregorio López que traça Francisco Losa, o medalhão <strong>em</strong> que os fixa resulta do<br />

seu esforço <strong>em</strong> apresentar esse delicado e impenetrável er<strong>em</strong>ita que «nunca<br />

descubriò a <strong>na</strong>die quien era, ni qual su vocacion, ni los exercicios mentales en<br />

que entendia» 253 , como uma rigorosa imitação dos Padres do Deserto e que, ao<br />

ser a primeira nos ermos de Nueva España, eleva à categoria de um ex<strong>em</strong>plar.<br />

Reconhecer-se-ia Gregorio López nessa imag<strong>em</strong>? Nunca o saber<strong>em</strong>os. Poderia<br />

defender-se que a única <strong>em</strong> que se reveria seria a de pobre por Cristo, aquela<br />

que perceb<strong>em</strong>os quando à chegada vende os seus bens e distribui o seu preço e<br />

«à partida», no seu testamento, quando declara que <strong>na</strong>da deixa, porque <strong>na</strong>da<br />

t<strong>em</strong>.<br />

Recorramos a mais uma obra hagiográfica para descobrir outro solitário<br />

desses anos, que, por mais «literário», não será menos representativo da imag<strong>em</strong><br />

que dos er<strong>em</strong>itas se fazia por esses primeiros anos de Seiscentos. António<br />

Carvalho Parada (†1655), cuja perso<strong>na</strong>lidade e obra mereceriam mais atenção, a<br />

começar pelo apuramento preciso dos extr<strong>em</strong>os da sua biografia 254 , deixou nos<br />

Dialogos sobre a vida , e morte do muito religioso Sacerdote Bartholameo da<br />

Costa thesoureiro mòr da Sè de Lisboa, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1611, alguns<br />

apontamentos que nos pod<strong>em</strong> ser úteis para captar a imag<strong>em</strong> do er<strong>em</strong>ita à volta<br />

desses anos. E, dada a preparação teológica e jurídica, a sua posição como<br />

arcipreste da catedral lisboeta, e outros cargos honoríficos que veio a<br />

251 Francisco LOSA, Vida que el siervo de Dios Gregorio López..., 8r-8v.<br />

252 Francisco LOSA, Vida que el siervo de Dios Gregorio López..., 17r; b<strong>em</strong> poderia recordar-se<br />

aqui o ex<strong>em</strong>plo de Inácio de Loyola que, segundo relata <strong>na</strong> sua Autobiografia (98) in Ig<strong>na</strong>cio de<br />

LOYOLA, Obras completas, Madrid, 1963, 97-98, «en amaneciendo se partió [de Monserrat] por no<br />

ser conocido, y se fué, no el camino derecho de Barcelo<strong>na</strong>, donde hallaría muchos que le conociesen<br />

y honrasen mas desvióse a un pueblo que se dice Manresa...».<br />

253 Francisco LOSA, Vida que el siervo de Dios Gregorio López..., 16v.<br />

254 Diogo Barbosa MACHADO, Bibliotheca Lusita<strong>na</strong>..., I, ed. cit., 234 que, tanto quanto sab<strong>em</strong>os,<br />

é ainda a nota biobibliográfica mais completa sobre António Carvalho Parada, indica que <strong>na</strong>sceu <strong>em</strong><br />

1595, o que se nos afigura difícil de aceitar, pois se assim fosse, teria escrito os Diálogos sobre a<br />

vida, e morte de ... Bartholameo Costa com 16 anos, o que se não é impossível, é, dada a profusão<br />

de erudição alegada e a maturidade doutrinária, inverosímil, pelo que conviria apurar melhor estes<br />

dados.

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