19.07.2013 Views

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 131<br />

um lugar central <strong>na</strong> sua concepção de vida solitária de nítido recorte<br />

humanistico 215 –, um «lebrel», de qu<strong>em</strong> faz o elogio 216 , que lhe serve de guarda<br />

e o ajudará durante uma noite de t<strong>em</strong>pestade, e um moço que serve para lhe<br />

levar os livros quando, «con mis mangas y faldiqueras lle<strong>na</strong> de libros, y un<br />

moço con otros, papel y tinta, y a vezes solo, llevandolo, yo todo, [se va] por<br />

estas pen<strong>na</strong>s, y riscos, passeando, y rezando, o, estudiando, y en las differencias,<br />

y virtudes de las yerbas, y plantas considerando, y a vezes dellas (para<br />

aprovechar à los enfermos) cogiendo» 217 . B<strong>em</strong> vistos meios e fins, comprendese<br />

que, para os tranquilizar, pudesse garantir aos seus amigos religiosos que<br />

«[su] habitacion no es tan mala como la pintan» 218 . No exterior da sua «cova»,<br />

t<strong>em</strong> ainda, posta numa «peñuela», uma cruz grande, com alguns versos devotos,<br />

que, algumas vezes, lhe serve de oratório 219 , e que assim completa a sua imag<strong>em</strong><br />

de er<strong>em</strong>ita e do seu ermo que, cuidadosamente, procura fixar no seu tratado.<br />

Seria, se tal fosse o nosso objectivo, muito interessante evocar aqui a sua vida<br />

ao longo do dia – de manha, à tarde e à noite – e as suas orações 220 e outros<br />

exercícios, mas o que convirá ainda reter é não só a sua constante referência à<br />

liberdade do er<strong>em</strong>ita 221 – um t<strong>em</strong>a essencial do er<strong>em</strong>itismo que pode reforçar,<br />

vertendo-as «ao divino», com recurso a pági<strong>na</strong>s de Menosprecio de corte y<br />

alabanza de aldea e de Aviso de Privados –, mas também a sua a afirmação de<br />

las cosas de la tierra, como son aquellos virtuosos exerçiçios de que suelen usar en las fiestas de<br />

grandes pueblos, como los juegos y exerçicios de los cavallos, de las cañas, de los toros, de la<br />

sortija, de las justas, o torneos, y otors de cosas s<strong>em</strong>ejantes, en los libros los halla, y ellos se lo<br />

enseñan y muestran por theorica».<br />

215<br />

Como já vimos Fr. Benito Tocos <strong>em</strong> Monserrat tinha a sua ermida cheia de livros, o que<br />

encantou o humanista Gaspar Barreiros.<br />

216<br />

Cristoval ACOSTA, Tratado en contra, y pro de la vida solitaria, ed. cit., 99v-100r.<br />

217<br />

Cristoval ACOSTA, Tratado en contra, y pro de la vida solitaria, ed. cit., 97r-97v.<br />

218<br />

Cristoval ACOSTA, Tratado en contra, y pro de la vida solitaria, ed. cit., 86v.<br />

219<br />

Talvez não passe de uma simples – e curiosa – coincidência, mas ao ler a descrição da rocha<br />

com a cruz no exterior da caver<strong>na</strong> de Acosta, é fácil recordar as pinturas <strong>em</strong> que S. Jerónimo surge<br />

orando diante de um crucifixo no entorno da sua caver<strong>na</strong>, como, aliás, mostra D. RUSSO, Saint<br />

Jérôme en Italie..., ed. cit., fig.s 36, 38, 39, 44.<br />

220<br />

Cristoval ACOSTA, Tratado en contra, y pro de la vida solitaria, ed. cit., 98r assi<strong>na</strong>la que reza<br />

o oficio divino completo; 116v, as suas orações da noite, com destaque para a oração de Santo<br />

Anselmo à Virg<strong>em</strong>, de que cita correctamente o incipit (Sancta inter sanctos post Deum singulariter<br />

Sancta maria mater admirabilis virginitatis,...) (P.L., CLVIII, 948-950).<br />

221<br />

Cristoval ACOSTA, Tratado en contra, y pro de la vida solitaria, ed. cit., 97v: «Aqui libre y<br />

apartado destas y dotras quexas, passeandome contento...»; 103r: «deste bien y libertad gozamos en<br />

esta soledad, que pod<strong>em</strong>os en ella rezar a voces y en secreto. Aqui pod<strong>em</strong>os subir al monte , como<br />

hizo Moysen, quando se aparto del pueblo y subio al monte Sancto, y alli ayuno derramando muchas<br />

lagrimas, y oro, rompiendo los çielos con suspiros»; 103v: «Pod<strong>em</strong>os en esta soledad usar, y gozar,<br />

con mas libertad, (que en poblado) de las cerimonias en rezando, que nos son permitidas, y<br />

mostradas por Dios»; 115v: «Tienen mas los solitarios, que son sennores de si mismos y no estan<br />

subjectos a neçios, soberbios,vanos, locos, profanos, ento<strong>na</strong>dos, o, desbocados, mentirossos,<br />

reboltosos, desleales, cautelossos, y traydores».

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!