Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 123<br />
ouvir o futuro Mariano de San Benito descrever-lhe o estilo de vida que<br />
levavam no deserto de Tardón – «tenía cada uno su celda y aparte, sin decir<br />
oficio divino, sino un oratorio adonde se juntavan a misa, ni tenían renta ni<br />
querían recibir limos<strong>na</strong> ni la recibían, sino de la lavor de sus manos se<br />
mantenían y cada uno comía por si harto pobr<strong>em</strong>ente» – e vincar o seu desejo<br />
de continuar a «vivir de la lavor de sus manos, que era a lo que él mucho se<br />
incli<strong>na</strong>va, diciéndo [le] que estava el mundo perdido de codicia y que esto hacia<br />
no tener en <strong>na</strong>da a los religiosos», comprend<strong>em</strong>os que b<strong>em</strong> que a Teresa de<br />
Jesus lhe parecesse estar diante de «el retrato de nuestros santos padres» 170 . O<br />
mesmo se diga da fundação de Duruelo <strong>em</strong> cuja pobríssima e sujíssima casa<br />
primitiva só a imagi<strong>na</strong>ção estratégica da Santa conseguia descobrir as<br />
possibilidades de arranjo e adaptação para morada de três ou quatro frades,<br />
ape<strong>na</strong>s ricos de cinco relógios – coisa a que Madre Teresa achou muita graça –,<br />
e de cruzes e caveiras. De resto, tendo deixado radicalmente o mundo, os dois<br />
primeiros habitantes – Fr. António de Jesús e o futuro S. Juan de la Cruz –<br />
aceitaram «meterse en aquella soledad [...] parecendolhes que «estavan en<br />
grandes deleites». Para justificação de tão pobre casa, Teresa de Jesús apela de<br />
novo à imitação de «nuestros fundadores verdaderos, que son aquellos santos<br />
padres donde descendimos, que sab<strong>em</strong>os que por aquel camino de pobreza y<br />
humildad gozan de Dios» 171 . Em Villanueva de la Jara, cuja casa «está en un<br />
desierto y soledad harto sabrosa», comoveu-se quando viu os padres que saíam a<br />
recebê-la, «descalzos y con sus capas pobres de sayal, pareciéndo[le] estar en<br />
aquel florido ti<strong>em</strong>po de nuestros santos padres». A própria igreja, cuja «entrada<br />
de ella es debajo de tierra – como por u<strong>na</strong> cueva – representava [lhe] la de<br />
nuestro padre Elías» 172 . Não vale a pe<strong>na</strong> referir outros textos <strong>em</strong> que a imag<strong>em</strong><br />
dos Padres do deserto – bíblico, sobretudo – serve de pauta e modelo para a<br />
actualização dos mosteiros e conventos do Carmelo de Teresa de Jesús, mas terá<br />
interesse verificar que se a pobreza e, <strong>em</strong> alguns casos, mesmo a rudeza das<br />
casas – um ponto <strong>em</strong> que s<strong>em</strong>pre se mostrou intransigente –, os lugares de<br />
implantação das suas fundações – especialmente, talvez, das f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong>s –<br />
estavam longe de corresponder ao ícone do deserto pobre e sylvaticus, pois<br />
s<strong>em</strong>pre pôs um cuidado especial <strong>em</strong> que as suas casas se fundass<strong>em</strong> <strong>em</strong> sítios<br />
com possibilidades de jardim... e, s<strong>em</strong>pre que possível, com boas vistas. Se a<br />
propósito da compra da casa de Salamanca informa a D. Teotónio de Bragança<br />
que «como le [al propietario] den más, se contentará, porque el puesto es muy<br />
bueno y puédense [las monjas] ensanchar [...] y está bonita la iglesia. En fin, lo<br />
del puesto es lo principal, que de lo d<strong>em</strong>ás no se me daría mucho perder lo<br />
170 Teresa de JESÚS, Fundaciones,17 (6-9) in Obras Completas..., ed. cit., 541-542.<br />
171 Teresa de JESÚS, Fundaciones,13-14 in Obras Completas..., ed. cit., 531-533.<br />
172 Teresa de JESÚS, Fundaciones, 28 (20) in Obras Completas..., ed. cit., 583.