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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 121<br />

t<strong>em</strong>po divulgou 161 –, mas anot<strong>em</strong>os como esse desenga<strong>na</strong>do penitente, er<strong>em</strong>ita<br />

caracterizado pela pobreza de hábito e pela rudeza da sua lapa que, durante a<br />

noite, é o seu sepulcro, se desterrou num locus amo<strong>em</strong>us – as «alimárias» não<br />

tiram amenidade ao lugar e, a outro nível de leitura, poderiam até ter um valor<br />

simbólico – que, apesar de tudo, contrariamente ao que poderia pensar-se – e<br />

que tanto a tradição dos Padres do deserto como a medieval não confirmam de<br />

modo absoluto 162 – não estava longe de povoados, pois saía a pedir esmola, e<br />

mantinha contacto com «outro ermitão, que [vivendo] noutra ermida, dahi dous<br />

ou tres tiros de besta, vinha alli os domingos e dias santos dizer missa» 163 .<br />

Também neste ex<strong>em</strong>plum, o que importa destacar é o valor do ermo – amoenus<br />

ou sylvester – como meio de solum inquirire Deum propter ipsum solum. Os<br />

próprios antigos filósofos – escreve Heitor Pinto elaborando, a propósito do<br />

«contentamento da vida solitária», o tópico humanista da pristi<strong>na</strong> philosophia –<br />

deixando «as cidades, e [indo-se] a suas quintas e lugares apartados, onde cada<br />

hum andava communicando consigo mesmo [...] caso que buscass<strong>em</strong> sombras,<br />

ribeiras graciosas, vales amenos, altos alimos, sombrios freyxos, suaves cantos<br />

das aves, o soidoso som dos quebrados das agoas, o rugido dos ventos que<br />

zuniam <strong>na</strong>s concavidades das rochas, tudo isto faziam, não somente pera seu<br />

gosto, mas também pera que estas cousas os excitass<strong>em</strong> ao assossego do animo<br />

e tranquilidade da vida» 164 .<br />

Ainda que as relativamente abundantes referências de Santa Teresa de<br />

Jesus a er<strong>em</strong>itas e os seu estilo de vida sejam b<strong>em</strong> conhecidas, talvez valha a<br />

pe<strong>na</strong> olhá-las por essa brecha que se abre entre a imag<strong>em</strong> por que os cont<strong>em</strong>pla<br />

– vê-os pintados <strong>em</strong> retábulos ou escritos <strong>em</strong> livros e vê, muitas vezes, a<br />

161 Beatriz CHENOT, Presencia de ermitaños en algu<strong>na</strong>s novelas del Siglo de Oro in Bull.<br />

Hispanique, 82 (1980), 59-80 a<strong>na</strong>lisa a figura do er<strong>em</strong>ita <strong>em</strong> Francisco de las CUEVAS (pseudónio<br />

de Francisco de Quinta<strong>na</strong>), Experiencias de amor y de fortu<strong>na</strong>, 1624; Jerónimo FERNÁNDEZ DE<br />

MATA, Soledades de Amelia, 1638; Rodrigo Correa y CASTELO BRANCO (pseudónimo do<br />

português Fr. Simón de Castelo Branco, O.S.A.), Trabajos del vicio y afanes de la virtud, 1680, uma<br />

«pequeña porción de obras [que] presentam al ermitaño rodeado de determi<strong>na</strong>das circunstancias, que<br />

ponen de relieve su vida ascética, su caridad, su sabiduria, de u<strong>na</strong> manera noble por decirlo así»<br />

(60); a estas referências, poderíamos juntar ainda aquele antigo soldado de Lepanto que,<br />

desenga<strong>na</strong>do das recompensas do mundo, aparece <strong>em</strong> Cristóbal SUÁREZ DE FIGUEROA, El<br />

pasajero. Advertencias utilissimas a la vida huma<strong>na</strong>, Madrid, Luis Sanchez, 1617, Alivio VII (Ed.<br />

de Maria Isabel López Bascuña<strong>na</strong>, Barcelo<strong>na</strong>, 1988, II, 464-476).<br />

162 García M. COLUMBAS, El mo<strong>na</strong>cato primitivo, ed. cit. I, 64 refere que <strong>na</strong>s Vidas de S.<br />

Pacómio, Santo Antão afirma: «Cuando me hice monje no existía en todo el mundo ningu<strong>na</strong><br />

comunidad [monástica] para que también yo pudiera vivir comunitariamente, sino que había<br />

perso<strong>na</strong>s que individualmente se retiraban un poco fuera de su pueblo y vivian apartadas; he aquí<br />

por qué también yo he vivido en la vida a<strong>na</strong>corética».<br />

163 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da tribulaçam, 7, I, 292.<br />

164 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da tranquilidade da vida, 16, II,<br />

110.

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