19.07.2013 Views

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

140 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

O último texto a que recorrer<strong>em</strong>os para tentar perceber a imag<strong>em</strong> que a<br />

literatura de espiritualidade ibérica propunha do er<strong>em</strong>ita será o já referido<br />

Ex<strong>em</strong>plo de solitarios, y vida ex<strong>em</strong>plar del Hermano Martìn, solitario en el<br />

Bosque del Albayda por Juan de Undiano (†1633) 268 cuja primeira edição<br />

r<strong>em</strong>onta a 1620. O tratadito, de 13 folios (= 26 pági<strong>na</strong>s) é um precioso<br />

documento evocando, com uma precisão rara, as circunstâncias concretas –<br />

organização da sua er<strong>em</strong>ita..., costumes e hábitos ascéticos..., leituras..., etc. –<br />

da vida de um er<strong>em</strong>ita à volta de 1576-1577 pelo test<strong>em</strong>unho de alguém que<br />

com ele conviveu durante um ano e meio 269 no seio de uma comunidade de 10<br />

er<strong>em</strong>itas «independentes» 270 , isto é, não regidos – então – por uma constituição<br />

de carácter cenobítico, à sombra do convento franciscano de stricta observancia<br />

de Arrizafa (Córdova) 271 . Escrita à volta de 1620 – teria o autor cerca de 64 anos<br />

–, por tal evocação perpassa uma evidente nostalgia desses t<strong>em</strong>pos aí vividos<br />

(1576-c.1580 272 ), que o correr dos anos e a comparação de práticas da vida<br />

solitária tor<strong>na</strong>m mais evidente e estimuladora de críticas e reformas 273 .<br />

Deix<strong>em</strong>os, por agora, o lugar preciso, pois para além de alusões a penhascos,<br />

covas e celas longe umas das outras 274 , o bosque de Albayda não aparece<br />

respigar ao longo da sua clássica obra, tal como David Teniers II, com o seu «Paisag<strong>em</strong> com um<br />

er<strong>em</strong>ita a ler» que reproduz Alain SAINT-SAËNS, Valets de Dieu, suppôts du Diable..., ed. cit., 53.<br />

268 Alain SAINT-SAËNS, Valets de Dieu, suppôts du Diable..., ed. cit., 110 (e nota 837) transcreve<br />

um extrato de um documento contra um certo Juan de Undiano <strong>em</strong> 1621 que deverá referir-se ao<br />

nosso er<strong>em</strong>ita e autor quando já <strong>em</strong> Navarra onde se <strong>em</strong>penha <strong>na</strong> reforma dos er<strong>em</strong>itas desse reino.<br />

269 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 5v, 6r.<br />

270 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 12r-13v traz uma breve relação biográfica<br />

dos 10 er<strong>em</strong>itãos que viviam no bosque de Albayda <strong>em</strong> 1576-1577 e aí permite ver, entre outros<br />

aspectos curiosos, a variedade do vestir dos er<strong>em</strong>itas que, então, povoavam o Bosque de Albayda:<br />

Fr. León, um italiano, douto, assíduo leitor de S. João Clímaco, vestia «de brurel, sin escapulario»;<br />

Fr. Juan Henrique, «que avia sido tratante de ga<strong>na</strong>do gra<strong>na</strong>do y menudo», «no trayà su vestido a<br />

modo de abito, sino de labrador...»; Diego Gómez, sacerdote, «traya su abito ordi<strong>na</strong>rio negro, de<br />

Clerigo...»; o Irmão Alonso, antigo conde<strong>na</strong>do à forca, usava «bestido sobre las carnes, u<strong>na</strong> suta<strong>na</strong><br />

larga hasta el suelo hecha de esparto, con los peçones, ó cabos para dentro...», hábito que depois,<br />

aconselhado por Juan de Undiano, veio a deixar; Martín de Cristo levava um «sayal pardo, como el<br />

de los Franciscos Recoletos, y un escapulario ancho quanto era el sayal, à manera de capote, con dos<br />

haldas, sin capillo, y en el ivierno traya capa larga del mismo sayal con Capillo» (8r) e de nenhum<br />

deles se diz que usasse báculo, referindo-se explicitamente, que Martín de Cristo não o<br />

usava.Talvez, seja interessante ler estes dados no contexto da atenção que Alain SAINT-SAËNS,<br />

Valets de Dieu, suppôts du Diable, ed. cit., 25-30 dedica à indumentária dos ermitãos.<br />

271 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 3r, 3v; dos franciscanos recebiam os<br />

er<strong>em</strong>itas esmola, apoio espiritual e conselhos para questões litigiosas com gente exterior à<br />

comunidade, e <strong>na</strong> sua igreja ouviam missa os Domingos e dias de guarda. E o próprio «vestido era<br />

de sayal pardo oscuro como el de los Franciscos Recoletos».<br />

272 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 13v. parece dar a entender que abandonou<br />

esse er<strong>em</strong>itório à volta de 1580, se entendermos por referência a 1620 os quarenta anos <strong>em</strong> que diz<br />

tê-lo deixado.<br />

273 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 4r.<br />

274 Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 3r-3v.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!