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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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142 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

de aconselhar a Juan de Undiano 288 . Como todos, já que todos, cada um a seu<br />

modo e possibilidades – trabalho manual..., esmolas enviadas..., o pecúlio que<br />

tinham levado tinham para ao ermo 289 , meios a que havia que juntar o que<br />

ganhavam com o trabalho... – eram obrigados a prover a seu sustento 290 , Martín<br />

de Cristo também «algunos ratos trabajaba de manos» que, como outros, vendia<br />

<strong>na</strong>s raras vezes que ía a Cordova 291 . E hav<strong>em</strong>os de concordar que necessitaria de<br />

pouco dinheiro qu<strong>em</strong> comia, como quase todos também, uma vez por dia 292 ,<br />

quase s<strong>em</strong>pre pão..., ervas ou legumes cozidos..., algumas passas s<strong>em</strong> pão..., um<br />

cacho de uvas por s<strong>em</strong>a<strong>na</strong> 293 ..., qu<strong>em</strong> não dava esmolas para não ser<br />

importu<strong>na</strong>do 294 e ape<strong>na</strong>s tinha uma panela, uma sertã e um cantarito, dormia<br />

entre duas peles de carneiro ou <strong>em</strong> uma esteira de esparto, segundo a estação.<br />

Para além de uma cruz de pau, curiosamente como Gregorio López, não tinha<br />

<strong>imagens</strong> n<strong>em</strong> estampas <strong>na</strong> sua cela, não possuía rosário e ape<strong>na</strong>s dois livros 295<br />

que, aliás, não lia orde<strong>na</strong>damente 296 ...<br />

Juan de Undiano <strong>na</strong>da diz da paisag<strong>em</strong> <strong>em</strong> que estava implantado o<br />

er<strong>em</strong>itório, mas sab<strong>em</strong>os que o bosque era, de acordo com as descrições do<br />

século XVII, um recanto de uma fertilissima devesa, com oliveira, carvalhos,<br />

videiras, macieiras, laranjeiras, limões, etc., que nos r<strong>em</strong>ete, uma vez mais, do<br />

locus amoenus 297 que <strong>na</strong>da t<strong>em</strong> a ver com o bosque romântico 298 ... E se este<br />

288<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 6v: «Asiste, asiste en tu celda, por amor de<br />

Dios, que el te ensenãrá à obrar».<br />

289<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit. 4r; um dos que se sustentava «de lo que<br />

llevaron quando alla se recogieron» era o Irmão Juan Henrique, antigo comerciante de gado, que,<br />

além do que ganhava com o seu trabalho manual, se mantinha, «de lo que llevò consigo quando alli<br />

se recogió, y lo tenia en deposito en tercera perso<strong>na</strong>» (12 v).<br />

290<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 4v, 11r.<br />

291<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 11r.<br />

292<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 4r, 6r.<br />

293<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 4r, 6r, 7v.<br />

294<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 9r: «En otra ocasion me aconsejò, no<br />

diesse limos<strong>na</strong> à los que yvan a mi Celda à pedir, pues se les dava en el Convento la limos<strong>na</strong><br />

ordi<strong>na</strong>ria, porque si yo los ponia en esta costumbre me inquietarian, avisando unos à otros, y<br />

acudirian muchos...».<br />

295<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 8r, 11r, 7v; os livros eram um «de Vitas<br />

patrum, escrito de mano, de antes que huviesse impression, con el Romance, o lenguaje antiguo,... y<br />

la suvida del Monte Sion, de la primera impression» (7v).<br />

296<br />

Juan de UNDIANO, Ex<strong>em</strong>plo de solitarios..., ed. cit., 7v: «Preguntome mas, si leya mucho,<br />

dixele que si, y el dixo: pues yo no, sino quando tomo el Libro digo Dios me enseñe su voluntad, y<br />

donde quiere que abro voy leyendo, y en hallando donde se cebe mi voluntad, cierro el Libro, y en<br />

aquello me <strong>em</strong>pleo».<br />

297<br />

Antonio GUZMÁN REINA, Córdoba, siglo XVII, Málaga, 1966 traz algumas descrições da<br />

paisag<strong>em</strong> <strong>em</strong> que se inseria «El bosque de los ermitaños» que aproveita Rafael de HARO<br />

SERRANO, <strong>na</strong> Introdução à edição do Ex<strong>em</strong>plo de Hermitaños (18-19) donde colh<strong>em</strong>os as<br />

referências do texto.

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