19.07.2013 Views

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 85<br />

Independent<strong>em</strong>ente do que possa colher-se <strong>em</strong> referências bibliográficas para a<br />

alta Idade Média, para o século XII português os estudos de José Mattoso<br />

pod<strong>em</strong> ser um excelente ex<strong>em</strong>plo de método e resultados que, ao que sab<strong>em</strong>os,<br />

ainda não foram superados.<br />

Não é, contudo, para estes t<strong>em</strong>pos medievais que quer<strong>em</strong>os chamar a<br />

atenção, mas, sim, saltando séculos, fazer um esboço da situação do er<strong>em</strong>itismo<br />

de tipo a<strong>na</strong>corético <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> para os t<strong>em</strong>pos modernos, uns t<strong>em</strong>pos<br />

modernos de que, desde a nossa perspectiva, poderá datar-se o começo a partir<br />

do fim do Cisma do Ocidente, isto é, de 1418 – um fim que, é certo, só o será<br />

completamente depois da deposição de Félix V <strong>em</strong> 1449 – e que se estenderão,<br />

com base nos test<strong>em</strong>unhos recolhidos, até meados do século XVIII. Uma «longa<br />

duração» <strong>em</strong> que o er<strong>em</strong>itismo in stricto sensu, aqui como <strong>em</strong> outras regiões<br />

europeias, pervive e, mercê da vontade reformista que se acentua ao longo do<br />

mostra, por si só, a necessidade da atenção ao sentido do termo e ao seu contexto. José MATTOSO,<br />

Er<strong>em</strong>itas portugueses no século XII in Religião e cultura <strong>na</strong> Idade Média portuguesa, ed. cit., 106<br />

chamou já a atenção para a necessidade de ter <strong>em</strong> conta esta distinção, tal como B. NOBILE,<br />

«Romiti» e vita religiosa nella cro<strong>na</strong>chistica italia<strong>na</strong> fra ‘400 e ‘500 in Cristianesimo nella Storia, 5<br />

(1984), 303-340 pondera que «sono chiare le difficoltà di u<strong>na</strong> ricerca che tenti di definire il<br />

fenomeno dei romiti, in primo lugo per l’equivocità del termine usato nelle fonti tanto per indicare<br />

gli er<strong>em</strong>iti ritiratisi in luoghi solitari, quanto coloro che, pur conducendo vita mo<strong>na</strong>stica al di fuori<br />

degli ordini costituiti, risiedevano in città, presso cappelle oppure ospedali, tanto gli itineranti, sai<br />

che fossero dediti alla sola preghiera e penitenza, sai che compissero opere di carità, sai che<br />

predicassero. L’unico tratto comune a questi perso<strong>na</strong>gi cosi diversi pare essere la penitenza publica<br />

voluntaria, espressa anche nell’aspetto fisico». (306) Por estas razões e por uma questão de clareza –<br />

a possível, <strong>na</strong>turalmente –, <strong>em</strong>pregar<strong>em</strong>os, aqui, s<strong>em</strong>pre er<strong>em</strong>ita, estabelecendo a distinção<br />

contextual com ermitão quando parecer necessário... Em Braga, <strong>em</strong> 17.7.1777, ainda era concedida,<br />

por três anos, <strong>em</strong> nome do arcebispo D. Gaspar de Bragança, uma «Licença para hermitão e pedir<br />

esmolas a favor do Irmão Miguel de Jesus da freguesia de Ganfei», com as exigências de manter a<br />

ermida de Nossa Senhora do Faro «muito limpa e asseada» e de aceitar a prestação de contas ao<br />

Visitador que, aliás, também devrá inquirir sobre a «vida, costumes e obrigação» do ermitão.<br />

(Agradeço à Senhora Drª. D. Maria Fátima Castro, diligentíssima conhecedora dos arquivos da<br />

Mitra Bracarense, a revelação e transcrição deste precioso documento). Alain SAINT-SAËNS,<br />

Valets de Dieu, suppôts du Diable. Ermites et Réforme catholique dans l’Espagne des Habsbourg<br />

(1550-1700), Presses Universitaires du Nouveau Monde, 1999 estudou com notável sist<strong>em</strong>atização<br />

e recurso a vasta documentação arquivística e literária, o er<strong>em</strong>itismo espanhol por referência aos<br />

«gardiens d’ermitage», isto é, aos ermitãos, se b<strong>em</strong> que, alguma vez, inclua algum er<strong>em</strong>ita, como<br />

aquele que, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> 1590, vivia numa cova <strong>em</strong> Argamasilla (27, nª 154)... O mesmo<br />

poderia dizer-se do er<strong>em</strong>ita-peregrino que, apesar de algum o ter sido por breve t<strong>em</strong>po (104), não<br />

cabe propriamente <strong>na</strong> categoria dos «gardiens d’ermitage»... Também Justo PÉREZ DE URBEL,<br />

«<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong>» in AA. VV., Diccio<strong>na</strong>rio de Historia Eclesiástica de España (dir. de Q. Aldea<br />

Vaquero, T. Marín Martínez y J. Vives Gatell), II, Madrid, 1972, 801-804 mantém, sobretudo para<br />

os t<strong>em</strong>pos modernos, a mesma ambiguidade ao invocar os milhares de ermidas que, tal como<br />

contabiliza A. Saint-Saëns, cobriam Espanha. Pedro LETURIA, Damas vascas en la formación de<br />

Ignigo in Estudios Ig<strong>na</strong>cianos – I – Estudios biográficos, Roma, 1957, 75, enumera, por referência à<br />

região de Loyola, as funções e obrigações da «seroa» («”beatas” o “freiras” en castellano»), mas a<br />

sua descrição deverá valer para outras regiões, tradições e cronologias, e, <strong>na</strong>turalmente, como<br />

mostrou Alain Saint-Saëns, para os «ermitaños».

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!