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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 115<br />

mais que artifícios para colmatar a solidão, de uns e de outros aproveitando as<br />

lições. E se os primeiros, os livros, confirmariam o er<strong>em</strong>ita <strong>na</strong> graça que Deus<br />

lhe deu de engeitar a «vaidade do mundo», as gralhas, como parte do livro da<br />

Natureza, «com o barbaro arruido de suas vozes, t<strong>em</strong> <strong>na</strong>m sei que efficacia, que<br />

mais se sente que se pode dizer, com que os corações se alevantam, acerca da<br />

consideraçam das obras maravilhosas de Deos» 115 . Assim o pensava também,<br />

como, aliás o diz o futuro franciscano, Fr. Egídio, «discipulo do Seraphico padre<br />

sanct. Francisco, que ó cantar das gralhas ó amoestava acerca do que n’este<br />

mundo avia de fazer, para alcançar a gloria do outro» 116 . Apesar de dizer que<br />

«<strong>na</strong>m sei coraçam mais duro que estas rochas, que vendoas <strong>na</strong>m deseje fazer sua<br />

habitaçam <strong>em</strong> companhia d’estes servos de Deos 117 », ele veio a preferir uma<br />

solidão menos «nua».<br />

Um outro bom ex<strong>em</strong>plo da visão da vida er<strong>em</strong>ítica por estes dias<br />

modernos pod<strong>em</strong>os recolhê-la <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s que Heitor Pinto, O.S.H., dedica ao<br />

t<strong>em</strong>a quer <strong>na</strong> «Primeira parte» (Coimbra, João Barreira, 1563) quer <strong>na</strong> «Segunda<br />

parte» (Lisboa, João Barreira, 1572) da sua Imag<strong>em</strong> da vida christã. Na<br />

primeira, além de o tratar <strong>em</strong> capítulos do Dialogo da religiam e do Dialogo da<br />

tribulaçam, dedica-lhe todo um diálogo – Dialogo da vida solitaria – e <strong>na</strong><br />

segunda volta ao assunto tanto no Dialogo da tranquilidade da vida como ainda<br />

no Dialogo dos verdadeiros e falsos bens. E pela obra, a começar pelo Dialogo<br />

da verdadeira philosophia – o diálogo de abertura de toda a obra – , vários<br />

er<strong>em</strong>itas perpassam pela Imag<strong>em</strong>, como se podia esperar de alguém cuja ord<strong>em</strong><br />

se reclamava da herança de S. Jerónimo 118 , figuras <strong>em</strong> que, alguma vez s<strong>em</strong><br />

dificuldade, poderíamos ver o próprio autor. De qualquer modo, a lição da vida<br />

solitaria, mesmo se envolvida <strong>em</strong> vestes de larguíssima erudição, v<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

dada como fruto de uma meditada experiência, o que lhe pode conferir um valor<br />

acrescentado. A<strong>na</strong>lisar<strong>em</strong>os, como ponto de partida, o Dialogo da vida solitária<br />

– que melhor se diria dos louvores da vida solitária –, tentando descorti<strong>na</strong>r a<br />

«imag<strong>em</strong>» do er<strong>em</strong>ita que aí, mesmo se indirectamente, se desenha,<br />

115 Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 120r.<br />

116 Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 120r.<br />

117 Gaspar BARREIROS, Chorographia..., ed. cit., 120r.<br />

118 Cândido A. dos SANTOS, Os jerónimos <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>. Das origens aos fins do século XVII,<br />

Porto, 1980; Jos<strong>em</strong>aría REVUELTA SOMALLO, Los jerónimos. U<strong>na</strong> orden religiosa <strong>na</strong>cida en<br />

Guadalajara, Guadalajara, 1982; José Adriano de Freitas CARVALHO, Nas origens dos jerónimos<br />

<strong>na</strong> Península Ibérica: do franciscanismo à ord<strong>em</strong> de S. Jerónimo – O itinerário de Fr. Vasco de<br />

<strong>Portugal</strong> in Revista da Faculdade de Letras. Série Línguas e Literaturas, IIª Série, I (1984), 11-131<br />

<strong>em</strong> que se elaboram algumas notas sobre as duas obras anteriormente citadas; Arne JÖNSSON,<br />

Alfonso of Jaén. His life and works with critical edtions of the «Epistola solitari», the<br />

«Informaciones» and the «Epistola servi Christi», Lund, 1989; Mario SENSI, Dal movimento<br />

er<strong>em</strong>itico alla regolare osservanza francesca<strong>na</strong>. L’opera di Fra Paoluccio Trinci, Assisi, 1992, 26-<br />

48, pági<strong>na</strong>s fundamentais; Alfonso Pecha e l’er<strong>em</strong>itismo italiano di fine sec. XIV in Rivista di Storia<br />

della Chiesa Italia<strong>na</strong>, 47 (1993), 55-80.

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